Sem pauta definida, mercado deve seguir o exterior nesta quarta-feira
Variante delta do coronavírus ainda preocupa investidores
O mercado financeiro retomou a serenidade, após o forte estresse da última segunda-feira, 19, mas não baixou a guarda. Os investidores permanecem cautelosos, atentos principalmente ao cenário internacional, em que a disseminação da variante delta do coronavírus é a principal preocupação.
Como a disseminação da nova cepa do coronavírus é vista como a principal ameaça à retomada do crescimento econômico global, os mercados tendem a permanecer em compasso de espera, sem grandes movimentações, segundo especialistas.
A tendência é que investidores não tomem decisões mais arrojadas enquanto não houver sinais de algum controle sobre a disseminação da variante do coronavírus pelo mundo.
Enquanto isso, os mercados devem continuar reagindo a fatores pontuais do dia a dia, sem sinalizar uma mudança estrutural de trajetória que indique uma tendência mais clara, afirmam especialistas.
A nova safra de balanços trimestrais, que devem indicar recuperação da economia, poderia animar os investidores, mas os resultados podem não ser suficientemente alentadores para dar um empurrão ao mercado de ações.
“O mercado só vai reagir se o resultado trimestral das empresas surpreender muito positiva ou negativamente”, afirma Jennie Li, estrategista de Ações da XP Investimentos. “Principalmente se a ação tiver uma influência muito grande no Ibovespa.”
A fraca agenda de indicadores econômicos no Brasil e no exterior nesta semana contribui também para que o mercado trabalhe em ambiente de banho maria. O recesso parlamentar até o fim de julho esvazia o noticiário que muitas vezes orienta as decisões do investidor.
Sem tensões políticas no mercado
A suspensão dos trabalhos no Congresso paralisa as articulações e o debate na Câmara em torno da reforma tributária, um dos temas de grande interesse das empresas que afeta também o mercado de ações.
O recesso parlamentar suspendeu ainda a coleta de depoimentos na CPI da Covid no Senado, um trabalho de investigação que vinha mantendo a crise política no radar do mercado financeiro, embora não afetasse diretamente o humor dos investidores.
O trabalho da CPI, que deve ser concluído em setembro, está limitado por enquanto à análise de documentos que ajudam no trabalho de investigação.
NY: futuros em alta
Os contratos futuros negociados nas bolsas de Nova York operam com ganhos, com os investidores atentos aos balanços corporativos, que desviou o foco das preocupações sobre o impacto econômico da variante Delta do coronavírus.
Apesar do aumento dos casos de contaminação pelo vírus, a política acomodatícia dos Estados Unidos, os níveis ainda elevados de expansão econômica e o crescimento robusto dos lucros corporativos continuam se sobrepondo, mantendo o otimismo em alta.
Os investidores monitoram também as negociações políticas em andamento sobre um pacote bipartidário de US$ 579 bilhões para gastos de infraestrutura, parte do plano do presidente Joe Biden para uma grande injeção fiscal na economia do país.
Na avaliação da Capital Economics, a recente fraqueza das bolsas nova-iorquinas se explica pelo temor de investidores de que o recrudescimento da crise sanitária, em face da disseminação da variante delta do coronavírus, numa resposta à chamada "negociação de reflação", característica em ambientes de forte apoio monetário.
Contudo, a consultoria britânica diz que ainda não há razão para crer que a nova cepa vai atrasar ou desacelerar a recuperação da economia norte-americana e, por isso, os mercados acionários devem se recuperar adiante.
Veto de Bolsonaro
No dia anterior, o presidente Jair Bolsonaro prometeu vetar trecho da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovada pelo Congresso que prevê aumento do Fundo Eleitoral de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões.
Além disso, ressaltou a possibilidade de reajustar a despesa com os partidos políticos pela correção da inflação. O presidente não deixou claro ao que exatamente se referia, nem detalhou prazo ou qual seria o valor de referência a seriam considerados.
"O ano retrasado eu sancionei algo parecido, mas que se levou em conta a inflação do período, e eu não tinha como vetar, alguns queriam que eu vetasse mesmo assim. Se eu vetar, eu estou no curso do artigo 85 da Constituição, que fala dos crimes de responsabilidade. Eu tenho que cumprir lei", disse o presidente, em entrevista à Rádio Itatiaia.
CPI da Covid
Apesar de as oitivas estarem suspensas, algumas movimentações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado seguem na pauta de assuntos acompanhados pelo mercado.
Na véspera, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, que denunciou suspeitas de irregularidades na aquisição da vacina indiana Covaxin, afirmou à Polícia Federal que trocou o aparelho celular no qual recebeu as mensagens e as ligações que, segundo ele, representavam "pressão atípica" de seus superiores para liberar a importação da vacina Covaxin com inconsistências no processo
As mensagens não ficaram salvas na nuvem e não foram espelhadas para o novo aparelho. Chefe da divisão de importação do ministério, Luis Ricardo prestou depoimento à polícia na semana passada, no inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro prevaricou ao ser comunicado sobre as supostas irregularidades na pasta.
À polícia, ele afirmou que mantém todos os "prints" - "fotos" das conversas mantidas. Os irmãos Miranda afirmam que a troca de aparelho não enfraquece a denúncia que eles apresentaram porque as conversas foram encaminhadas ao deputado e a investigação pode avançar sobre os aparelhos das autoridades que exerceram a suposta pressão.
Bolsas asiáticas fecham sem sinal único
As bolsas da Ásia fecharam mistas nesta quarta-feira, após um pregão de recuperação de perdas em Nova York.
Na China continental, o índice Xangai Composto subiu 0,7%, aos 3.562,66 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 1,5%, aos 2.492,54 pontos.
As bolsas chinesas foram impulsionadas, principalmente por ações de montadoras e empresas relacionadas a energias renováveis.
Em outras partes da Ásia, o Nikkei subiu 0,6% no Japão, aos 27.548,00 pontos. Com o começo das Olimpíadas de Tóquio, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, disse que é impossível eliminar o risco da covid-19 durante as competições.
Também no Japão, as exportações cresceram 48,6% em junho na comparação anual, acima do esperado por economistas consultados pelo Wall Street Journal.
Na avaliação do analista-chefe de mercado da CMC Markets, Michael Hewson, as bolsas asiáticas, em geral, registraram uma recuperação "decente" hoje. Para profissionais do Danske Bank, o sentimento nos mercados ainda se mantém "misto".
Em Hong Kong, o Hang Seng recuou 0,1%, aos 27.224,58 pontos, e o Kospi teve baixa de 0,5% em Seul, aos 3.215,91 pontos, pressionado para baixo por ações do setor de tecnologia.
Na Oceania, a bolsa da Austrália subiu mesmo em meio ao lockdown no país para conter a piora da pandemia de covid-19. O S&P/ASX 200 registrou alta hoje de 0,8% em Sydney, aos 7.308,70 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado