Renda Fixa

Tesouro Selic X Tesouro IPCA: quem vence o duelo de gigantes da renda fixa

Proteção contra a inflação e vínculo à alta dos juros são atrativos nos títulos do governo

Data de publicação:29/06/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
Compartilhe:

Em um momento de inflação e juros em alta, mas com os juros ainda correndo atrás da inflação, dois títulos públicos da plataforma do Tesouro Direto chamam a atenção dos investidores. Um, o Tesouro IPCA, porque oferece proteção contra a inflação para o dinheiro investido e o outro, o Tesouro Selic, por seguir a taxa básica de juros, a Selic, que está subindo. Mas qual a melhor opção?

Cada título tem características próprias e, portanto, atratividade de acordo com o perfil, os objetivos e as necessidades específicas de cada investidor. Vantagens e desvantagens em que a escolha correta é condição necessária para que não se frustrem as expectativas.

Papeis do Tesouro exigem prazo de aplicação mais longo que os demais papeis de renda fixa

Uma característica comum é que ambos exigem prazo de aplicação mais longo que os demais papeis de renda fixa. Por exclusão, devem ser evitados por quem deseja aplicar por períodos de tempo menores ou para o dinheiro carimbado para atender compromissos em prazos curtos.

Em linhas gerais, o Tesouro IPCA remunera o comprador com taxa de juros prefixada, já embutida no título, mais correção monetária pela variação do IPCA, a inflação oficial. No vencimento, o investidor recebe o valor aplicado, mais juro previamente combinado e correção monetária.

O Tesouro Selic oferece rendimento pós-fixado, atrelado à variação da taxa básica de juros, a Selic, pago ao investidor no vencimento do papel.

Quem fica com o título até o prazo final recebe, portanto, a remuneração acordada na hora da compra.

Avaliação de especialistas

Especialistas afirmam que a diferença entre os dois papeis não se limita a critérios distintos de remuneração, mas que cada um atende às condições e objetivos específicos de cada investidor. O Tesouro Selic é indicado para a aplicação da reserva emergencial, já que oferece liquidez diária ou a possibilidade de retirada com rendimento para o dinheiro que pode ter necessidade de uso a qualquer momento.

A Selic ainda tem andado abaixo da inflação, mas o ciclo de elevação da taxa básica cria um cenário de oportunidade no médio prazo para quem deixar o dinheiro investido por mais tempo, avalia Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos. Segundo ela, em um período mais longo, a Selic em alta e a inflação em queda devem convergir a um ponto em que o resultado pode ser alguma margem de juro real. “Para este ano, a Selic ainda deve ficar abaixo da inflação.”

A expectativa do mercado financeiro, de acordo com as projeções do boletim Focus desta segunda-feira, 28, é que a Selic feche 2021 em 6,50%, portanto 2,25 pontos porcentuais acima da atual Selic de 4,25% ao ano, para uma inflação estimada em 5,97%.

A perspectiva é que nesse compasso (juro em alta e inflação em baixa) a Selic chegue ao fim de 2022 com vantagem sobre a inflação, compensando o atraso de 2021. A Selic projetada para o fim do próximo ano está em 6,50% para uma inflação prevista de 3,78%, no momento.

Leon Abdalla, analista de Investimentos da Rio Bravo, afirma que o Tesouro Selic atende ao investidor conservador que não pode abrir mão da disponibilidade do capital no curto prazo. ‘E uma modalidade que oferece alta liquidez e volatilidade baixa.”

Paula Zogbi alerta, contudo, que o investidor deve evitar resgatar o dinheiro antes de 30 dias, por causa da cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). “Aplicação de até 29 dias recolhe IOF por alíquotas escalonadas que podem chega a 96% sobre o rendimento nominal”, explica Paula. Após 30 dias, não há mais cobrança de IOF.

Tesouro IPCA

Por remunerar com juro real prefixado e correção monetária atrelada à inflação oficial, o Tesouro IPCA tem sido o título público mais recomendado pelos especialistas. “Principalmente o Tesouro IPCA 2026, que está bastante interessante para ganho de capital, com juro próximo de 4% ao ano acima do IPCA”, avalia Paula. Com o IPCA projetado em torno de 6% em 2021, isso dá quase 10% de rendimento nominal (soma de juro e correção monetária) ao ano, calcula.

“O Tesouro IPCA é uma excelente opção de proteção do capital contra a inflação e ampliação de patrimônio com ganho real”, reforça Abdalla, analista da Rio Bravo. Mas é importante entender dois pontos, antes de comprar o título, para não frustrar expectativas. “A rentabilidade que o investidor está contratando na NTN-B (Tesouro IPCA, no Tesouro Direto) até 2026 estará assegurada apenas se levar o título até o vencimento.”

Um resgate antecipado levará ao recálculo do valor, pela marcação a mercado, processo que atualiza o valor do título a cada dia no mercado secundário, onde esses papeis trocam de mãos, de quem vende para quem compra. E há risco de perda nessa operação, alerta o analista da Rio Bravo. Se o valor estiver baixo, com variação negativa, quem vende vai receber valor menor que o estampado no papel, porque o comprador vai querer pagar menos; se estiver valorizado, poderá ter ganho extra.

Se o título for levado até o vencimento, não ocorre nada disso, portanto não haverá nenhum risco. O investidor recebe a remuneração combinada previamente, no momento da compra, ao resgatar o papel no prazo final.

Tributação

A proposta de alteração na regra de imposto de renda na renda fixa embutida na proposta de reforma tributária enviada pelo governo ao Congresso prevê a adoção de alíquota única de 15%, no lugar das quatro em vigor, de acordo com o tempo de aplicação. Se aprovada, a mudança deverá passar a valer apenas no próximo ano.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.