Fim da trégua da inflação: é hora dos títulos IPCA, Selic ou prefixado?
Diversificação com pré e pós-fixado tende a ser boa estratégia, diz especialista
Com a virada da inflação, que voltou ao terreno positivo em outubro, é hora de o investidor avaliar se precisa ou não repensar sua carteira de renda fixa. Que tipo de aplicação com juros tende a ser mais indicada para o novo cenário de inflação? Será preciso rever a estratégia que previa o início do ciclo de corte das taxas de juro em 2023?
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, entende que o ressurgimento da inflação “não muda praticamente nada na renda fixa”. A menos que o Banco Central reavalie a decisão de manter a estabilidade da Selic, uma hipótese altamente improvável, no momento. De todo modo, ele indica uma estratégia para esse momento.
“Os três meses de deflação foram fruto de decisão do governo de reduzir a alíquota do ICMS que barateou os preços dos combustíveis e agora a economia volta à rotina de inflação mês a mês, a começar por outubro”, comenta Jorge.
Sempre a boa e velha diversificação
O especialista em renda fixa da Quantzed, sugere uma estratégia que combina a alocação de recursos da carteira em ativos pré e pós-fixados. A perspectiva de que o Banco Central mantenha o juro alto por tempo mais prolongado, diz o especialista, favorece o investimento em ativos pós-fixados, como o Tesouro Selic. “Quanto mais alta a Selic e mais tempo ela persistir nesse patamar, mais renderá o Tesouro Selic.”
A estratégia de curto prazo com operações pós-fixadas se harmonizaria em uma parceria com a de médio e longo prazo em ativos prefixados, em uma aposta de que em algum momento o Banco Central vai voltar a derrubar a taxas de juro. “Esse mix entre pré e pós-fixados é uma boa estratégia que deve trazer bons retornos aos investidores.”
Inflação positiva, mas contida
Pelos dados do último relatório Focus, divulgado na segunda-feira, 7, analistas e economistas do mercado financeiro projetam uma inflação de 0,40% para novembro e de 0,66% para dezembro.
A inflação de 0,59% em outubro, divulgada pelo IBGE nesta quinta-feira, 10, que interrompeu três meses de deflação (- 0,68% em julho, - 0,36% em agosto e -0,29% em setembro), não é motivo ainda para desconforto do investidor da renda fixa, avaliam especialistas em investimento.
Aplicações desse segmento mais conservador, como títulos e fundos de renda fixa e DI, continuam com rentabilidade atraente, com ganho real suficiente para proteger o dinheiro contra a inflação, avaliam.
Com a Selic estacionada em 13,75% ao ano, os CDBs e os fundos de renda fixa e os fundos DI renderam em torno de 1% ao mês em outubro, na média, calcula o administrador de investimentos Fabio Colombo. É um rendimento bruto que em termos líquidos, após o desconto de imposto de renda, ainda entrega atraente retorno acima da inflação ao investidor.
As aplicações de renda fixa continuam com risco/retorno muito interessante, comenta Paulo Ricardo dos Santos, especialista de renda fixa da Blue3. “Com a expectativa de que a Selic fique em 13,75% até meados de 2023, oferecem atraente rentabilidade com baixo risco”, analisa.
Inflação sob controle e manutenção de política monetária favorecem a “diversificação da carteira em várias pontas, desde as opções prefixadas, passando pelas indexadas à inflação, até as atreladas à Selic”.
“O Tesouro IPCA, que está rendendo juro em torno de 6% ao ano mais correção monetária pelo IPCA para os vencimentos mais longos, está em patamar atraente, tanto para quem vai resgatar no vencimento como para quem quer lucrar na saída antecipada”, avalia. O Tesouro IPCA+ 2045 ofereceu nesta quarta-feira, 9, IPCA mais juro de 5,92% ao ano.
A atratividade desses títulos indexados ao IPCA não se limita a títulos públicos. “As oportunidades se estendem aos papeis de crédito privado, emitidos por empresas, como debêntures incentivadas, CRIs (Certificados de Recibos Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recibos do Agronegócio).”
O especialista da Blue3 diz que é possível encontrar títulos corporativos que remuneram com “IPCA mais 6% ao ano, isentos de imposto de renda, caso de debêntures incentivadas, CRIs e CRAs)”. Um cuidado que o investidor precisa ter sempre é verificar, antes de comprar, a solidez e o conceito no mercado da empresa emissora do papel.
Ricardo dos Santos afirma também que, além da atraente rentabilidade, títulos atrelados ao IPCA têm o sentido de proteção. Principalmente em cenário de persistente inflação global e de incertezas com a equipe e a política econômica do futuro governo de presidente eleito Lula.
Os títulos prefixados de emissão bancária também estão bem interessantes, alguns com taxas ao redor de 14% ao ano, e até acima, diz o especialista, referindo-se aos Certificados de Depósito Bancário (CDBs). Uma taxa que pode render um retorno robusto quando, acredita o especialista, o Banco Central começar a cortar os juros.
Até lá, o investidor pode tirar proveito também do ciclo de juros elevados em aplicações com juros pós-fixados, “como o Tesouro Selic com vencimentos mais curtos, de um ou dois anos”. É um período que, calcula, a Selic deve manter-se acima de 10%.