Bolsa desaprova reajuste do teto de gastos, cai aos 107 mil pontos, menor nível do ano, e dólar dispara a R$ 5,67
O impasse para pagamento do Auxílio Brasil de R$ 400 e mais reajuste do benefício ganhou novo capítulo nesta quinta-feira, 21, com a notícia de que…
O impasse para pagamento do Auxílio Brasil de R$ 400 e mais reajuste do benefício ganhou novo capítulo nesta quinta-feira, 21, com a notícia de que o governo de Jair Bolsonaro chegou a um acordo com os líderes políticos para mudança na fórmula do teto de gastos. Trata-se de uma correção pela inflação dos últimos 12 meses que abre espaço para gastos extras de até R$ 83 bilhões no ano que vem. O mercado não gostou da maquiagem proposta para furar o limite de despesas, com medidas populistas com a proximidade das eleições.
Após a divulgação da informação, a Bolsa chegou a cair 4%, ao menor nível registrado no ano e chegou a atingir os 105 mil pontos durante o pregão. No fechamento, o Ibovespa ficou em 107.735,01 pontos, com queda de 2,75%. Já o dólar disparou, fechando o dia em alta de 1,23%, cotado a R$ 5,666.
A redução da queda da Bolsa esteve ligada à fala do deputado Hugo Motta, relator da PEC dos Precatórios, ao apresentar um novo relatório incluindo a mudança no teto de gastos e a acomodação no pagamento das dívidas do governo com parcelamento.
Com a nova proposta do governo, o teto de gastos que hoje é atualizado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses até junho do ano anterior ao de sua vigência, será corrigido a partir do IPCA acumulado entre janeiro e dezembro.
De acordo com informações da Agência Estado, só essa mudança proporcionaria uma folga extra de RS 40 bilhões para as contas do governo. O espaço total pode chegar ao valor de R$ 83,6 bilhões com a aprovação da PEC dos precatórios, que depende da votação na Câmara dos Deputados.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, explica que, mesmo com o "malabarismo" feito pelo governo para que as contas fiquem dentro do teto, os gastos são crescentes e maiores do que o previsto. "Não é porque eles estão mudando a metodologia que a situação vai melhorar e é isso que o mercado está vendo", afirma a economista.
O analista da Clear Corretora, Rafael Ribeiro, compartilha da mesma opinião e acrescenta: "se tem uma coisa que o mercado não gosta é de governo que dá guinadas populistas e flerta com a irresponsabilidade fiscal, ainda mais tratando-se de um país emergente, como o Brasil".
Mais cedo, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu a necessidade de uma "licença para gastar" R$ 30 bilhões fora do teto de gastos. Em seu discurso, Guedes argumentou que a medida não seria eleitoreira. "Queremos ser um governo reformista e popular. E não um governo populista".
Soma-se ao temor com a implementação do Auxílio Brasil, o anúncio feito por Bolsonaro no fim da tarde sobre a criação de um benefício aos caminhoneiros em meio à alta dos combustíveis, sem definir qual seria a fonte de custeio do projeto.
Bolsa reage com queda generalizada
Refletindo as perspectivas de risco fiscal, a Bolsa viveu um dia de queda generalizada, enquanto a curva de juros futuros disparou, "projetando 10,5% para a Selic no ano que vem", destaca Ribeiro.
As projeções de que o Banco Central eleve a taxa básica de juros para conter o avanço da inflação, que pode subir ainda mais com o aumento dos gastos do governo, penalizam, sobretudo, as ações dos setores de construção civil e varejo. Estes segmentos da economia dependem do poder de compra da população.
Dessa forma, Cyrela e Gafisa caíram 6,20% e 6,77%. Já as varejistas Magazine Luiza, Lojas Americanas e Via viram seus papéis recuarem 6,34%, 10,00% e 7,61%, respectivamente.
As ações dos bancões, principal porta de entrada dos investidores estrangeiros na B3 por sua alta liquidez, também reportaram forte queda, indicando a saída do capital estrangeiro da Bolsa. Bradesco, Itaú e Santader, registraram baixas de 1,67%, 1,69% e 1,72%, na sequência.
No campo das commodities, a Petrobras recuou 3,38% neste pregão. A Vale, que corresponde a cerca de 14% da carteira teórica da B3, caiu 1,64%. Enquanto isso, CSN, Gerdau e Usiminas registraram recuo de 1,84%, 2,85% e 5,41% em seus papéis.