Quer viver de renda sem trabalhar? Veja estratégias de investimentos para atingir esse objetivo
Especialistas indicam os ativos mais apropriados para montar uma carteira que proporcione rendimentos mensais
Escolher se quer ou não trabalhar para viver, contar uma renda que permita pagar as contas, sem entrar em dívidas, deve ser o sonho de muita gente, ao mesmo tempo que possa parecer algo inatingível ou irreal. A chamada renda passiva, obtida por outras fontes que não o trabalho, pode ser alcançada, desde que haja planejamento, disciplina e escolha adequada dos ativos.
Três especialistas ouvidos pela Mais Retorno mostram o mapa da mina, indicam os ativos, falam dos cuidados e da necessidade de diversificação, de modo a evitar a frustrações, além de calcular o valor necessário a ser aplicado agora para ter a renda desejada no futuro.
É possível encontrar opções tanto na renda fixa como na renda váriavel, em ativos que distribuem de forma regular ganhos, como as ações e seus dividendos, outros títulos e seus cupons, ou simplesmente investimentos que, com os rendimentos, permitem a composição da renda. “A diferença é que em ativos que não pagam dividendos, você tem que resgatá-los quando precisar do dinheiro”, diz Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos.
Renda variável
Na renda variável, os especialistas analisam as ações e os fundos imobiliários.
Ações
Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank, explica que nem todas as ações são indicadas para conseguir a renda passiva. “É necessário que a empresa correspondente tenha lucro e escolha usá-lo para pagar dividendos aos acionistas em vez de reinvestir no negócio, por exemplo”.
Se a opção foi pela distribuição de dividendos, cada investidor da companhia vai receber conforme a quantidade de ações que possui. Se o dividendo a ser pago por ação for de R$ 1 e o investidor tiver 100 ações, ele receberá R$ 100, explica ela.
Além do valor, a periodicidade do pagamento também varia de empresa para empresa. “O pagamento pode ser mensal, trimestral, quadrimestral, semestral, anual... Algumas companhias, inclusive, pagam dividendos sem regularidade definida. Por esse motivo, para ter uma renda passiva com alguma previsibilidade, é necessário analisar bem o histórico das companhias e diversificar os aportes”, esclarece Larissa.
O especialista da Valor Investimentos concorda que uma das estratégias de sucesso para obter uma renda passiva é montar uma carteira de ações com foco em empresas boas pagadoras de dividendos.
“Em geral vão ser carteiras de empresas com perfil mais conservador, mais maduras, que estão em estágio de crescimento mais adiantado e consomem pouco do caixa gerado para investimentos. Então sobra muito caixa a ser distirbuído em dividendos”, diz Varejão. Ele cita entre as empresas mais escolhidas para esse tipo de estratégia, principalmente as do setor elétrico, de utilidades públicas, e os bancos.
Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, lembra que entre as boas pagadoras de proventos no ano passado, os destaques ficaram por conta de Vale e Petrobras, que “distribuíram dividendos bem graúdos para quem tinha essas ações”. Para ele, ao receber esse dinheiro, o investidor pode escolher entre reinvestir em mais ações, sacar para pagar contas, ou fazer o que quiser.
Varejão ressalta que um ponto positivo no investimento nesse tipo de ação, é que no longo prazo haverá ganhos tanto com a valorização da ação como no pagamento dos dividendos. Ao mesmo tempo, como contra-indicação, está o fato de que a perodicidade do pagamento de dividendos não é definida. “A empresa paga quando tem lucro, algumas têm planos definidos, mas outras, não, e você não tem um fluxo regular de pagamentos”.
Cohen também fala da importância de saber e selecionar as ações que serão as fontes de renda: “Imagine se você investe em uma empresa que é uma boa pagadora de dividendos, mas que tenha uma má gestão por algum motivo em algum período? Ou se a empresa muda a política de dividendos? Ela para de distribuir dividendos, e aí não vai haver renda passiva nenhuma”.
Fundos Imobiliários
Já com os fundos imobiliários há uma previsibilidade maior com os pagamentos, pontua o especialista da Valor. “Quando você compra um fundo imobiliário ele é obrigado a distribuir, todos os meses, 95% das receitas que ele tem com alugueis, então todo mês vai pingar na sua conta um montante muito parecido”.
Larissa relata que os fundos imobiliários são muito utilizados para a geração de renda passiva. O investidor que compra um FII está comprando a cota de um fundo que investe em ativos imobiliários como shoppings centers, galpões logísticos e prédios comerciais, entre outros. Os fundos imobiliários são, portanto, uma forma indireta de obter uma renda passiva com imóveis.
A planejadora financeira destaca também que esse modelo oferece vantagens, como maior diversificação e liquidez, mas também riscos inerentes ao mercado imobiliário, como a vacância dos imóveis, inadimplência dos inquilinos e a própria valorização ou desvalorização dos ativos.
Cohen também fala dos riscos relativos aos FIIs, que podem frustrar a geração de renda passiva. Ele cita o caso recente da crise das empresas de varejo, que deixaram de pagar alugueis, levando o fundo a interromper também a distribuição de dividendos. A saída para diluir esses riscos é a diversificação, segundo ele.
Embora possa haver esses incidentes com o setor imobiliário, o especialista da Valor afirma que a estratégia de investir em FIIs para uma renda passiva é apreciada na corretora. Primeiro porque o rendimento dos fundos imobiliários em geral está bem elevado, já que o preço caiu bastante nos últimos anos, e segundo porque os rendimentos são isentos de imposto de renda para a pessoa física, assim como os dividendos das ações.
“O investidor aproveita esse benefício. Ao comprar um imóvel e alugá-lo na pessoa física, você é tributado nos alugueis e no fundo imobiliários você não é. Então é uma estratégia que as pessoas gostam para compor uma renda”, diz Varejão.
Renda Fixa
Títulos do Tesouro, papeis do crédito privado para empresas e CDBs estão entre os ativos indicados.
Títulos do Tesouro
No Tesouro Direto, que tem o Tesouro Nacional como emissor, o investidor pode encontrar opções que pagam remuneração periódica. É o caso dos títulos públicos do Tesouro IPCA+ ou prefixado com juros semestrais.
“Ao comprar um título como este, em vez do investidor receber o rendimento do título ao final do prazo, ele recebe o rendimento correspondente a cada seis meses. A partir disso, cabe ao investidor montar uma carteira com títulos de diferentes prazos para distribuir o rendimento ao longo dos meses”, explica Larissa.
Varejão diz que é possível criar a carteira com títulos do Tesouro, que pagam esses cupons semestrais, tanto os vinculados à inflação, as NTN-B, como os prefixados, as NTN-F. Como têm datas de vencimento distintos, em anos pares e ímpares, o ideal é fazer uma mescla de modo a ter o pagamento dos cupons durante o ano.
“No fim do prazo, após ter descontado todos os cupons, o investidor resgata o valor aplicado inicialmente”, afirma Larissa. Outra opção de título do Tesouro Direto, lembra ela, é o Renda+, que paga renda mensal ao investidor por 20 anos após um período de contribuição que varia de acordo com o prazo do título. “Essa é uma opção para aqueles que podem investir agora e obter uma renda extra para completar a aposentadoria, por exemplo”.
Crédito privado
Além dos títulos do Tesouro, Varejão diz que a renda passiva pode ser gerada a partir de títulos do crédito privado, como debêntures, CRIs (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio). “Diversos deles oferecem pagamentos de cupons, muitos deles até mensais. O ideal é que o investidor analise as diferentes estratégias pra diversificar o risco, e não concentrar em nenhuma classe”.
CDB
Os Certificados de Depósito Bancário são considerados o segundo produto de investimento mais simples do mercado, atrás apenas da poupança, ressalta a planejadora.
Eles funcionam como um empréstimo feito a um banco emissor, que mais tarde devolve o dinheiro ao cliente acrescido de juros ou remunerações predeterminadas. Além disso, são protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que reembolsa até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira.
Normalmente, os CDBs seguem a lógica dos demais títulos de renda fixa que pagam a remuneração apenas no final do período. Mas há uma modalidade que proporciona rendimento mensal, creditado na conta do cliente, em vez de ir reaplicando o dinheiro até o vencimento.
Larissa cita o CDB Renda Mensal lançado recentemente pelo C6 Bank. Com aporte mínimo de R$ 10 mil, o novo produto está disponível na plataforma de investimento do banco. As condições de taxas e prazos são as mesmas de outros CDBs do banco, com opções pós e prefixadas.
A planejadora faz uma simulação com o produto: para receber R$ 1 mil por mês líquido de Imposto de Renda, por exemplo, o cliente deve investir aproximadamente R$ 117 mil em um CDB prefixado de 4 anos com taxa de 14,10% ou R$ 120 mil em um pós-fixado de 4 anos que remunere 114% do CDI.
Tomando como base esses dois produtos, para receber uma renda mensal líquida de R$ 500, a aplicação aproximada necessária seria de R$ 59 mil e R$ 60 mil, respectivamente. O cálculo considerou os seis primeiros meses de renda, com uma alíquota de 22,5% de imposto de renda. Para o cálculo do CDB pós-fixado, foi considerado o contrato de DI Futuro para 2027 divulgado pela B3 em 19 de abril deste ano.