Economia

Terceiro choque no mundo se avizinha, diz Ilan Goldfajn: a alta de juros

Elevação dos juros pelos bancos centrais para frear a inflação tende a valorizar o dólar e enfraquecer moedas de emergentes

Data de publicação:11/08/2022 às 06:54 - Atualizado 2 anos atrás
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Após dois choques inesperados no mundo, a pandemia de covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia, o diretor para o Departamento de Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central, afirmou que um terceiro se avizinha, mas desta vez esperado.

É a alta de juros no mundo pelos bancos centrais, para lidar com a persistente inflação em vários países, que tende a valorizar o dólar e enfraquecer as moedas de mercados emergentes.

E os juros em alta, especialmente nos Estados Unidos, historicamente afetam a América Latina de forma importante. "Os ventos estão começando a mudar de direção", afirmou Ilan, destacando que todas as vezes que há aperto das condições monetárias no mundo, a região sofre. Os fluxos de capital que viriam para a América Latina, disse o executivo, tendem a cair, inclusive com fuga de capital.

"O aperto das condições financeiras mundiais tende a valorizar o dólar e reverter os fluxos de capital", disse o diretor do FMI. Nesse ambiente, de crescimento econômico mais fraco e queda dos preços das commodities, há uma piora dos termos de troca para os países da América Latina, ou seja, o comércio externo fica mais desfavorável para os exportadores de produtos naturais e commodities.

Historicamente, empréstimos e captações de governos e empresas tendem a ficar mais caros toda vez que os juros sobem nos EUA, afirmou Ilan. Os países costumam perder 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

"O aperto monetário nos EUA vai tirar parte do PIB da América Latina", afirmou o diretor do FMI em palestra no Febraban Tech, evento que reúne bancos e empresas de tecnologia esta semana em São Paulo.

América Latina

Gold afirmou que a recuperação econômica na América Latina, até o momento, tem sido melhor que o esperado, mas o cenário é desafiador, na medida em que a economia global vai ter desaceleração importante nos próximos 12 meses, até com possibilidade de recessão. "Esperamos crescimento mais fraco no final de 2022 e 2023".

O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos e Europa vai perder força, com chance até de ficar negativo, e talvez até recessão.

"O crescimento global vai cair muito nos próximos 12 meses", afirmou o diretor do FMI. "Inflação persistente e PIB fraco tornam política econômica mais desafiadora", completou, afirmando que o crescimento da insatisfação social em países da região exige mais atenção dos governos.

Nesse ambiente de desaceleração do PIB, os preços das commodities tendem a cair, afetando os países mais dependentes da exportação desses produtos. "Vamos ter que enfrentar mundo mais adverso, sem nossas exportações subirem, o que as moedas locais se depreciarem."

A boa notícia para América Latina é que os governos agiram rápido diante da mudança de cenário, sobretudo na política monetária. "Bancos centrais da região foram os primeiros a reagir no mundo", afirmou Ilan, destacando que os juros no Brasil acompanharam esse movimento, saindo de 2% para perto de 14%. Com isso, os BCs conseguiram domar as expectativas para a inflação. / Agência Estado

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