Guerra Cambial
O que é Guerra Cambial?
Em 2011, o Brasil tinha a moeda mais valorizada entre as maiores economias globais.
Lutando para se reerguerem da crise de 2008, as principais economias do mundo ainda estavam reduzindo as suas taxas de juros e embarcando em novas políticas de compras de ativos:
- Fed: o banco central dos EUA, tinha por objetivo combater as consequências da bolha imobiliária que tinha estourado;
- Banco Central Europeu: a principal autoridade monetária da zona do euro, tinha a função de dar respaldo aos governos europeus com dificuldades de financiamento;
- Banco da Inglaterra: o banco central inglês estava contornando uma situação semelhante à norte-americana;
- Banco do Japão: a autoridade monetária japonesa resistiu em um primeiro momento, mas foi obrigada a agir.
Como consequência direta dessas ações, as moedas dessas economias se desvalorizaram, causando dois movimentos simultâneos:
- Na economia real, as exportações aumentaram;
- No mercado financeiro, as instituições financeiras passaram a buscar economias emergentes com taxas de juros e de crescimento maiores, deslocando o ponto de equilíbrio das moedas desses países.
Como surgiu o termo “guerra cambial”?
O termo foi usado pela primeira vez em 2010 pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele fazia referência às medidas que os vários países passaram a adotar para conter a valorização de suas moedas.
O Brasil não ficou de fora e usou vários instrumentos na época para amenizar a valorização do real, entre eles:
- Compras de dólar à vista pelo Banco Central;
- Taxação de derivativos de câmbio;
- IOF sobre os financiamentos externos com prazo de 3 anos;
- Aumento de imposto para as operações de curto prazo em renda fixa.
Diferentemente de um esforço coordenado para garantir um mínimo de crescimento econômico mundial, as desvalorizações em série refletiam a forma como os demais países garantiam a sua participação no comércio global, diante de um contexto que se agravou com a crise dos países da zona do euro.
O que Jim O’Neill, criador do termo BRICS, dizia sobre a guerra cambial?
Jim O’Neill afirmava que, ao contrário das nações desenvolvidas, o câmbio não era o principal fator limitante das exportações brasileiras:
- Uma mão de obra rígida e pouco qualificada encarecia os produtos do país;
- O orçamento federal, com as suas peculiaridades, mantinha a taxa de juros elevada, atraindo capitais do mundo todo.
A guerra cambial é ilegal?
Apesar da prática ser condenada pelas regras que criaram o Fundo Monetário Internacional (FMI), não existe nenhum mecanismo de punição vigente.
A única forma de se fazer isso é levando a questão para a Organização Mundial do Comercio (OMC), entidade responsável por tratar de condutas comerciais consideradas abusivas e autorizar o uso de medidas compensatórias como aumento de tarifas, por exemplo.
O que define um manipulador de câmbio?
Alguns parâmetros ajudam a identificar um país que intencionalmente move o câmbio para fora do seu ponto de equilíbrio:
- Reservas em moeda estrangeira superiores a 6 meses de importações;
- Superávit em conta corrente, como percentual do PIB, maior que zero;
- Aumento na relação reservas/PIB na última década.
Entre as nações que atendem aos 3 critérios, pode-se dividi-las em 4 categorias:
- Economias desenvolvidas: Suíça e Japão;
- Países com industrialização recente: Cingapura, Taiwan e Israel;
- Países asiáticos: Malásia, Tailândia e China;
- Países exportadores de petróleo: Arábia Saudita e Rússia.
Por que a guerra cambial voltou a ser um assunto recente?
A principal preocupação dos banqueiros centrais é com uma desaceleração global em função das incertezas geradas pela guerra comercial entre os EUA e a China.
Ao indicarem que cortarão os juros (a exemplo dos EUA) ou que adotarão mais medidas de estímulo (a exemplo da Europa), esses agentes geraram consternação no presidente norte-americano, Donald Trump.
Tendo prometido cuidar dos interesses dos EUA (“America First”), ele agora se volta contra a Europa e a China ao chamá-los de “manipuladores cambiais”. Para reforçar o seu argumento, quer que o Tesouro norte-americano adote uma metodologia de cálculo para o valor justo de cada moeda.
O problema é que não existe um padrão mundial estabelecido, variando-se tanto os dados coletados como as estimativas usadas.