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Falácia ao Apelo da Probabilidade

Autor:Equipe Mais Retorno
Data de publicação:11/11/2019 às 09:51 - Atualizado 5 anos atrás
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O que é a falácia ao apelo da probabilidade?

Falácia ao apelo da probabilidade é o nome dado à tendência humana de, diante de eventos com alta probabilidade de se concretizarem, tomar os mesmos como garantidos e agir de acordo com esse fato certo.

Por exemplo, a probabilidade do sol nascer amanhã é de quase 100% (não, não é uma certeza absoluta). Então, ao planejarmos o nosso dia seguinte, já nos imaginamos acordando, abrindo a janela e encarando um belo céu azul (ou mesmo um céu nublado, mas que não é o mesmo que um céu noturno). 

Somado ao viés de normalidade (que nos impede de identificar rapidamente um desastre, visto que sequer consideramos que ele pode ocorrer), a falácia ao apelo da probabilidade não permite que visualizemos o amanhã sem o nascer do sol. 

É óbvio que não estamos considerando as consequências trágicas da Física ao não nascer do sol, apenas tomamos esse evento tão comum do dia a dia para explicar a nossa facilidade de perceber eventos com alta probabilidade como garantidos.

E se nem mesmo o Sol é tão certo, imagine os outros acontecimentos do nosso cotidiano e as consequências prejudiciais de considerá-los inegáveis. 

Em todas as áreas da vida, a falácia ao apelo da probabilidade pode aparecer - no trabalho, nos relacionamentos, na saúde e, claro, nas finanças. Preparado para encará-la?

Como a falácia ao apelo da probabilidade funciona na prática?

Nada melhor do que explicar esse conceito com exemplos práticos.

No trabalho, uma das formas mais comuns pelas quais se escancarou a falácia ao apelo da probabilidade foi na mudança de cultura empresarial na virada do século. 

Por muito tempo, a trajetória profissional de uma pessoa se resumia em fazer uma faculdade, entrar em uma empresa, trabalhar lá por décadas até se aposentar. Muitos, tomando o seu emprego como garantido (afinal, a cultura de trabalho vigente até então os fazia acreditar que havia uma baixa probabilidade de demissão) não buscavam estudar mais após a graduação.

Quando as exigências do mercado mudaram - e passar décadas em uma empresa se tornou uma projeção rara e milagrosa - eles não estavam devidamente preparados. 

Na saúde, por sua vez, há uma visão geral de que a probabilidade de infartos em jovens é muito (muito!) menor do que em idosos. Assim, a maioria das pessoas não se preocupam em manter hábitos saudáveis para o coração até os 40 anos. Não a toa, o consumo de álcool (amplamente conhecido por aumentar o risco de infartos) cresce entre os jovens mesmo quando a média nacional cai.

Isso se dá porque um sujeito, na casa dos seus vinte e poucos anos, toma como garantido que seu coração funcionará bem pela próxima década. "Você não precisa se preocupar", a falácia ao apelo da probabilidade diz, enquanto o número de infartos entre 20 e 40 anos cresce anualmente.

Nos relacionamentos, bom, sobram ilustrações. Os maridos e as esposas que, após anos de casados, não se preocupam mais em conquistar todos os dias os seus parceiros, tomando a relação como garantida para o resto da vida, são alvo de livros, filmes e conversas durante sessões de terapia. 

Um dia, o pedido de divórcio chega e todos desenvolvem uma enorme dificuldade em reconhecer que a falácia ao apelo da probabilidade minou a sua dedicação cotidiana ao outro. 

Por último, mas não menos importante, o que falar do pensamento falacioso ligado ao dinheiro? O exemplo mais comum, sem dúvida, é a aposentadoria. 

Segundo levantamento da Anbima, apenas 21% dos brasileiros afirmam se planejar, de alguma forma, para contar com outra fonte de renda na velhice que não seja o INSS, o seu próprio trabalho ou a ajuda de familiares. 

O que pensam os outros 79%? Provavelmente, se vislumbrassem o futuro sem qualquer dessas 3 opções anteriormente dadas, tomariam um belo choque (e desespero) de realidade. 

Contudo, a falácia ao apelo da probabilidade faz parecer que "é bem provável que eu morra antes e nem usufrua de qualquer dinheiro que poupar" (um sinal claro de negligência da probabilidade também!) ou que, se sobreviverem, terão filhos, força de trabalho ou suporte governamental suficiente para consumir.

Como sabemos, essa é uma escolha perigosa, visto que a qualidade de vida de idosos que se amparam nesse tipo de falácia tende a ser menor do que a daqueles que se preparam devidamente para criar a própria aposentadoria. 

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