Com Selic mais alta, prêmio da renda fixa cai, mas a rentabilidade dos títulos é maior nos últimos dois anos
O Copom decide a nova taxa básica de juros nesta quarta-feira, 02
No dia anterior, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou um ajuste de 1,5 ponto porcentual na Selic, taxa básica de juros do país, elevando-a a 10,75% ao ano, fato já esperado pelo mercado. Com o ciclo de aperto monetário em plena execução e a Selic chegando aos maiores níveis desde junho de 2017, o foco de muitos investidores se voltou para os produtos de renda fixa, que oferecem uma rentabilidade nominal maior, acompanhando o movimento das taxas de juros.
Um ponto que tem chamado a atenção, no entanto, é que, com a taxa de juros em alta, o prêmio dos títulos da renda fixa vem diminuindo e hoje já é praticamente nulo.
O prêmio de um título é o quanto a mais ele vai entregar para o investidor além do seu benchmark (ou o índice de referência, na tradução). No caso da renda fixa, a maioria dos investimentos tem como referencial o CDI, um índice baseado na taxa DI, que costuma ser um pouco menor que a Selic, mas acompanha os movimentos da taxa básica.
O prêmio dos títulos e a taxa Selic
Com o avanço da pandemia de covid-19 e os impactos socioeconômicos trazidos pelo período de isolamento social e redução da atividade econômica no País, o Banco Central, desde o começo de 2020, passou a reduzir a Selic até que ela chegou a mínima de 2,00% ao ano em agosto daquele ano, permanecendo no mesmo patamar até março de 2021.
Neste mesmo período, os CDBs com vencimento em 12 meses pós-fixados passaram a oferecer prêmios maiores e vistosos para o investidor, chegando ao pico de rentabilidade média de 121,05% do CDI no quarto trimestre de 2020, de acordo com um levantamento feito pela Yubb, a pedido do site Exame Invest. Com a Selic passando por um ciclo de alta desde março passado, no entanto, essa rentabilidade média já caiu para 103,15% em janeiro de 2022.
Por que o prêmio dos investimentos está caindo?
Everton Medeiros, especialista da Valor Investimentos explica que essa queda no percentual do rendimento dos títulos atrelados ao CDI tem como causa exatamente a alta na Selic, com o agravante da velocidade com que ela se deu. "Pensando no lado do emissor, um título que remunera 110% do CDI, quando comparado a um de 100%, assume um compromisso financeiro adicional de aproximadamente 1% ao ano, valor que tende a subir ainda mais nos próximos aumentos da Selic", explica.
"Assim, o custo de emissão de dívida se tornou mais alto, fazendo com que a rentabilidade se tornasse cada vez mais próxima do CDI, a fim de diminuir esse spread que se torna muito oneroso principalmente para títulos um pouco mais 'esticados'. Com a tendência de redução da liquidez dos mercados, tanto no Brasil quanto no restante do mundo, o comportamento normal é justamente o de redução da rentabilidade relativa, 'colando' os títulos cada vez mais no CDI".
Everton Medeiros
Além disso, o analista de produtos da CM Capital, Renato Sales, explica que, em momentos em que a taxa de juros está muito baixa, a renda fixa se torna menos atrativa para o investidor, que se torna mais disposto a tomar riscos em busca de um retorno maior com seus investimentos. Dessa forma, Sales pontua que "os títulos indexados ao CDI têm de ser ajustados para ficarem mais atrativos".
Vale ressaltar, porém, que o fato do prêmio ser menor não significa que a rentabilidade do título também foi reduzida. Conforme levantamento da Exame Invest, tomando como referência um CDB que pagasse 120% do CDI em 2020, o retorno do título seria de 2,4% ao ano. Enquanto isso, um título que pague 100% do CDI com o atual patamar da Selic oferece um rendimento de mais de 9% ao ano.
Rendimento dos CDBs versus a taxa Selic
Rentabilidade média dos CDBs com vencimento em 12 meses | Taxa Selic (ao ano) | |
1° trimestre de 2020 | 115,1% do CDI | 3,75% |
2° trimestre de 2020 | 117,3% do CDI | 2,25% |
3° trimestre de 2020 | 119,6% do CDI | 2,0% |
4° trimestre de 2020 | 121,05% do CDI | 2,0% |
1° trimestre de 2021 | 118,1% do CDI | 2,75% |
2° trimestre de 2021 | 117% do CDI | 4,25% |
3° trimestre de 2021 | 113,4% do CDI | 6,25% |
4° trimestre de 2021 | 109,5% do CDI | 7,75% |
Janeiro de 2022 | 103,15% do CDI | 9,25% |
Inflação
Embora o benchmark predominante entre os títulos de renda fixa seja o CDI, o principal referencial entre todos os investimentos para avaliar se o retorno é positivo ou negativo é a inflação oficial do País, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Tendo em conta que o IPCA acumulado em 2021 foi de 10,06%, enquanto a Selic encerrou o ano em 9,25% ao ano, é possível concluir que os títulos que acompanham o CDI ainda não entregam uma proteção de patrimônio tão eficaz quanto aqueles investimentos que, pelo menos, acompanham a variação da inflação. Situação que deve mudar a partir desse novo ajuste da Selic.
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