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Come cotas
Fundos de Investimentos

O que é o Come-Cotas? Qual o impacto nos Fundos de Investimentos?

O come-cotas é uma forma engenhosa de o governo colocar a mão no seu dinheiro antes de você. O que? Essa frase te pareceu sensacionalista demais?…

Data de publicação:27/03/2017 às 11:35 -
Atualizado 2 anos atrás
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O come-cotas é uma forma engenhosa de o governo colocar a mão no seu dinheiro antes de você.

O que? Essa frase te pareceu sensacionalista demais?

Infelizmente, a verdade sobre o come-cotas é exatamente essa, sem nenhum exagero.

Através do come-cotas o governo tem um poderoso mecanismo de tributação de fundos de investimentos.

Como esse é um formato um pouco incomum de cobrança tributária, muitos investidores de primeira viagem acabam sendo pegos de surpresa.

Por isso, quando ocorre essa cobrança não é difícil recebermos perguntas como:

  • O que aconteceu com o valor da minha carteira de fundos?
  • Os fundos que eu invisto tiveram prejuízo nos últimos dias?
  • Por que minha quantidade de cotas no fundo diminuiu?

Por conta disso, fizemos inclusive um infográfico do come-cotas inédito aqui no Mais Retorno que recomendo que você veja mais tarde.

Mas não se preocupe, hoje esclareceremos essas perguntas de forma tão clara e simples que você vai terminar esse texto se sentindo um especialista no assunto.

Antes de tudo, é muito importante que você conheça seu perfil de investidor para fazer a escolha certa. Por isso preparamos um teste rápido, fácil e divertido de fazer e com uma surpresa especial no final.

É só clicar aqui e seguir o passo-a-passo!

Sem mais delongas, vamos lá!

O que é Come-cotas

Aqui vai a dura realidade: o come-cotas é simplesmente uma antecipação do recolhimento do imposto de renda sobre o lucro dos Fundos de Investimentos.

Exatamente isso que você leu: antes mesmo de você pensar em resgatar seu investimento, o governo já vai levando a parte dele. E ele ainda faz isso duas vezes por ano.

Esse recolhimento acontece sempre no último dia útil dos meses de maio e novembro.

Sua cobrança é um pouco confusa num primeiro momento, pois ela não diminui simplesmente o valor dos seus investimentos.

O que a diferencia é que essa tributação incide diretamente sobre o número de cotas dos fundos e não sobre o valor delas. Ou seja, haverá uma redução na quantidade de cotas que cada cotista possui em seus respectivos fundos.

Colocando em termos práticos, vamos supor que um cotista tenha 1000 cotas no valor de R$ 1,00, totalizando, portanto, uma carteira de R$ 1.000,00. Se o governo identificar que o imposto de renda devido do lucro dessa carteira equivale a 5% do total, então esse investidor deverá pagar R$ 50,00.

Assim, no dia em que ocorrer a cobrança do come-cotas o investidor amanhecerá com 950 cotas de R$ 1,00, totalizando uma carteira de R$ 950,00.

É daí que surge o nome "come-cotas" para essa prática.

Além disso, existem ainda alguns detalhes que geram mais um pouco de confusão (como se já não fosse o suficiente), na maioria dos investidores. Destaquei 6 deles a seguir:

  1. O come-cotas irá cobrar sempre a menor alíquota de imposto de renda sobre um determinado fundo de investimento. Basicamente existem 2 alíquotas diferentes:
    • Fundos de Longo Prazo, em que a alíquota mínima que incide o come-cotas é de 15%; e
    • Fundos de Curto Prazo, em que a alíquota mínima que incide o come-cotas é de 20%.
  2. Alguns fundos tem uma alíquota de imposto de renda regressiva de acordo com o tempo de aplicação, que incide somente no resgate do investimento. Essa tabela funciona da seguinte maneira:
    • 22,5% para aplicações que permanecerem 180 dias; (para fundos de Curto e Longo Prazo)
    • 20% para aplicações que permanecerem entre 181 e 360 dias; (para fundos de Curto e Longo Prazo)
    • 17,5% para aplicações que permanecerem entre 361 e 720 dias; e (apenas para fundos de Longo Prazo)
    • 15% para aplicações que permanecerem mais de 720 dias. (apenas para fundos de Longo Prazo)
  3. Sempre que houver um resgate antes de atingir a incidência mínima do IR pela tabela regressiva, será cobrado somente a diferença do imposto, que será retida na fonte no momento do resgate. Ou seja, se o prazo do investimento ainda está na faixa dos 20% de IR, quando você resgatar sua aplicação, serão retidos os 5% que não foram cobrados no come-cotas;
  4. Se você já sofreu incidência do come-cotas e resgatar depois de algum tempo, antes da incidência seguinte, naturalmente será retido na fonte toda a diferença do que seria supostamente devido ao imposto. Isto é, se você sofreu a incidência no final de maio, e resolveu resgatar, por exemplo, em agosto, você pagará:
    • Integralmente o imposto sobre o lucro de junho a agosto, e
    • Somente a diferença do que havia lucrado antes de maio, conforme explicado no item 3;
  5. Não existe incidência de come-cotas para alguns tipos de fundos de investimentos classificados como Fundo de Investimento em Ações. Afinal, a alíquota de Imposto de Renda para esses fundos é sempre de 15%, independentemente do tempo que o dinheiro permanecer aplicado;
  6. Qualquer fundo de Previdência Privada também é isento do come-cotas.

Agora que os detalhes a respeito das regras do come-cotas já estão esclarecidos, a impressão que fica é que ele não passa da simples cobrança de imposto de renda sobre o lucro do investimento, apenas num formato um pouco menos "tradicional".

No entanto existe uma "pegadinha" escondida aí no meio e por isso reservei um espaço para escrever exclusivamente sobre ela no próximo tópico.

Afinal de contas, o come-cotas influencia o resultado dos meus fundos de investimentos?

O efeito do come-cotas nos resultados dos investimentos

Respondendo imediatamente a pergunta levantada no parágrafo anterior de forma curta e grossa: sim, o come-cotas influencia o resultado dos investimentos em fundos.

E o mais triste é que esse impacto é negativo e crescente no longo prazo.

Entretanto, para compreender como isso acontece, teremos que passear um pouco pelos cálculos da matemática financeira. Mas não se preocupe, demonstrarei o passo-a-passo da forma mais intuitiva, simples e didática possível.

Para isso consideraremos as seguintes condições:

  1. Vamos utilizar dados redondos e apenas a alíquota mínima de imposto de renda para facilitar os cálculos e a sua compreensão.
  2. Consideraremos os efeitos de uma aplicação inicial de R$ 100.000,00, com um retorno de 10% a.a. e resgate após 10 anos.
  3. Para podermos comparar e descobrir a diferença vamos fazer 2 cálculos:
    1. Primeiro considerando uma aplicação com os mesmos valores para um título de renda fixa qualquer (sem a incidência do come-cotas); e
    2. Segundo considerando a mesma aplicação, mas em um fundo de investimentos (com incidência do come-cotas).

Com as características básicas dos investimentos definidas, vamos agora analisar cada um dos casos individualmente.

1º caso - Aplicação em títulos (sem come-cotas)

O cálculo do valor futuro acumulado para aplicações (ou seja, o valor que você vai resgatar lá no final do investimento), sem a incidência do come-cotas, é muito simples. A fórmula utilizada para esse cálculo é a seguinte:

VF = VP x (1+i)^n

onde:

VF = Valor Futuro

VP = Valor Presente

i = taxa de juros

n = período

Logo, teremos:

VF = 100.000,00 x (1+0,10)^10

VF = 259.374,25

Resumindo, ao aplicarmos os R$ 100.000,00 durante 10 anos, sendo remunerados a 10% ao ano, no final do período o valor bruto (antes de descontar impostos) acumulado seria de R$ 259.374,25.

Agora, depois desse período ao resgatarmos esse investimento, pagaremos um IR de 15% sobre o lucro. Portanto, serão descontados 15% apenas sobre os R$ 159.374,25 (já que os R$ 100.000,00 iniciais são o capital inicial e não fazem parte do lucro).

Assim teremos:

Imposto de Renda = 15% x 159.374,25 = R$ 23.906,14

Agora que já sabemos o valor do imposto de renda devido, basta subtrair do valor futuro que encontramos acima.

VFL (Valor Futuro Líquido) = 259.374,25 - 23.906,14 = 235.468,11

Pronto, agora sabemos que ao final dos 10 anos resgataríamos para nossa conta o Valor Futuro Líquido de R$ 235.468,11.

Note, entretanto, que o imposto de renda só foi cobrado no final do período quando resgatamos o dinheiro.

E é justamente isso que faz toda a diferença.

Precisamos agora fazer o mesmo cálculo considerando a incidência de come-cotas a cada 6 meses em alíquotas dos mesmos 15%.

Vamos lá!

2º caso - Aplicação em fundos (com come-cotas)

Para calcular o retorno com o come-cotas, a fórmula e os princípios são exatamente os mesmos que vimos acima.

No entanto será necessário fazer o cálculo com os efeitos da incidência a cada 6 meses, que é quando o governo faz a antecipação do imposto de renda.

Como a aplicação será feita ao longo de 10 anos, seria necessário calcularmos 20 vezes a incidência do imposto (2 vezes por ano).

Para simplificar, demonstrarei como seria a incidência apenas no primeiro ano e depois apresentarei o resultado final, afinal são sempre os mesmos cálculos para cada período.

Assim, o cálculo será feito da seguinte maneira:

VF1 (1ª incidência do come-cotas) = 100.000,00 x (1,10)^6/12 = 104.880,88

Note que tive que calcular o retorno para apenas os primeiros 6 meses de 12 (por isso o 6/12) referentes ao período de dezembro a maio, por exemplo. A partir desse período é que teremos a primeira incidência do come-cotas. Agora será necessário descontarmos o imposto:

VFL1 (líquido depois da 1ª incidência) =100.000,00 + [4.880,88 x (1-0,15)] = 104.148,75

Não se preocupe, a fórmula acima é apenas uma simplificação da apresentada no primeiro caso. Através dela já conseguimos achar o valor futuro líquido, nos poupando de ter que calcular individualmente o valor do imposto de renda para só depois subtrair do valor bruto acumulado.

A partir desse novo valor líquido (VFL1), os juros da aplicação voltarão a render normalmente até o próximo come-cotas. Assim, para calcularmos o segundo come-cotas o próximo cálculo será o seguinte:

VF2 = 104.148,75 x (1,10)^6/12 = 109.232,13

Nesta segunda incidência calculei a rentabilidade de 6 meses entre o período de junho até final de novembro.

Deste valor haverá uma nova incidência de come-cotas, assim como no primeiro caso. Porém, agora é importante lembrar que já recolhemos o imposto para os 4.148,75 do primeiro período.

Diante disso, devermos descontar esse valor para calcular o novo imposto, caso contrário pagaríamos o IR 2 vezes para o mesmo valor:

VFL2 = 104.148,75 + [(9.232,13 - 4.148,75) x (1-0,15)] = 108.469,63

Os próximos passos serão exatamente os mesmos até a incidência do 20ª come-cotas, onde chegaremos a 10 anos de aplicação.

Utilizando uma planilha de excel para facilitar o processo, chegamos ao Valor Futuro Líquido de R$ 225.466,18. Você pode baixar a planilha do exemplo aqui.

Vale lembrar que como já foram pagos os impostos a cada incidência do come-cotas, no momento do resgate não haverá a cobrança de mais nenhum imposto adicional.

Resultado: Diferenças de uma aplicação com e sem come-cotas

Como vimos, a aplicação em fundos com come-cotas rendeu R$ 10.001,93 a menos (R$ 235.468,11 no primeiro caso - R$ 225.466,18 do segundo caso). Ou seja, 10% de retorno (ou 1 ano de investimento) que foram pro espaço ao longo de 10 anos. Uma diferença de 4,44% entre o valor final dos dois casos.

Isso acontece, pois mesmo que você não pague nenhum imposto a mais, a incidência do come-cotas impede que uma parte do montante de seu capital continue rendendo juros compostos ao longo do tempo, como se parte do seu dinheiro fosse "resgatado" antes do período final.

Assim, semestralmente seu montante investido sofre uma redução que impacta diretamente na rentabilidade final e essa diferença cresce exponencialmente ao longo do tempo.

Esse efeito pode ser visto com maior clareza nos gráficos abaixo:

Efeito do Come-Cotas em 10 anos

Notou esses pequenos "degraus" ao longo do gráfico azul?

É exatamente esse o efeito do come-cotas nos investimentos. É como se a cada 6 meses você desse um pequeno passo para trás, estagnando por quase 1 mês seus rendimentos.

Já o grande tombo no final do gráfico vermelho, se deve ao desconto do IR que acontece só no resgate do investimento. No entanto, mesmo com essa pancada no final do período, nota-se claramente uma vantagem no investimento sem o come-cotas.

Portanto, nesse primeiro gráfico acima, como no nosso exemplo, a diferença em apenas 10 anos chega aos R$ 10 mil.

Efeito do Come-Cotas em 20 anos

Se seguíssemos nas aplicações por mais 10 anos, então a diferença final chegaria em quase R$ 80 mil.

Perceba que apenas dobramos o período investido, mas a diferença no valor final das aplicações aumentou em 8 vezes.

É justamente esse efeito exponencial dos juros ao longo do tempo, que causa o maior impacto no retorno dos investimentos.

Efeito do Come-Cotas em 30 anos

Por fim, se considerássemos 30 anos a diferença entre as rentabilidades seria de impressionantes 30,71%! Ou seja, quase 1/3 do seu dinheiro virando fumaça por conta do come-cotas!

Em valores financeiros, deixando os R$ 100.000,00 paradinhos lá, sem nenhuma aplicação adicional, estaríamos falando de mais de R$ 352 mil desperdiçados.

Uma baita diferença para quem poupou a vida toda com objetivo na aposentadoria, não acha?

Para ajudá-lo a fazer esses cálculos, já aproveito e deixo aqui disponível uma planilha bem simples de se preencher e descobrir esses valores (basta preencher as duas células da aba "Parâmetros").

Investimentos com Come-cotas valem a pena?

Quer dizer que devo evitar aplicar em fundos de investimentos?

Muito pelo contrário!

A ideia aqui é que consideramos 2 investimentos com exatamente o mesmo retorno para entender como o come-cotas influencia os resultados dos seus investimentos ao longo do tempo.

Por outro lado, existe uma boa gama de fundos que rendem consideravelmente acima do CDI com alguma consistência, o que compensaria em boa parte dos casos as perdas do come-cotas em relação a aplicações simples de títulos de renda fixa.

O mesmo vale para o mercado de ações que além de também poder render muito mais que o CDI, não sofre a incidência de come-cotas, conforme vimos no começo desse texto.

Na linha do que havia falado anteriormente o que mais importa de fato é conseguir escolher os melhores investimentos, independente dos custos de taxa de administração e performance cobrados.

Agora, se o fundo que você investe atualmente não consegue render nem o CDI, então  temos um verdadeiro problema. Certamente você está perdendo (ou deixando de ganhar) muito dinheiro.

Duvida?

Então confira só esse bônus que preparei especialmente para tema!

BÔNUS: Fundos Multimercado que não incidem Come-Cotas

Sabia que existem fundos que são enquadrados como Multimercado (e que costumam ser menos arriscados que os fundos de ações), mas que conseguem "escapar" da incidência do come-cotas?

Veja só o exemplo abaixo de um dos melhores fundos do Brasil, que conta com essa vantagem:

XP Long Biased

Apesar da grande volatilidade, esse foi um dos fundos premiados em 2016 com um retorno de mais quase 330% do CDI desde sua constituição.

Como se não bastasse o excelente retorno do fundo no período, conforme antecipei acima, ele também só é tributado no momento do resgate das cotas, como se fosse um Fundo de Ações.

Isso acontece, pois sua carteira é "Long Biased", o que significa que ela é composta em sua maioria por ações com viés de alta. Portanto, como esse fundo possui mais de 2/3 de seu capital comprado em ações, a regulação brasileira permite que ele seja tributado como um fundo dessa categoria (Fundo de Ações).

Conclusão

E aí, o que achou?

Eu sei que nem sempre é fácil encontrar oportunidades como essas, melhores ou mesmo as mais adequadas para nossos objetivos.

Aliás, se você ainda está a procura do lugar ideal para colocar seu dinheiro, recomendo fortemente que veja esse guia que preparei sobre como escolher o melhor fundo para investir.

Se você também acha que esse texto pode ajudar outros investidores a melhorar o retorno de seus investimentos, então compartilhe esse texto com seus amigos:

Sobre o autor
Felipe Medeiros
Economista e empreendedor do mercado financeiro há mais de uma década, tem como objetivo compartilhar suas experiências e se conectar com outros investidores e entusiastas do mercado. É fundador do Mais Retorno e autor da série de livros "Investidor Especialista".

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