Por que a Bolsa caiu 7,49%, a pior aplicação, e o dólar subiu 2,99% em fevereiro? Veja o ranking
Um conjunto de fatores domésticos e internacionais pesou sobre o mercado de ações e deu combustível para o dólar
Em mês marcado pelo receio de continuidade de alta dos juros pelo mundo, e aqui pelas críticas do presidente Lula ao Banco Central, pela crise entre as varejistas, e pelo crédito mais escasso e mais caro, a Bolsa ficou na lanterninha no ranking dos investimentos em fevereiro.
Já o dólar ocupou posição de liderança alimentado por todas essas incertezas. A renda fixa não decepcionou apoiada em uma Selic de 13,75%. Com a estimativa de um IPCA de 0,81% para fevereiro, boa parte das aplicações em juros vão conseguir pagar ganho real ao investidor. Confira as posições na tabela elaborada com dados do administrador de investimentos, Fabio Colombo.
Balanço de fevereiro
Investimento/indicador | Rendimento/variação |
Dólar | 2,99% |
Títulos IPCA* | 1,05% a 1,45% |
CDB ** | 0,81% a 1,11% |
Fundos DI** | 0,62% a 1,02% |
Fundos de Renda Fixa** | 0,51% a 0,91% |
IPCA*** | 0,81% |
Poupança (líq.) | 0,71% |
Bitcoin**** | 0,38% |
Euro | 0,32% |
IGPM | -0,06% |
Fundos Imobiliários (IFIX) | -0,45% |
Ouro | -2,00% |
Bolsa | -7,49% |
(*) indicativo
(**) média
(***) estimativa
(****) cotação site Investing
Juros americanos
Em fevereiro, um conjunto de fatores pesou sobre a bolsa, mas o de maior impacto continua sendo o receio em relação à permanência dos juros em níveis elevados e por mais tempo nos Estados Unidos, o que pode gerar uma recessão não só restrita ao país americano, mas atingindo seus parceiros comerciais.
Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, lembra que em janeiro o mercado trabalhava com a perspectiva de queda da inflação americana. Um contexto que já foi abandonado com a divulgação de dados mais recentes, que mostram fôlego dos preços e isso preocupa pela perspectiva de novas altas de juros e um possível desaquecimento da economia nos EUA.
“É uma visão mais macro, do que vai acontecer no mundo, até onde os juros americanos vão subir? Já não foi unânime a alta de 0,25 pp do Fed (banco central americano) nos juros americanos, houve muitos votos a favor de 0,50 pp. Possivelmente podem chegar em 6%, quem sabe não vão chegar acima disso, questiona Brasil.
Diante dessa possibilidade de juros altos em títulos seguros nos EUA, o capital estrangeiro migra dos países emergentes para o porto seguro da renda fixa americana. A aversão ao risco e a saída de recursos do País explicam em boa dose a alta do dólar no mês e a queda da bolsa, segundo Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.
“Com a inflação nos Estados Unidos vindo pior que o esperado, a percepção do investidor foi a de que o banco central americano deve seguir com a taxa de juros num patamar bastante elevado, contracionista, podendo chegar a 5,5%. Isso tira dinheiro de mercado de risco", pontua Luives.
Um movimento que também identificado pelo fundador da Gava: “No período de carnaval houve saída de recursos, e até então havia uma entrada de capital estrangeiro no Brasil, e agora ficou claro a saída dos gringos”.
Crise no varejo
A piora no mercado de crédito, com crise entre as varejistas e outras empresas, também trouxe apreensão ao mercado de ações, ressalta Leonardo Piovesan, analista e fundamentalista da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologai e educação para investidores.
“Tivemos o caso da Americanas que vem se desenrolando desde janeiro, além de Lojas Marisa, que anunciou a contratação de uma consultoria para reestruturar suas dívidas, uma empresa que desvlaorizou muito no mês, e a Light com o risco de entrar em recuperação judicial por conta de dívidas também, e o consequente fechamento do mercado de crédito”, relata Piovesan.
Ricardo Brasil destaca a crise de Americanas está refletindo em outros setores como o de bancos, lembrando que duas instituições financeiras foram liquidadas em fevereiro, a Portocred e BRK Financeira. “Vai ficar mais difícil para conseguir o crédito privado, que não tem FGC (Fundo Garantidor de Crédito) vai ficar mais difícil para as empresas emitirem debêntures, CRIs ou CRAs", constata ele.
Governo X BC
Os três analistas também apontam os embates entre o presidente Lula com o Banco Central como fator de pressão sobre a Bolsa e o dólar.
As críticas à manutenção da Selic em 13,75%, na última reunião do Copom no começo do mês, à independência do Banco Central ou ainda a cogitação de mexer nas metas de inflação para este ano geraram insegurança aos investidores.
“Esses assuntos trouxeram receio para o mercado. Mais para o fim do mês estavam mais pacificados, inclusive algumas notícias positivas saíram nos últimos dias de fevereiro, tratando do novo arcabouço fiscal que deve ser anunciado no mês de março”, afirma Paulo Luives, da Valor.