IRB, Magalu, BRF…. Confira as 10 ações mais populares dos investidores, mas que estão em queda livre em 2022
Entre as empresas estão companhias do setor varejista, educação, bancos, telecomunicações, entre outras
Enquanto casas de análises como Bank of America (BofA), XP Investimentos, Ativa e Guide Investimentos reforçam previsões mais positivas para a Bolsa em 2022 – entre 130 e 135 mil pontos até dezembro – ações de dez empresas brasileiras muito conhecidas pelo público e pelos investidores estão amargando perdas entre 19% e mais de 60% no período, segundo levantamento da Economatica.
Entre elas estão nomes como Banco Inter, BRF, Cogna, Irb Brasil, Magazine Luiza, Méliuz, Oi, entre outras. A pergunta que fica é: o momento é de compra ou venda desses papeis?
Segundo os especialistas entrevistados pela Mais Retorno, a resposta é: depende do resultado de cada uma delas. “Uma queda pode ser uma oportunidade. Vimos isso em março de 2020 quando a pandemia se tornou uma realidade. Mas toda queda é uma oportunidade? Com certeza não”, diz a Guide Investimentos em relatório sobre o assunto.
Cenário desafiador
Segundo Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren Asset, essas empresas têm dois pontos em comum: ou são companhias de crescimento ou estão em um momento de reestruturação.
Soma-se isso ainda, de acordo com Nobre, o mercado penaliza esse tipo de papel por conta da baixa liquidez do mercado atualmente, com fuga dos ativos de risco.
“Estamos vivendo um cenário de alta inflação no mundo todo, juros elevados e liquidez apertada. Isso faz com que os investidores prefiram empresas de valor, mais sólidas e que paguem dividendos”.
Frederico Nobre, da Warren Asset
As 10 ações queridas dos brasileiros que mais caíram em 2022
Empresa | Ticker | Variação em 12 meses | Variação em 2022* |
Banco Inter | BIDI11 | -82,45% | -61,05% |
BRF | BRFS3 | -46,46% | -33,88% |
Cogna | COGN3 | -44,08% | +3,66% |
Natura | NTCO | -69,47% | -33,13% |
Irb Brasil | IRBR3 | -54,68% | -31,34% |
Magazine Luiza | MGLU3 | -84,69% | -55,20% |
Méliuz | CASH3 | -73,73% | -50,00% |
Oi | OIBR3 | -60,90% | -19,74% |
Via | VIIA3 | -80,31% | -42,67% |
Nubank | NUBR33 | - | -61,87 |
*Período entre 1 de janeiro a 8 de junho de 2022
Confira a análise de algumas das ações que mais caíram em 2022
Via (VIIA3): consumo em queda
A partir do segundo semestre de 2021, com o aumento dos juros, as ações da Via começaram um movimento de queda, refletindo as expectativas do mercado em relação a uma economia mais fraca e de menor consumo, segundo a Guide.
Entretanto, alguns fatores internos – como provisões trabalhistas e ajustes não recorrentes, aliados a dificuldades no processo de turnaround – aceleraram esse processo. “Em 2021, as ações da varejista caíram 67% e, no acumulado do ano de 2022, as ações caem mais 51%”.
Para os analista da casa, os papeis da Via estão baratos, porém embute riscos. “As ações da Via estão 30% abaixo de sua média histórica, 12x Ebtida, o que pode ser considerado uma potencial oportunidade. Porém, acreditamos que a diferença de preços se dá por riscos percebidos pelo mercado”, ressaltam.
Inter (BIDI11): base de clientes dobra de tamanho
O Banco Inter vem dobrando sua base de clientes desde 2020 – saiu de 4 milhões para 16 milhões nesse período e tem como meta adicionar 8 milhões somente em 2022.
Para os analistas da Guide, este ano será um momento de transição para a companhia, no qual o Inter “vai se aproximando do tamanho ideal de sua estrutura – o que desacelera o crescimento dos custos – mas continua entregando um forte crescimento de base e de receitas”.
“Essa combinação de fatores poderá fazer com que, a partir de 2023, os lucros do Inter comecem a crescer de maneira acentuada”, enfatiza a casa, que faz a recomendação de compra dos papeis.
Méliuz (CASH3): 'do céu ao inferno'
Desde a sua abertura de capital, a Méliuz foi do “céu ao inferno”, de acordo com a Guide. “De uma valorização de 300% para uma amargurada queda de 87% desde o pico”.
Segundo a casa de análises, a companhia não conseguiu manter níveis estáveis de lucro, o que se perpetuou no resultado do primeiro trimestre de 2022.
“A estratégia da companhia se equipara ao atual momento do Nubank: sofrendo com juros subindo, mercado descrente com as promessas feitas no IPO e tentativas audaciosas para crescer. Para nós, as promessas não são suficientes”.
Guide Investimentos, em relatório
Oi (OIBR3): reestruturação e foco em fibra óptica
Segundo a Guide, a Oi está fazendo a maior e mais complexa reestruturação de todos os tempos da Bolsa brasileira e o desempenho de suas ações evidencia as dificuldades que a empresa vem enfrentando.
“De 2016, quando fez o pedido de recuperação judicial até o dia 11 de maio de 2022, as ações acumulam uma queda de -68%”, pontua a Guide.
“Durante os seis anos de reestruturação, os avanços foram significativos: a companhia reestruturou sua dívida, avançou sua governança, recuperou-se operacionalmente, vendeu ativos e definiu a fibra óptica como seu novo core business”, ressaltam os especialistas da casa.
Com foco na fibra, a companhia concluiu recentemente a venda da unidade de telefonia móvel e está pronta para, enfim, sair da recuperação judicial nos próximos meses.
Apesar dos avanços, os desafios continuam. “Conciliar grandes investimentos na expansão da fibra com o pagamento das dívidas vai continuar refletindo em queima de caixa nos próximos trimestres. Os riscos existem, estamos falando de uma empresa em reestruturação, mas as perspectivas para a Nova Oi são interessantes”.
Segundo a Guide, com foco total na fibra óptica, “veremos uma empresa totalmente diferente, muito mais enxuta e com capacidade de voltar a crescer no futuro”. A casa recomenda a compra dos papeis da telecom.
Natura (NTCO3): cenário macro adverso
De acordo com Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, a Natura faz parte do grupo de empresas que foi fortemente impactada com o cenário econômico adverso.
“A inflação e juros em alta influenciaram na mudança do perfil de consumo das pessoas, que passaram a dar preferência a gastos básicos, deixando de lado o consumo de produtos aleatórios, o que acabou impactando no desempenho da Natura”.
Rodrigo Moliterno, da Veedha
Além disso, após a aquisição da Avon, poucos meses antes do início da pandemia, a empresa também se viu diante de um momento desafiador.
“Desde então, a companhia vem buscando se reinventar em meio às diversas dificuldades e passa, inclusive, por um processo de reestruturação interna, focando na simplificação do portfólio e implementação de novo modelo comercial”, avalia a Guide, em relatório.
Segundo a própria Natura, a combinação de desafios internos – simplificação do portfólio, mudança do modelo comercial – e externos – inflação, guerra na Ucrânia e problemas na cadeia de suprimentos – fará com que a empresa continue adotando medidas de contenção de gastos e disciplina financeira.
Recentemente, a Natura informou ao mercado que suas metas, anteriormente previstas para 2023, foram postergadas para 2024.
“Negociando a 7,8x Ebitda 2022, a Natura encontra-se abaixo de sua média histórica (13,4x), entretanto, vemos na precificação atual um reflexo dos resultados presentes e das incertezas quanto ao resultado futuro. Preferimos aguardar melhores entregas”, reforça a casa.
Magazine Luiza (MGLU3): concorrência e economia fraca
Apesar de o Magazine Luiza ter trabalhado fortemente o M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês), comprando 20 empresas em dois anos e investir no crescimento de seu marketplaces, novas categorias de produtos e o Super App, as ações da companhia não param de cair.
“Desde que a Bolsa virou, em julho de 2021, a queda acumulada das ações do Magalu é de 83%. Com o combo que soma situação fiscal frágil, efeitos da covid-19 na economia e incertezas relacionadas às eleições, a expectativa para a inflação e juros já não era positiva”, avalia a Guide, sob o ponto de vista macroeconômico.
Além disso, os analistas da casa reforçam ainda aspectos intrínsecos ao negócio da varejista como pontos negativos, como o elevado nível de competição no varejo e problemas com gestão de estoque, que acabam elevando os gastos com marketing e pressionam suas receitas.
“O Magalu está valendo R$ 27,5 bilhões na Bolsa atualmente, o que representa 241x seu lucro ajustado. Isso pode parecer muito, mas é preciso levar em consideração que a margem de lucro da empresa está extremamente comprimida”, pontua a Guide.
Para os especialistas da casa, “faz mais sentido esperar por sinalizações concretas de mudança desse cenário antes de montar uma posição na empresa, mesmo que às custas de abrir mão de parte do movimento inicial de alta quando o humor do mercado em relação ao Magalu mudar”.
BRF (BRFS3): reestruturação e guerra
Única empresa do ranking de quedas da Economatica que não entra na categoria de companhias de crescimento, a BRF vem carregando problemas financeiros, como dívida elevada e impacto do lockdown da China por conta de uma nova onda de covid-19, segundo análise de Moliterno, da Veedha.
No ambiente macro, o aumento persistente da inflação, ao reduzir o poder de compra da população brasileira, impactou no consumo de proteína animal, o que gerou uma quebra em volumes para a BRF, gerando um crescimento mais modesto no primeiro trimestre de 2022.
Como estratégia para combater o cenário adverso, a indústria optou por abaixar seus preços e mudar a composição do mix de produtos.
“Com uma inflação persistente em 2022 e preços de commodities mais elevados – reflexo da guerra –, temos pouca visibilidade quanto à melhora efetiva do cenário macro em que a companhia está inserida. Por mais que esteja negociando a 6,3x Ebtida (24% abaixo da média histórica), não vemos gatilhos para melhora de resultado que justifiquem uma alta nas ações”, enfatiza a Guide.
Cogna (COGN3): queda de receita com o ensino presencial
A crise pela pandemia impactou fortemente os resultados da Cogna, já que grande parte de sua receita vem do ensino presencial. De acordo com Moliterno, da Veedha, soma-se ainda o fim do Fies e a queda no poder de consumo das pessoas.
A Guide destaca que a Cogna viu nesse momento desafiador uma oportunidade de começar uma reestruturação para se tornar uma “edutech”, focando em cursos à distância (EAD) e híbrido (semipresencial).
“Os resultados ruins refletiram nas ações, que acumulam uma queda de -39% em 12 meses e uma derrocada de -80% desde janeiro de 2020”.
Guide, em relatório
Apesar dos avanços na reestruturação, pelo fato de a empresa é altamente dependente da economia, a Guide acredita que as perspectivas ruins para os próximos trimestres devem impactar nos resultados da Cogna.
IRB (IRBR3): fraudes e resultados fracos
As ações da IRB Brasil eram tidas como queridinha pelo mercado, era lucrativa e rentável e suas ações negociavam a múltiplos elevados, conforme análise da Guide.
Mas o cenário mudou em fevereiro de 2020, quando a gestora carioca Squadra anunciou uma posição short nas ações da Irb e soltou um relatório com mais de 150 páginas revelando as fraudes contábeis da resseguradora.
Com as fraudes reveladas, as ações da empresa despencaram. De janeiro de 2020 a maio de 2022, os papéis da companhia acumulam uma queda de mais de -90%. Só nos últimos 12 meses, as ações caíram -59%.
“O mercado ficou desconfiado por conta dessas fraudes. Além disso, o resultado da companhia não está vindo conforme o esperado, o que afasta os investidores desses papéis”.
Rodrigo Moliterno, da Veedha
Após os escândalos, a empresa iniciou uma reestruturação, fez mudanças na gestão, reapresentou seus balanços e ajustou a forma de contabilização.
A Guide destaca no relatório que, apesar do preço da IRBR3 parecer bem atrativo, se observados os preços pelos quais ela já foi negociada, os riscos em investir na empresa ainda permanecem bastante elevados.
“O IRB possui um negócio extremamente complexo, com um passado incerto e que não voltará a ser rentável e lucrativo como foi no passado”, enfatiza.
Nubank (NUBR3): fortes perdas após o IPO
Desde o IPO, quando o Nubank chegou a ser considerado o banco mais valioso da América Latina, desbancando o Itaú, a ação do banco digital acumula queda de 60% e segundo a Guide, “a maré de azar tá longe de acabar”.
Impactado pela alta dos juros, o banco chegou a reportar um lucro líquido de R$ 76 milhões no primeiro semestre, mas depois não trouxe mais resultados relevantes.
Para jogar mais pimenta no caldeirão de más notícias, nos últimos dias o Nubank se viu envolvido em uma polêmica em torno da remuneração de sua diretoria.
A informação de que os oito diretores do banco podem receber uma bolada de até R$ 804,4 milhões de reais, sendo R$ 787,2 milhões baseada em ações, chamou a atenção do mercado e trouxe apreensão aos investidores.
“Com dificuldade para crescer os resultados, monetizar a base de clientes, cenário macro e governança atrelada à promessa de ganhos em cima das ações, a Guide não recomenda a compra das ações do banco”, conclui.