Mercado Financeiro

Na semana, Bolsa cai 2,60% com exterior, cenário político e fiscal; dólar sobe 2,22%

Investidores estão em posição de cautela por conta do exterior e do tenso cenário político e fiscal local

Data de publicação:20/08/2021 às 11:02 - Atualizado 3 anos atrás
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Numa semana marcada por tensão internacional com a tomada de poder pelo Talibã no Afeganistão, divulgação de dados econômicos na China e nos Estados Unidos, queda no preço das commodities e preocupação com o cenário político e fiscal brasileiro, a Bolsa caiu bem, 2,60% em relação ao fechamento da semana passada.

Embora o acumulados da semana seja negativo, o Ibovespa fechou em alta de 0,76% nesta sexta-feira, 20, aos 118.052,77 pontos, puxado pelas siderúrgicas que se recuperam dos últimos pregões de queda e seguindo o exterior. Os investidores também passaram o dia atentos aos novos capítulos da cena política do País.

Sede da B3 em São Paulo - Foto: B3/Divulgação

Após um pregão de forte queda na véspera, as siderúrgicas retomaram a operação no azul na Bolsa - com o preço do minério de ferro próximo da estabilidade na China. As ações da Vale - que perderam mais de 6% no dia anterior - e Usiminas subiram 0,04% e 0,12%. Já a Gerdau e CSN viraram o sinal e fecharam em queda de 0,14% e 0,16%.

O fraco desempenho das ações da Petrobras, por conta da queda no preço do petróleo em mais de 1%, seguraram um avanço maior do Ibovespa. Os papéis da petroleira fecharam com queda de 0,15%. Os da PetroRio também fecharam no negativo, com recuo de 0,39%.

Os chamados bancões, que, juntos respondem por cerca de 17% da carteira de ativos da B3, também viveram um dia de desvalorização no pregão. As ações do Itaú e Bradesco recuaram 0,37% e 0,57%, respectivamente.

Após sofrer um ataque cibernético na véspera, que interrompeu o funcionamento de seus sistemas - incluindo o e-commerce - a Lojas Renner viu seus papéis desvalorizarem 0,63%, no mesmo período.

O empresário Nelson Tanure adquiriu 21% da rede de laboratórios Alliar por R$ 320 milhões, segundo reportagem do Brazil Journal. Com essa notícia, as ações da Alliar subiram 11,03% no pregão desta sexta-feira.

Dólar em queda e reforma tributária

Após operar em alta, o dólar mudou o sinal e fechou em queda de 0,70%, cotado a R$ 5,376, no encerramento da semana. O ajuste precifica, em parte, uma melhora no cenário externo com a redução parcial das quedas do petróleo e perda de força da moeda americana ante seus pares principais.

Mesmo com a queda de hoje, a moeda americana registrou valorização expressiva de 2,22% em relação ao fechamento da última sexta-feira,

Além disso, os novos entraves para a votação da reforma tributária também exerceram pressão sobre o dólar. O relator da PEC 110/2019, senador Roberto Rocha, apresentará seu parecer "de forma impreterível" na próxima semana.

Após desabafo sobre a forma como a equipe econômica tem lidado com a reforma tributária que unifica os impostos sobre consumo de bens e serviços, Rocha se mostrou decepcionado com a fala do secretário especial da Receita Federal, José Tostes Neto, durante a segunda sessão de debates temáticos sobre a PEC nesta manhã.

Tostes defende a aprovação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que unifica apenas as cobranças do PIS e da Cofins. "Lamento dizer, mas parece que estamos num faz de conta. A CBS é uma demonstração de que desistiram de uma reforma ampla, que tentamos levar adiante", afirmou o senador.

Esse projeto foi enviado pelo governo à Câmara dos Deputados em junho do ano passado, mas até agora não tramitou.

Precatórios e gastos

Preocupações com uma piora fiscal nas contas do governo brasileiro pesam também no desempenho do mercado financeiro nesta sexta-feira. Segundo alguns operadores de câmbio, não se sabe o que pode acontecer do lado político-institucional no fim de semana.

A "indigestão" com o fundo que viria a ser criado pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios foi a principal temática da última reunião dos analistas do mercado financeiro com o Banco Central no trimestre.

Alguns analistas avaliaram que tirar os precatórios do teto, com devido recálculo desde a origem, seria melhor do que ter o fundo para abater precatórios e eventualmente pagar um bônus social para os beneficiários do Bolsa Família.

“A falta de resolução da PEC dos precatórios e do valor do Auxílio Brasil gera mais preocupação sobre o cumprimento do teto de gastos para 2020”, afirma Romero Oliveira, head de Renda Variável da Valor Investimentos.

A percepção de queda de popularidade do presidente Bolsonaro e do aumento de desaprovação à sua gestão reforça o temor de investidores e gestores de mercado com o risco de que o governo adote medidas que impliquem em mais gastos para tentar recuperar a popularidade em ano eleitoral.

Como são questões cuja definição não está visível ainda no radar dos investidores, a expectativa de especialistas é que a persistente incerteza mantenha um clima de elevada volatilidade no mercado financeiro.  

Tensão política

A briga aberta entre o governo e o Supremo Tribunal Federal (STF) ganhou um novo capítulo. O presidente Jair Bolsonaro se opôs contra o artigo do regimento interno da Corte que permite a abertura das investigações do ofício, sem a necessidade de aval da Procuradoria Geral da República (PGR).

A norma foi usada, por exemplo, para instaurar o inquérito das notícias falsas que atingiu a rede bolsonarista e o próprio chefe do Executivo.

Em ação enviada ao STF, a Advocacia Geral da União (AGU) pediu a suspensão liminar do texto até o julgamento definitivo do tema no plenário do tribunal. A AGU argumenta que o artigo viola preceitos fundamentais, como os princípios acusatórios, da vedação de juízo e de segurança jurídica.

Bolsonaro também anunciou que nesta sexta-feira sairá a sanção ou veto ao montante reservado pelo Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para o fundo eleitoral de campanha para 2022. Em julho, o Congresso aprovou a ampliação do fundão, de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões.

CPI da Covid: quebra de sigilo

O colegiado da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado pediu a quebra de sigilo fiscal do deputado Ricardo Barros, líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara.

O colegiado vai requerer os dados à Receita Federal, assim como informações sobre investigações que envolvam o parlamentar no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal de Contas da União (TCU). Na sessão do dia anterior, os senadores também deram aval a um requerimento que quebra o sigilo fiscal de Frederick Wassef, que se apresenta como advogado do presidente e sua família.

Wassef se tornou amplamente conhecido após a Polícia Federal encontrar e prender Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro acusado de comandar um esquema de rachadinha para o parlamentar quando ele era deputado estadual pelo Rio, em uma propriedade sua na cidade de Atibaia, no interior paulista, em junho de 2020

 No mesmo dia, Barros entrou com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar anular a quebra de seus sigilos telefônico, fiscal, bancário e telemático.

NY: bolsas em alta

Em Nova York, os contratos negociados nas bolsas locais fecharam em alta, com os investidores repercutindo a fala do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de Dallas, Robert Kaplan, sobre a retirada dos estímulos monetários da economia, que trazem uma nova visão.

O índice S&P 500 subiu 0,81%, Dow Jones avançou 0,65% e Nasdaq 100 valorizou 1,06%.

Nos últimos meses, Kaplan tem sido uma das vozes mais duras no Fed, defendendo o início do processo de retirada de estímulos, conhecido como tapering, já em outubro. No entanto, em entrevista, o dirigente comentou que a escalada no número de casos de coronavírus pode alterar seus planos.

Ele ressaltou que, antes da reunião de setembro, pretende monitorar a evolução do vírus. "Manterei minha mente aberta sobre isso e observarei se a delta está tendo um impacto mais negativo a ponto de eu ter que ajustar minhas visões", explicou ele, que classificou de "imponderável" a trajetória da covid-19.

O líder da regional do Fed em Dallas disse ainda que a tendência da pandemia no momento é "negativa". Para ele, não há necessidade que a taxa de desemprego caía a 4,5% para que o BC americano comece o ciclo de normalização da política monetária.

Kaplan também projetou que os gargalos na cadeia produtiva devem demorar cerca de três anos para serem completamente solucionados. Na visão dele, o grande problema na economia será os desequilíbrio entre a demanda e a oferta de trabalhadores.

Além disso, o dirigente também afirmou hoje que a inflação ao consumidor dos Estados Unidos ficará acima da meta não apenas neste ano, mas também no seguinte. Kaplan disse que recebe muitos relatos de problemas com matérias-primas, como semicondutores, e considerou que esse quadro pode durar "mais tempo do que muitos preveem".

Sem direito a voto nas decisões de política monetária, Kaplan projetou que o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresça "cerca de 6,5%" neste ano, mas destacou que está atento a eventuais impactos negativos da variante delta.

Na inflação, projetou que o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) suba 3,8% ou 3,9% neste ano, e 2,5% em 2022 - ainda acima da meta de 2% do Fed.

Bolsas asiáticas fecham no vermelho

As bolsas asiáticas fecharam em baixa nesta sexta-feira, em meio às incertezas regulatórias que cercam o setor de tecnologia chinês e preocupações com os desdobramentos da pandemia do novo coronavírus, à medida que a variante delta continua se espalhando pelo mundo.

Em Tóquio, o índice japonês Nikkei caiu 0,98% hoje, aos 27.013,25 pontos, pressionado em parte pelo setor automotivo. A ação da Toyota teve queda de 4,09%, após relatos de que a montadora pretende cortar sua produção em 40% em setembro, diante da escassez mundial de chips para veículos.

Já o Hang Seng liderou as perdas na Ásia, com baixa de 1,84% em Hong Kong, aos 24.849,72 pontos, com temores de que o governo chinês endureça ainda mais a regulação para grandes empresas de tecnologia do país.

Na China continental, o Xangai Composto se desvalorizou 1,10%, aos 3.427,33 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto caiu 1,17%, aos 2.388,96 pontos.

Como se previa, o banco central chinês manteve inalteradas nesta sexta-feira suas principais taxas de juros de referência para empréstimos de curto e longo prazos, conhecidas como LPRs.

Em outras partes da região asiática, o sul-coreano Kospi recuou 1,20% em Seul, aos 3.060,51 pontos, e o Taiex registrou perda modesta em Taiwan, de 0,20%, aos 16.341,94 pontos.

Na Oceania, a bolsa australiana fechou em baixa apenas marginal hoje, mas vem acumulando perdas por cinco pregões seguidos, seu pior desempenho desde março de 2020. O S&P/ASX 200 caiu 0,05% em Sydney, aos 7.460,90 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado

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