Inflação desacelerou em dezembro de 2021, mas deve continuar elevada em 2022; saiba o que esperar
IPCA deve fechar o segundo ano acima da meta do Banco Central, fixada em 3,5%
Nesta terça-feira, 11, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os números do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que reflete a inflação oficial do País, de dezembro. O indicador apresentou uma alta de 0,73% no último mês do ano, levando a inflação brasileira a 10,06% no acumulado em 12 meses, o maior patamar desde 2015.
Embora o IPCA de dezembro tenha apresentado uma desaceleração ante novembro, quando o indicador registrou alta de 0,95%, os números ainda vieram bastante acima da mediana das expectativas dos analistas de mercado, que esperavam alta de 0,64%. Com esse resultado, especialistas comentam que a inflação deve encerrar o ano de 2022 muito acima do centro da meta do Banco Central, de 3,5%.
Vale lembrar que a meta inflacionária para 2021 era de 3,75%, sendo o teto da meta fixava o IPCA acumulado em 12 meses de 5,25%. Realidade muito distante do que realmente aconteceu no último ano, período marcado por preços elevados no mundo inteiro, muita demanda e pouca oferta (consequências da pandemia de covid-19), crise hídrica prejudicando a geração de energia e as safras de alimentos, risco fiscal elevado no Brasil, além do dólar nas alturas.
Composição da inflação
Impactos no IPCA de dezembro
Conforme explica a equipe de Research do BTG Pactual Digital, a desaceleração na inflação de dezembro foi influenciada "pelo recuo nos preços dos combustíveis e de energia elétrica, limitando o impacto dos avanços em passagens aéreas, alimentos e bebidas e cuidados pessoais". As principais surpresas altistas vieram dos alimentos e do segmento de serviços, após vestuários avançarem 2,06% no mês.
"Dessa forma, apesar da leitura final mostrar perda de ímpeto, a composição segue desfavorável, com aceleração significativa das médias dos núcleos de inflação (0,61% para 0,90%)".
Equipe de Research do BTG Pactual Digital
Além disso, a chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, destaca que o resultado do IPCA veio um pouco acima do esperado pela corretora e pela maior parte dos analistas do mercado, "principalmente por conta da volta de descontos observados em novembro devido às promoções de Black Friday".
Impactos no IPCA de 2021
"Para o dia a dia do brasileiro, entretanto, o resultado mensal não traz grande diferença ao que já vinha sendo sentido até aqui. Os preços seguem subindo de maneira acelerada, a exemplo da alta observada nos preços de combustíveis (a gasolina acumulou alta de mais de 47% no ano, enquanto o gás de botijão subiu 37%), corroendo o poder de compra das famílias e aumentando a incerteza da economia como um todo – de consumidores, a investidores e empresários".
Rachel de Sá, chefe de economia da Rico
De acordo com o IBGE, em 2021 ficou mais caro se locomover, com alta de 21,03% na categoria de transportes, e manter a casa, com alta de 13,05% nos preços administrados, como conta de luz e botijão de gás, e alta de 12,07% nos artigos residenciais, como eletrônicos e mobiliários. Também ficou 7,94% mais caro comer e 10,31% para se vestir em 2021. Confira na tabela abaixo a escala dos preços, mês a mês, em 2021.
Como a inflação deve se comportar em 2022?
O que pode impactar o IPCA?
Para os próximos meses, alguns fatores podem reduzir a pressão inflacionária, como uma desaceleração em alimentos no domicílio e, possivelmente, o fim da bandeira de escassez hídrica com o aumento dos níveis de chuva pelo Brasil. Entretanto, a recente retomada no preço do barril de petróleo pode levar a novos reajustes altistas nos combustíveis, ressaltam os analistas do BTG Pactual Digital.
"Além disso, a depreciação do Real, decorrente da deterioração do cenário fiscal e de um ambiente global menos favorável para emergentes, deve permanecer como fator de risco para a inflação no curto prazo", acrescentam os especialistas.
A economista da Rico destaca, no entanto, que a nível mundial já há sinais de melhora na crise nas cadeias de produção causadas pela pandemia de covid-19, o que deve levar a uma queda de preços em materiais básicos, como commodities agrícolas e e minerais.
"Ao mesmo tempo, Bancos Centrais ao redor do mundo já se mostraram prontos para responder ao desafio da inflação alta, subindo os juros e reduzindo estímulos implementados para combater os efeitos da pandemia. O exemplo da comunicação recente do Banco Central dos Estados Unidos que indicou que a alta de juros deve acontecer nos próximos meses por lá, reforça esse movimento. De maneira simplificada: menos dinheiro no mundo, menor pressão sobre os preços".
Rachel de Sá
O trabalho do Banco Central
Rachel considera que o "ator principal" na contenção da inflação em 2022 deve ser a Selic, taxa básica de juros, hoje em 9,25% ao ano. A expectativa da economista é que a taxa chegue a 11,50% ao ano em março e permaneça neste patamar até, no mínimo, o fim das eleições presidenciais, marcadas para outubro. "Juros altos encarecem o crédito, ajudam a valorizar a nossa moeda e impactam as expectativas sobre onde estarão os preços no futuro", explica.
Para que a inflação realmente desacelere, no entanto, é necessário que os agentes da economia, desde um pequeno prestador de serviços a um dono de redes de fábricas, acreditem que a política monetária do Banco Central funcionará. Ou seja, eles precisam acreditar que a pressão inflacionará de fato vai diminuir para que passem a reduzir os preços de seus produtos ou serviços.
"De maneira simplificada, isso (a escalada nos preços) ocorre quando aqueles que determinam os preços finais para o consumidor acreditam que os preços seguirão em elevação rápida. Eles não 'esperam para ver' e já reajustam seus preços. Caso contrário, se acreditarem que a política do Banco Central será suficiente para reverter a pressão sobre os preços, eles não elevarão seus preços em antecipação, por receio de perderem demanda".
Rachel de Sá
Expectativas para o IPCA
"Assim, essa verdadeira profecia autorrealizável é um dos principais fatores determinantes da inflação e da política monetária, especialmente no Brasil - um país com histórico inflacionário", afirma a economista.
As projeções do BTG Pactual apontam para uma inflação de 5,0% no acumulado em 12 meses em dezembro deste ano, enquanto a mediana das expectativas dos economistas ouvidos pelo Banco Central no último Relatório Focus é de 5,03%. Em contrapartida, a corretora Rico espera que o IPCA feche 2022 em 5,2%. Em outras palavras, "os preços apenas passarão a subir mais lentamente, e não efetivamente cair", finaliza Rachel.
Trajetória da inflação em 2021
Mês | Variação/mês (%) | Variação/ano (%) |
Janeiro | 0,25 | 0,25 |
Fevereiro | 0,86 | 1,11 |
Março | 0,93 | 2,05 |
Abril | 0,31 | 2,37 |
Maio | 0,83 | 3,22 |
Junho | 0,53 | 3,77 |
Julho | 0,96 | 4,76 |
Agosto | 0,87 | 5,67 |
Setembro | 1,16 | 6,90 |
Outubro | 1,25 | 8,24 |
Novembro | 0,95 | 9,26 |
Dezembro | 0,73 | 10,06 |