Essencialismo Psicológico
O que é o Essencialismo Psicológico?
Essencialismo Psicológico (ou ainda Essentialism, de acordo com o termo original em Inglês) é o nome dado a um tipo especifico de viés cognitivo.
Segundo a sua definição, o Essencialismo Psicológico narra a tendência mental que nós possuímos, como seres humanos, de atribuir falsas características inatas a um determinado grupo de pessoas, entidades ou objetos, sem as quais ele não existiria.
É claro que não estamos tratando de questões como o nado dos peixes ou o latido dos cachorros - que, salvo raras exceções, são realmente essenciais para aquele grupo.
No caso do Essencialismo Psicológico, o problema nasce porque o argumento é falacioso: embora pareça verdadeiro, a depender das evidências apontadas, se trata de um equívoco. Ou seja, embora aquela característica pareça inata, isso é apenas uma ilusão, propositalmente ou não.
Sabe como construíram uma imagem em torno da mulher, por décadas, que obrigatoriamente ligava a feminilidade a coisas como a cor de rosa e as flores? Pois aqui já temos dois belos exemplos do Essencialismo Psicológico.
Toda mulher é feminina? Não.
É obrigatório ser feminina para ser mulher? Não.
Se alguém não é feminina, quer dizer que ela deixa de ser mulher e se torna uma aberração da natureza (tipo um peixe que não gosta de água)? Não.
Esse é a primeira falácia.
Agora, ser feminina obrigatoriamente significa gostar da cor de rosa e flores? Não. Até porque só no período pós-guerra - e com uma ajudinha da publicidade - é que as indústrias estabeleceram padrões estéticos desse tipo.
Logo, essa é a segunda falácia.
Mas novamente: são apenas dois exemplos, em um universo cercado de Essencialismo Psicológico. E se você acha que ele nem te prejudica tanto assim, além talvez de ter várias fotos de infância usando roupas com uma cor que você honestamente detesta, saiba que o buraco é mais embaixo.
As consequências do Essencialismo Psicológico podem estar, literalmente, corroendo a sua vida e interferindo em várias das decisões importantes que você toma - seja no trabalho, nos relacionamentos e até (acredite!) no seu rico dinheirinho.
Como o Essencialismo Psicológico interfere no seu dia a dia?
Antes de tudo, vale esclarecer que a origem do Essencialismo Psicológico, assim como a origem de todos os vieses cognitivos, está no seu cérebro.
Uma das hipóteses para o seu "nascimento" está na nossa obsessão por padronizações (a ilusão de agrupamento e a ilusão de correlação que o digam!).
Quando víamos um leão, lá na natureza selvagem, logo nosso cérebro trabalhava para classificar aquele sujeito - e os animais do tipo -, entendendo no que poderiam nos ser úteis (como presas) ou quais ameaças ofereciam (como caçadores).
"Um leão comendo a carne de outro animal? Bom, devo supor que todos os leões são carnívoros. E olha só, eu sou cheio de carne... Melhor ficar longe", pensávamos (com uma ajudinha de imaginação).
Assim, hoje, quando a sua melhor amiga brada a plenos pulmões que nenhum homem presta, ela está fazendo com eles o mesmo que fazíamos com os leões. Contudo, de forma equivocada, certo?
Ela acaba de atribuir uma falha de caráter a todos os sujeitos daquela categoria sem argumentos racionais e isso é puro Essencialismo Psicológico.
O mesmo se dá quando você julga que "tudo o que é de graça não presta" (não prestar é característica inata de coisas gratuitas? Não.). Ou que "todo chefe só pensa em explorar os seus subordinados" (uma fada mágica entrega o Certificado de Cretinice junto com a promoção de uma pessoa? Não.).
Você pode, agora, até concordar conosco, mas sabemos que lá no fundo já pensou ou falou uma dessas coisas alguma vez.
Lembre-se: o Essencialismo Psicológico tem o poder de se impregnar nas culturas e corroer a nossa vida sem chamar a atenção. É o "jeitinho enviesado" de destruir você.
Seguindo essa linha, quantas vezes não se atribuiu à riqueza atributos inatos como a mesquinharia, a ganância, a ambição sem limites. Não raro, os ricos e os agentes do mercado financeiro viram avatares da avareza.
Segundo essa perspectiva do Essencialismo Psicológico, não dá para ter dinheiro sem se transformar imediatamente no Scrooge (aquele mesmo, do Dickens).
Sinceramente, como você espera elevar o nível dos bens oferecidos gratuitamente (especialmente através dos governos), se tornar chefe ou enriquecer, se você acreditar que inatamente esses elementos carregam tantas maldições?
E se felicidade é algo importante para você, é mais provável que o Essencialismo Psicológico te leve direto para a mente do Scrooge que você não queria ser, bradando aos quatro ventos “como não vou ficar zangado vivendo num mundo cheio de paspalhos assim?”.