Front Running
O que é Front Running
Front running, no jargão do mercado financeiro, é se antecipar a um fato com o objetivo de obter lucro. Operação ilegal, ela pode ser descrita da seguinte forma:
- Um operador de mercado toma conhecimento de uma grande operação que será executada por um cliente;
- Como se trata de uma ordem que vai influenciar os preços, ele registra uma ordem para si, operando por conta própria, antes de cadastrar a ordem do cliente;
- A ordem do cliente é executada, impactando nos preços;
- O operador se desfaz da sua operação e ganha com a diferença.
As operações de alta frequência são consideradas como front running?
Chamadas de High Frequency Trading (HFT), elas foram responsáveis pelo evento conhecido como “flash crash”, de maio de 2010, ocasião em que o índice norte-americano Dow Jones caiu rapidamente em função de uma avalanche de ordens geradas por um computador.
Muitas corretoras saíram machucadas com esse e outros episódios envolvendo erros com algoritmos: nas bolsas americanas, ao contrário da B3, não há uma contraparte central garantindo cada operação realizada.
Mais do que as falhas de execução de ordens em si, esses eventos trouxeram à tona as vantagens competitivas que os operadores de alta frequência teriam dado que os seus programas podiam antever padrões de preços e executar inúmeras operações em um piscar de olhos.
Mesmo com toda a polêmica, as operações de alta frequência não geraram punições pois as autoridades não encontraram respaldo nos 2 elementos que caracterizam o front running:
- Conhecimento de uma informação não pública;
- O operador (ou instituição financeira) ganha às custas do seu cliente.
Nesses casos, os agentes usavam informações fornecidas pelas próprias bolsas e os prejudicados eram as contrapartes; ou seja, outras instituições financeiras.
Entretanto, ficou a crítica de que os algoritmos, apesar da liquidez que fornecem, desestimulam a essência do mercado de capitais: ligar investidores com empresas que possuem bons planos de negócios.
Quais são os casos mais conhecidos de front running?
Apesar de o front running ser uma prática ilegal, infelizmente já houveram alguns casos reais desse tipo de atividade no mercado financeiro.
Veja a seguir algumas das mais famosas:
HSBC
No ano de 2011, o banco inglês HSBC foi contratado por uma empresa de óleo e gás escocesa para converter o equivalente a US$ 3,5 bilhões em libras esterlinas.
Sabendo que essa operação ocorreria em qualquer data no futuro, operadores de câmbio das mesas de Londres e Nova Iorque do HSBC compraram libras com o dinheiro do próprio banco.
No dia em que a ordem de compra bilionária da empresa foi executada, a libra esterlina se valorizou, dando ganhos ao HSBC, em detrimento do seu cliente que recebeu menos libras pelos dólares que tinha depositado.
Essas operações nem sempre são identificáveis pois, os operadores de mercado, apesar de terem as suas conversas gravadas, se comunicam por meio de um código próprio. Nesse caso especificamente, identificavam o cliente como um sendo um investidor russo.
Apesar do ganho de US$ 3 milhões com a operação, além dos US$ 5 milhões cobrados como taxa de serviços de câmbio, o HSBC foi multado em US$ 175 milhões, seis anos depois, por falhas nos controles de suas operações.
Credit Suisse
Um caso no mercado brasileiro envolveu um operador de mercado do Credit Suisse: ele abriu uma conta em nome da sua própria avó, de 92 anos. Quando tomava conhecimento das grandes ordens que chegavam às mesas de operações, cadastrava suas próprias ordens pela conta do home broker da sua avó.
O que chamou a atenção foi o grau de sofisticação da investidora idosa: operações de day trade altamente lucrativas.
Como punição, o operador responsável pelo esquema foi multado pela CVM em R$ 500 mil, além de ficar 10 anos sem operar no mercado de capitais.