Renda Variável

Petrobras, Vale e Marfrig respondem por mais de 90% dos dividendos pagos em setembro

Juntas, as três empresas desembolsam R$ 44,57 bilhões para seus acionistas

Data de publicação:01/09/2022 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
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A temporada de pagamento de dividendos tem início nesta quinta-feira, 1, com uma lista grande de empresas desembolsando proventos para os seus acionistas. A lista é puxada tradicionalmente pelos bancos Itaú e Bradesco, e desta vez também conta com a força da Vale, que paga mais de R$ 9 bilhões, ou R$ 2,03 por ação em dividendos e quase R$ 7 bilhões em JCP - ou R$ 1,53 por ação.

Segundo levantamento feito pela Mais Retorno, 26 empresas pagarão R$ 48,32 bilhões em dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP). Nesse montante, o setor de commodities ganha protagonismo, com gigantes como Petrobras, Vale e Marfrig desembolsando, juntas, R$ 44,57 bilhões, mais de 90% do volume total de lucros distribuídos.

Petrobras é a grande estrela da temporada de dividendos de setembro - Foto: Reprodução

De acordo com Henrique Tavares, analista de investimentos da DVinvest, vários fatores foram responsáveis por impulsionar essas companhias a pagarem dividendos muito gordos. Entre eles está o aumento do preço de commodities como petróleo e a arroba do boi, em patamares elevados que surpreenderam o mercado.

Outro ponto relevante, segundo Tavares, é o baixo nível de investimentos, um dos menores da história. "São companhias que hoje não têm a necessidade de fazer grandes investimentos, estão com sua dívida controlada e ainda surfaram a onda das commodities bem valorizadas no mercado internacional".

Petrobras: dividendos históricos

Nessa onda de lucros elevados, Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, destaca que a Petrobras é a grande estrela da temporada. "Nunca se viu na história da petroleira uma distribuição de dividendos tão forte". A companha paga R$ 27,8 bilhões em dividendos, ou R$ 3,36 por ação.

A empresa fez um primeiro pagamento no primeiro trimestre, com dividend yield na casa dos 12%. E no mês anterior, deu início a um desembolso com um dividend yield de 20%. "A Petrobras deve fechar 2022 com um dividend yield de 50%, metade do seu valor em dividendos".

Outro vento que também sopra em favor dessa distribuição é o valuation em baixa da companhia na Bolsa. "Quanto menor o valuation, maior fica o dividend yield", ressalta Varejão.

O especialista da Valor enfatiza ainda que a própria eficiência da companhia é um pano de fundo importante para esse pagamento.

"A empresa está eficiente do ponto de vista operacional, com uma estrutura mais enxuta e focada nos ativos de interesse, em um forte movimento de desinvestimentos".

Wagner Varejão, da Valor Investimentos

No segundo trimestre deste ano, a Petrobras registrou lucro líquido de R$ 54,330 bilhões, maior resultado nominal desde o quarto trimestre de 2020, quando a companhia reportou ganho de R$ 59,9 bilhões.

Confira quem paga dividendos em setembro

DataEmpresaTickerProventosSetorValor por ação
01ItaúITUB3 e ITUB4dividendosfinanceiroR$ 0,015
01BradescoBBDC3JCPfinanceiroR$ 0,017
01BradescoBBDC4JCPfinanceiroR$ 0,018
01BanestesBEES3 e BEES4JCPfinanceiroR$ 0,020
01PortobeloPTBL3dividendosconstrução civilR$ 0,162
01PortobeloPTBL3JCPconstrução civilR$ 0,124
01ValeVALE3dividendosmineraçãoR$ 2,032
01ValeVALE3JCPmineraçãoR$ 1,539
01Banco do Estado
do Pará
BPAR3JCPfinanceiroR$ 3,028
01EnergisaENGI3, ENGI4 e
ENGI11
dividendoselétricoR$ 0,232 por ação
ON e PN e
R$ 1,16 por unit
01ItaúsaITSA3 e ITSA4JCPfinanceiroR$ 0,023
01MelnickMELK3dividendosconstrução civilR$ 0,034
06SantanderSANB3, SANB4 e SANB11JCPfinanceiroR$ 0,217 por ação ON, R$ 0,239 por ação PN e 
R$ 0,457 por unit
06Banco do NordesteBNBR3JCPfinanceiroR$ 1,934
08Kepler WeberKEPL3JCPmáquinas e equipamentosR$ 0,209
09LavviLAVV3dividendosconstrução civilR$ 0,307
13CamilCAML3JCPalimentosR$ 0,070
15MarfrigMRFG3dividendosproteína animalR$ 0,757
20PetrobrasPETR3 e PETR4dividendospetróleoR$ 3,366
20EternitETER3JCPconstrução civilR$ 0,297
23TotvsTOTS3JCPtecnologiaR$ 0,100
23CieloCIEL3JCPmeios de pagamentoR$ 0,832
29 FerbasaFESA3 e FESA4JCPmineração e metalurgiaR$ 0,401
29 FerbasaFESA3 e FESA4dividendosmineração e metalurgiaR$ 0,568
30Banco do BrasilBBAS3JCPfinanceiroR$ 0,273
30M.Dias BrancoMDIA3JCPalimentosR$ 0,050
30Br PropertiesBRPR3dividendosimobiliárioR$ 0,029
30PositivoPOSI3dividendostecnologia e educaçãoR$ 0,420
30AES BrasilAESB3dividendoselétricoR$ 0,107
30TrisulTRIS3dividendosconstrução civilR$ 0,109
Fonte: Mais Retorno

Vale: proventos gordos, apesar da queda nos lucros

Outro destaque na temporada de pagamentos do mês, a Vale viveu uma situação um pouco diferente da Petrobras, com o minério de ferro sofrendo uma fase de desvalorização no mercado internacional, por conta do desaquecimento da economia chinesa. Mas mesmo assim manteve um nível elevado de dividendos para os seus acionistas.

O reflexo desse cenário adverso para a Vale foi uma queda de 25% no lucro líquido atribuído aos acionistas, somando R$ 30,03 bilhões. Apesar disso, frente ao primeiro trimestre deste ano, o lucro subiu 30%.

Dólar valorizado

Empresas que têm negócios lá fora e receitas dolarizadas também foram favorecidas no período, com a alta da moeda americana, o que se traduz nos dividendos elevados. Esse é o caso da Vale e da Marfrig, de proteína animal.

"A Marfrig foi beneficiada principalmente pelo aumento expressivo da carne vermelha, que atingiu patamares muito elevados desde a pandemia. Além disso, vem diversificando a forma de retorno aos acionistas, com a recompra de ações".

Henrique Tavares, da DVinvest

Bancos: recorrência é o ponto forte

Tradicionais pagadores de dividendos, os quatro bancões desembolsam dividendos e JCP em setembro. No entanto, de acordo com Tavares, da DVinvest, o ponto forte deles nesse momento é a recorrência, e não pagamentos expressivos.

"Nenhum banco está se destacando em valores, pois boa parte deles está passando por um processo de estruturação de capital, tentando recuperar os patamares anteriores do índice de Basileia. Além disso, estão com estratégias agressivas de investimentos para reforçar seus canais digitais por conta da concorrência".

Wagner Varejão, da Valor Investimentos

Varejão, da Valor, reforça que um dos pontos em favor dos gigantes financeiros é a alta da Selic - hoje na casa dos 13,75% ao ano - que ajuda a elevar suas margens, trazendo mais competitividade para o setor.

"Quando a Selic estava baixa, as fintechs conseguiam captar recursos com facilidade. No entanto, com a elevação dos juros, esse cenário ficou mais difícil para os bancos digitais e favoreceu as empresas mais consolidadas".

Também pesa em favor dos dividendos dos bancos, de acordo com o especialista, o valuation descontado das companhias. "Sua precificação está na menor média histórica", pontua.

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