Economia

Indicação do Copom para a Selic faz a Bolsa perder os 100 mil pontos; taxa cai no 2° semestre?

Especialistas acreditam que taxa pode cair com queda e ancoragem das expectativas de inflação e arcabouço fiscal consistente

Data de publicação:24/03/2023 às 08:00 - Atualizado 2 anos atrás
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A Bolsa sucumbiu aos recados do Copom sobre os rumos da Selic na reunião desta última quarta-feira, 21. A taxa não só foi mantida em níveis elevados como não houve sinalização para sua queda, como esperava o mercado. Ao contrário, o BC abriu uma fresta para promover nova alta, caso necessário. Cenário que fez a Bolsa desabar nesta quinta-feira.

O Ibovespa escorregou aos 97.926 pontos, nível mais baixo desde o dia 18 de julho de 2022, quando atingiu 96.916, segundo levantamento da plataforma TradeMap. O mercado teve corroborada sua percepção de que se houver, a queda dos juros virá somente no segundo semestre, o que teve forte efeito nas ações do varejo, Magalu (MGLU3) foi a maior queda, de 13,09%. Via (VIIA3) caiu 7,54%. 

Selic cai quando inflação mostrar queda consistente e se arcabouço fiscal for sustentável - Foto: Reprodução

Taxa de juro elevada torna o crédito mais caro, inibe o consumo, afeta diretamente as empresas ligadas ao consumo. Mas não é apenas isso, as consequências são mais abrangentes porque os financiamentos ficam proibitivos e impedem a expansão e o crescimento de todos os setores econômicos.

O que esperar para a Selic

Diante dessa perspectiva, o mercado de ações pode viver dias amargos pela frente. Mas até quando? Quais as perspectivas para a Selic? Especialistas ouvidos pela Mais Retorno opinam sobre os próximos passos para a taxa básica. 

O consenso entre eles é que não haverá possibilidade de redução enquanto alguns fatores não se alinharem na conjuntura nacional. 

Para Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, os principais pontos de atenção são: a dinâmica inflacionária e a questão do arcabouço fiscal. "Uma inflação elevada e resistente, este é o principal elemento, enquanto a gente não tiver sinais de um recuo consistente da inflação", comenta ele.

Em sua visão, esse elemento também se apresenta em dois sentidos, tanto a inflação corrente quanto as expectativas de inflação, considerando as projeções dos agentes de mercado para os próximos anos.   

“Além disso, de forma conectada, questões fiscais, sinalização de equilíbrio das contas públicas, de sustentabilidade do endividamento público ao longo do tempo, no longo prazo”, complementa. 

Risco fiscal e inflação no centro das discussões

Na visão de Victor Beyuti, economista da Guide Investimentos, os dois pontos se apresentam como principais também. “Os fatores internos, destacamos a apresentação do novo arcabouço fiscal, que permitirá ao BC avaliar melhor a situação econômica prospectiva do país, além de auxiliar na ancoragem das expectativas de inflação”, explica Beyuti.

Ele destaca também que a mudança de metas tem sido igualmente discutida e pode influenciar a manutenção ou queda da taxa Selic. “Outro ponto importante será o encontro do CMN no meio do ano, uma vez que ele poderá concretizar ou afastar de vez a discussão sobre a mudança das metas de inflação perseguidas pelo BC, o que também tende a ter um efeito relevante sobre a expectativas de inflação”, comenta o economista. 

Para Christopher Galvão, da Nord Research, além do “problema inflacionário importante”, que se apresenta, há também a necessidade de expectativas do mercado estarem ancoradas não somente para os próximos anos, como também considerando prazos ainda mais longos. 

Ele enfatiza a necessidade de “um arcabouço crível e forte” como um dos pilares para garantir a queda da taxa básica de juros. Em sua visão, a necessidade de uma regra fiscal nessas condições se apresenta também em relação às expectativas de mercado.  

“Ainda não se sabe como esse novo arcabouço vai ser, mas se for um arcabouço frouxo e pouco crível, em relação à necessidade do governo de ter um controle de gastos, você pode acarretar, inclusive, uma maior deterioração das expectativas de inflação por parte do mercado, jogando ainda mais dificuldade pra esse processo de arrefecimento", comenta Galvão. 

Taxa pode cair em setembro, ou não?


"Desta forma, entendemos que o juro só começa a cair no 2º semestre, com a primeira queda ocorrendo em setembro. O ajuste deverá ser feito em pílulas de 50 BPS, de modo que a Selic encerre 2023 em 12,25% ao ano" comenta Beyuti.

Para a XP, o cenário previsto é de manutenção da taxa até o fim de 2023. “Para inflação, estimamos uma alta de 5,5%, falando sobre IPCA, para juros o nosso cenário base tem estabilidade da Selic em 13,75% até o final deste ano”.

Contudo, Margato entende que “diante desses últimos eventos no mercado de crédito local envolvendo algumas empresas, isso afetou o mercado de capitais, [o episódio] no sistema bancário dos EUA, estabilidade financeira global, esses temas podem culminar em corte de juros de forma antecipada”, reconhece. 

Mesmo assim, ele reforça su percepção de que a probabilidade de corte de juros é real apenas a partir do segundo semestre de 2023, ao contrário do corte no início de 2024, como presente no cenário base da corretora. 

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Sobre o autor
Camille BocanegraRepórter da Mais Retorno