Mesmo com 2ª onda da covid, inflação e juros em alta, lucro das empresas fica em R$33 bilhões e cresce 246% no 1º tri
Os resultados das empresas brasileiras no primeiro trimestre surpreenderam. Apesar do cenário econômico doméstico desafiador, com a volta de preocupações sobre a inflação e alta dos…
Os resultados das empresas brasileiras no primeiro trimestre surpreenderam. Apesar do cenário econômico doméstico desafiador, com a volta de preocupações sobre a inflação e alta dos juros, a segunda onda de pandemia que manteve restrições à mobilidade, ruídos políticos e incertezas fiscais, as companhias de capital aberto se mostraram resilientes e chegaram a números e lucro acima das expectativas dos analistas.
Levantamento da Economatica com base em dados de 268 empresas não financeiras aponta que o lucro das companhias com ações negociadas na bolsa aumentou 245,7% no primeiro trimestre, para R$ 33,2 bilhões, na comparação com o mesmo período de 2020.
O lucro da Vale, bem como de Petrobras e Suzano, contudo, foi desconsiderado nesse cálculo porque os dados dessas companhias distorcem a amostra. A mineradora, sozinha, lucrou R$ 30,5 bilhões, valor 3.005% superior ao do primeiro trimestre de 2020 e o maior da história de uma empresa de capital aberto no período.
A receita líquida das companhias com vendas somou R$ 551,1 bilhões, valor 22,3% superior ao do primeiro trimestre de 2020. O lucro líquido do primeiro trimestre teve crescimento de 245,7%, para R$ 33,2 bilhões. Em igual período de 2020, as companhias tiveram prejuízo de R$ 22,8 bilhões.
As empresas exportadoras, principalmente de minério de ferro e aço, turbinaram os resultados com a alta contínua dessas matérias-primas no mercado internacional, pela retomada global da economia puxada pela melhora da crise sanitária, e pela valorização do dólar perante o real.
Lucro por setor
Dados do levantamento da Economatica revelam que dentre as empresas não financeiras (sem a Petrobras, Vale e Suzano) apenas dois setores, o de locação de imóveis e educação, tiveram queda de lucratividade no primeiro trimestre de 2021 em relação a igual período do ano passado.
Dos 24 setores não financeiros, três tiveram prejuízo no primeiro trimestre: transportes e serviços, telecomunicações e veículos e peça.
O setor de energia elétrica, que reúne 32 empresas, é o segundo com maior lucro acumulado no primeiro trimestre, com R$ 11,7 bilhões. Só fica abaixo da lucratividade do setor bancário, com R$ 24,9 bilhões no período.
Vendas por setor
O setor de alimentos e bebidas foi o que registrou maior volume de vendas no primeiro trimestre, com R$ 134,8 bilhões, valor 30,88% maior que o de 2020.
Quatro setores tiveram queda nas vendas. A fila foi liderada pelo setor de transportes & serviços, um dos mais afetados pelo programa de isolamento e restrições à mobilidade imposto para o combate à pandemia, com queda de 12,8%, seguido pelo setor de telecomunicações, com recuo de 11,84%; locadoras de imóvel, com 10,02%, e educação, com queda de 9,10%.
Setores em destaque
Mineração e Siderurgia - O grande destaque desta primeira temporada de resultados, apontam os analistas da XP, foram os setores ligados a commodities, por causa da forte demanda pelos EUA e pela China, que elevou os preços, beneficiados ainda pela desvalorização do real perante o dólar.
A dúvida é se os preços vão se sustentar, diante da queda recente do minério de ferro na China.
A estrategista de ações da XP, Jennie Lee, acredita que o ciclo positivo das commodities continue pelo menos até o fim do ano, por causa do ritmo de retomada desigual da economia. Países que seguem atrás nesse processo também são consumidores de commodities, lembra Jennie, o que significa que existe espaço ainda para a recuperação global. “E, ainda que os preços se estabilizem ou caiam para patamares mais baixos, afetariam muito pouco o preço das ações das empresas exportadoras.”
Alimentos e Bebidas – Um setor que também teve destaque na safra de balanços, sobretudo pelos resultados de Marfrig e Ambev. A Marfrig compensou a situação de demanda mais frágil no Brasil com forte desempenho dos EUA e a Ambev, de acordo com os analistas da XP, surpreendeu positivamente em momento ainda desafiador para bares e restaurantes.
A dúvida é o ritmo de recuperação dos EUA, mas Jennie acredita que a situação doméstica deve melhorar no segundo semestre, com o crescimento da economia. “Nossa previsão é de crescimento acima de 4%, com viés de alta.”
Varejo – Foi um setor que mais sentiu as restrições no primeiro trimestre deste ano do que no trimestre anterior, nos quatro meses finais de 2020, por causa do recrudescimento da pandemia na virada do ano. Foi um cenário mais desafiador, segundo analistas, mas que fortaleceu quem teve resiliência e optou pelos canais de e-commerce. A estrategista da XP considera as perspectivas cada vez mais positivas para o setor, com possíveis ações mais bem-sucedidas de combate à pandemia, especialmente com maior cobertura da vacinação, e crescimento do PIB.
Financeiro – A redução de provisionamento de devedores duvidosos pelos bancos pode redundar em um resultado que não reflita com fidelidade o resultado, mas os bancos podem se beneficiar da elevação da Selic, que amplia o ganho com spread, e a alta em ritmo mais forte da atividade, de acordo com a estrategista de Ações da XP.