Viés da Unidade
O que é o Viés da Unidade?
Viés da Unidade (ou Unit Bias, em Inglês) é o nome dado a um tipo específico de viés cognitivo, segundo o qual nós, seres humanos, possuímos a tendência de querer completar ao menos uma unidade de uma tarefa ou de um determinado item.
É ele que explica, aliás, porque bibliógrafos se impõem a leitura de um capítulo até o fim - a mera imaginação de fechar o livro da vez, com aquele capítulo pela metade, já causa arrepios.
Ou talvez você prefira pensar naquele episódio do seriado que está acompanhando: desligar a televisão antes da cena final causa uma sensação esquisita, não é? Como se algo estivesse muito errado e precisássemos voltar imediatamente para dar aquele episódio como acabado…
Sem falar na quantidade de comida que você come, em casa ou na rua. Estatisticamente, as porções estão aumentando a cada ano em vários países do mundo, daquela lasanha que te salva após um dia corrido ao tamanho dos pratos, xícaras e afins, o que te leva a comer mais e mais sem nem perceber.
Como veremos adiante, essa tendência possui efeitos positivos e negativos em nossas vidas. Isto é, ela pode ser a responsável por terminarmos aquele treino irritante na academia hoje (e ficarmos mais saudáveis) ou por nos "afogarmos" no pote de sorvete mais próximo (e darmos um passinho a mais em direção a doenças de todo tipo).
Como o Viés da Unidade funciona?
Como um viés (isto é, como um erro no raciocínio lógico), ele possui como característica principal a sua forte aparência de coerência. Em bom Português, isso significa que ele faz todo sentido - pelo menos para o seu cérebro.
Ou seja, terminar algo que se começou, dentro da nossa realidade (e da nossa necessidade de sobrevivência) é algo coerente.
Se você é um especialista em procrastinação, PhD em deixar tudo para a última hora e dono de uma lista quilométricas de projetos abandonados pelo caminho, é provável que ler isso tenha te feito dar uma risadinha. Afinal, não é todo dia que você se sente imune a um viés (principalmente se anda lendo os artigos completos que publicamos por aqui).
Sentimos ser os portadores da notícia, mas essa sua imunidade é… Uma mentira.
Cada pessoa no mundo é impactada por um mesmo viés de formas diferentes. Para um, pode ser nunca deixar de escrever um artigo até que o último ponto esteja devidamente posicionado (não importando se tem um apocalipse zumbi em andamento lá fora). Para outro, pode ser não levantar da mesa até que, uma vez começado, o último pedaço daquela pizza seja comido.
Por vezes, uma mesma pessoa enfrenta essas duas situações no mesmo dia e sucumbe ao viés da unidade.
Portanto, não são seus hábitos procrastinadores que vão que te libertar, acredite. O nosso papel aqui é justamente te ajudar a identificar como cada viés se materializa no cotidiano e, com esse conhecimento, te munir para mitigá-lo.
No caso do viés da unidade, mais do que um risco a cada área da sua vida, ele também ameaça o seu bolso.
Afinal de contas, comer, comer e comer, por exemplo, além de garantir gorduras, açúcares e até nutrientes em excesso no seu corpinho, também representa um gasto tanto com alimentação quanto com cuidados médicos.
Essa questão (a comida), inclusive, é um dos temas mais universalmente estudados quando se trata do viés da unidade. Isso porque como todos comemos a vida inteira, independentemente da cultura e de suas receitas típicas, as pessoas se tornam fontes de dados por anos a fio e passíveis de comparação.
Existem estudos, por exemplo, que visam entender quando nos tornamos mais suscetíveis ao viés. O que se descobriu é que crianças com 5 anos já tendem a comer mais conforme o tamanho da porção oferecida aumenta, enquanto crianças de 3 anos comem basicamente a mesma quantidade (independentemente do tamanho do prato servido) e não têm problema em deixar o restante lá.
Assim, a aversão à perda, cuja faceta é também o desconforto frente ao desperdício de recursos (oi, viés do custo afundado!) parece ser desenvolvida com o passar do tempo, através de experiência pessoal e exemplos.
Na prática, isso significa que não percebemos quando estamos tomando medidas para evitar o desperdício e quando estamos consumindo (e comprando e gastando!) mais do que o necessário.
É o típico caso do milkshake: se existe um copo 500ml entre o de 300ml e o de 700ml, eu estou na média, certo? Errado, porque a ideia de "média" não foi feita para te satisfazer biologicamente, mas te provocar… A terminar de gastar o que já começou.