Mercado espera ‘solução caseira’ para Petrobras após desistência oficial de Pires; papel pode sofrer volatilidade
Ponto principal é a política de preços que deve ser adotada pelo novo presidente
O economista Adriano Pires, indicado para o comando da Petrobras, desistiu oficialmente de assumir o cargo após o governo Bolsonaro receber informações de que o nome dele não passaria no “teste” de governança da companhia. Mercado vê indicação de diretor do conselho para a presidência até que nome definitivo seja escolhido.
Hoje cedo, em reportagem da jornalista Adriana Fernandes e Rayanderson Guerra, do jornal O Estado de S. Paulo, o nome de Caio Paes de Andrade, secretário do ministro da Economia, Paulo Guedes, surge como cotado para assumir a presidência da Petrobras.
Segundo o Estadão, Caio Paes de Andrade, que atua como secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, seria próximo do senador Flávio Bolsonaro e teria avaliação positiva do governo após a implementação da plataforma GovBR.
Desistência formalizada na véspera
Em carta enviada ao ministro Bento Albuquerque, das Minas e Energia na segunda-feira, 4, Pires formalizou a desistência de assumir a presidência da estatal.
A desistência ocorre após a revelação, feita pelo Estadão, de que o Ministério Público pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) que impeça Pires de assumir o cargo enquanto não houver uma investigação do governo e da Petrobras sobre a atuação de Pires no setor privado.
Como sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pires tem contratos de longo prazo com petroleiras e empresas de gás, como a Cosan. Ele teria de abrir mão dos negócios para assumir a Petrobras.
Embora a indicação de Pires tenha sido bem recebida pelo mercado financeiro, que via nele um defensor da política de preços com paridade internacional, outros identificavam um conflito de interesses no exercício da nova função - inclusive entre os integrantes do próprio governo.
Pires teria pensado em driblar essa dificuldade passando os negócios privados para o filho. A ideia, contudo, não prosperou, porque as regras de governança da estatal não permitem esse tipo de manobra.
Flávio de Oliveira, head de Renda Variável da Zahl investimentos, diz acreditar, como cenário possível, em uma solução caseira para o imbróglio. Seria a escolha de um diretor entre os membros do conselho como ocupante tapa-buraco do cargo até a indicação de outro nome.
“Um dos diretores poderia ocupar o cargo como interino até a escolha de outro nome para o lugar de Adriano Pires”.
Flávio de Oliveira, head de Renda Variável da Zahl investimentos
Ainda assim, um processo de transição que estaria longe de ser tranquilo, gerando volatilidade no mercado. “Hoje (segunda-feira), o petróleo sobe no exterior, mas as ações de Petrobras caem, por causa dessa crise, dessa instabilidade na empresa”, reforça Oliveira.
Oliveira diz que os fundamentos da companhia seguem bons e positivos, “já que os preços do petróleo devem continuar em alta e a companhia está barata na Bolsa”, acredita.
O ponto principal é a política de preços que deve ser adotada pelo novo presidente ou de quem venha a ser indicado para o cargo.
“Se a política de preços for mantida, as ações devem subir”, avalia. “Mas se o mercado desconfiar de mudança na política de preços as cotações dos papeis devem passar por uma correção.”
O especialista destaca que, embora a ação da Petrobras seja uma das joias da coroa da B3, o ativo é negociado sistematicamente por múltiplos baixos porque há sempre o risco político rondando a companhia.
Uma ameaça que parece ter voltado a rondar a estatal, já que o pano de fundo que desencadeou o processo é a escalada nos preços dos combustíveis.
Evolução do papel
Mesmo com toda a vulnerabilidade política a que estão expostos, os papeis de Petrobras no longo prazo não decepcionam o investidor, longe disso. A valorização acumulada por PETR4 supera em até 10 vezes a inflação do período, é o que acontece em 24 meses, por exemplo.
Com o 'Comparador de ativos', ferramenta lançada recentemente pela Mais Retorno, é possível visualizar esse comportamento das ações de Petrobras na B3 frente à inflação.
PETR4 | IPCA | |
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No mês | 1,32% | 1,28% |
No ano | 16,03% | 2,86% |
3 meses | 0,21% | 2,92% |
6 meses | 35,37% | 5,89% |
12 meses | 65,17% | 10,97% |
24 meses | 188,56% | 17,70% |
36 meses | 48,24% | 21,58% |