Varejo: reação em fevereiro surpreendeu analistas, mas para março números tendem a ser fracos; entenda
O crescimento das vendas no varejo ampliado, de 4,1%, em fevereiro surpreendeu os analistas, que esperavam um avanço bem mais modesto, de 2,1%. Foi uma reação…
O crescimento das vendas no varejo ampliado, de 4,1%, em fevereiro surpreendeu os analistas, que esperavam um avanço bem mais modesto, de 2,1%. Foi uma reação expressiva frente a quedas de 3,1% em dezembro e de 2,2% em janeiro. Para março, no entanto, o mercado espera por resultados bem mais fracos.
Rodolfo Margato, economista da XP, explica que o resultado final de fevereiro foi beneficiado pelo crescimento maior na venda de veículo, de 8,8%. Ao considerar o comércio varejista restrito, que exclui veículos, motos, autopeças e materiais de construção, a evolução ainda é positiva, mas de apenas 0,6%.
Ainda que em níveis modestos, o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, considera que o avanço de 0,6% pode ser considerado interessante depois de dois meses seguidos de queda. Ele aponta outros fatores que explicam a reação das vendas de alguns setores do varejo em fevereiro.
“Por não ter havido carnaval esse ano, os gastos com supermercados e produção alimentícia podem ter sido direcionados para setores do varejo que, em um fevereiro normal, não teriam apresentado um resultado tão bom”, afirma o estrategista.
Ao mesmo tempo, pondera Cruz, o fraco desempenho apresentado por supermercados e hipermercados, com queda superior a 3%, e mais expressiva ainda, de 4%, se considerar o grupo todo com o comportamento dos produtos produtos alimentícios, bebidas e fumo, não deve ter uma leitura negativa sobre as empresas do setor.
“Não é que o setor passou por algum problema, não é para ações desses setores, listadas em bolsa, reagirem mal e caírem por conta desses resultados", diz o Gustavo. "Não houve carnaval, e esse evento é que puxava esse segmento no indicador de varejo".
Setores do varejo que foram beneficiados
No recorte para análise entre os dez segmentos do varejo, seis deles registraram alta de janeiro para fevereiro deste ano. Além do setor de veículos, os destaques ficaram por conta do de móveis e eletrodomésticos com avanço de 9,3% e de vestuário e calçado com elevação de 7,8%.
Como esses mesmos setores haviam caído de forma expressiva nos meses anteriores, Margato entende as altas como um movimento de compensação parcial das vendas.
Das dez categorias do varejo, segundo o economista, cinco já apresentam as vendas em reais acima dos níveis registrados antes da pandemia. As referentes a materiais de construção já superaram em 20% os resultados pré-pandemia; as de produtos farmacêuticos, médicos, ortopédico cosméticos e perfumaria, em 16%; e as de outros artigos de uso pessoal e doméstico, em 6,5%.
O estrategista da RB também reforça que o movimento apresentado pelo setor de construção civil vem sendo expressivo, com recordes no volume de financiamento habitacional com R$ 160 bilhões, 27% acima de 2020, Isso mostra que o setor de construção civil continua aquecido seja com construções, seja com reformas. "Por ser considerado como atividade essencial, o setor de construção não sofreu tantos danos, e tem muito potencial para se recuperar". mostra
Para o economista da XP, “a forte recuperação do comércio ao longo do 2º semestre de 2020 ocorreu, em grande medida, devido ao massivo programa de transferências de renda, principalmente via pagamento de auxílio emergencial para enfrentamento da pandemia”.
Segundo Margato, nesse período, houve um deslocamento dos recursos, que antes canalizados para os serviços, para o setor de consumo de bens, uma consequência das medidas de distanciamento social que exigiram da população permanecer mais tempo em casa.
Estimativas de queda para março
Já neste ano o cenário passou a ser outro, relata o economista da XP, com inflação mais alta, fim do auxílio emergencial, mercado de trabalho ainda fraco, tudo isso resulta em uma desaceleração do consumo.
Não bastasse esse cenário preocupante, o recrudescimento da pandemia em meados de fevereiro, com novas e mais rígidas restrições de mobilidade e o aperto financeiro devem contribuir para a tendência de queda no consumo das famílias no curto prazo.
Sendo assim, o analista projeta uma queda das vendas no varejo ampliado de 10,2% em março, em relação a fevereiro. Número que, se confirmado, representará uma alta de 6,4% em relação a março de 2020.
Cruz compartilha da mesma opinião, afirmando que março será o "patinho feio" para o varejo, por conta da paralisação das atividades em decorrência da pandemia e por não ter o pagamento do auxílio emergencial. Em abril, os números já poderá apresentar alguma reação.
As estimativas da XP são negativas também para o primeiro trimestre do ano para o mesmo conceito de varejo ampliado: retração de 5,0% em relação ao quatro trimestre de 2020 e alta de 0,6% em relação ao primeiro trimestre de 2020.
Nesses cálculos, o economista da XP leva em consideração outras variáveis tanto as usuais explicativas como confiança do consumidor, vendas de veículos e vendas de supermercados, como transações com cartão de crédito e consumo de energia elétrica no setor varejista.