Que impactos os atos golpistas podem trazer aos ativos brasileiros: economistas divergem
Enquanto especialistas acreditam que efeitos serão amenos, outros alertam sobre consequências no longo prazo
No início da tarde desta segunda-feira, 9, o Ibovespa opera em alta, demonstrando rápida reação em relação aos atos golpistas em Brasília no dia anterior. Um comportamento esperado por alguns economistas como Wells Fargo Brendan McKenna, da Wells Fargo, e Cristiano Oliveira do Banco Fibra.
Mas nem todos foram nessa mesma direção. William Jackson da Capital Economics, acredita quem embora tenham implicações principalmente políticas, os espisódios podem trazer risco de longo prazo para os ativos financeiros do Brasil.
Fargo argumenta que a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes por grupos radicais que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não indicam um efeito significativo do movimento no processo democrático brasileiro. Por isso, o Capital Economics reiterou a sua projeção de dólar em R$ 5,30 no fim do primeiro trimestre e em R$ 5,0 até dezembro de 2023.
"Embora o risco político seja normalmente elevado no Brasil e possa pesar sobre os preços de ativos locais, acreditamos que o momento '8 de janeiro' do Brasil não terá impactos duradouros sobre os mercados financeiros locais ou a economia brasileira", escreve em relatório o economista. Ele também traça um paralelo entre os atos do último domingo e a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021.
Oliveira, do Fibra, previa uma abertura dos negócios com alguma reação negativa, “mas não deve durar por todo o dia”, afirmou ele.
"Acredito que, na abertura dos negócios, alguma reação negativa deve ocorrer, mas ela não deve durar por todo o dia", afirma o economista do Fibra, em comentário. Ele afirma que os atos neste domingo devem servir como um "tiro pela culatra", pelo seu potencial de afastar a classe média das grandes cidades da extrema-direita. “Assim, Lula e seu grupo ganham politicamente”.
"O risco do ponto de vista econômico é que essa ameaça leve Lula a abraçar as partes mais esquerdistas de sua agenda (mais gastos com a previdência social, maior papel do Estado na economia e redução do papel das forças no mercado), em vez de buscar um compromisso com seus oponentes políticos", avalia Jackson, do Capital Economics. As implicações econômicas para o País ainda dependem de alguns fatores, como a possibilidade de novos eventos do tipo no Brasil.
"Existe muitas maneiras pelas quais os efeitos econômicos podem se materializar, incluindo uma falta de governabilidade que impede os formuladores de políticas de enfrentar os principais desafios econômicos", afirma Jackson.
Sem divisões políticas
McKenna entende que a condenação dos atos pelos principais partidos brasileiros mostra que os atos fracassaram em criar divisões políticas no País. Mesmo assim, o economista reconhece que o movimento contribui para riscos altistas no curto prazo para o dólar em relação ao real, devido ao aumento do risco político. Ele reiterou o viés de alta na sua projeção para o dólar ao fim do primeiro trimestre deste ano.
"No curto prazo, estaremos focados na reação do governo Lula aos protestos", afirma. "No médio e longo prazo, a política fiscal de Lula provavelmente será o principal vetor da moeda. Se a política fiscal futura resultar em erosão da responsabilidade fiscal, nós ficaríamos negativos em relação à moeda brasileira ao longo de 2023, e a nossa projeção de dólar em R$ 5,0 seria ajustada para refletir uma perspectiva de fraqueza para o real até o fim deste ano."/ Com Agência Estado