Fed vai mesmo pausar a alta dos juros americanos na reunião desta quarta-feira? Não há consenso
Com inflação em queda sinalizada pelo CPI, maioria dos analistas aposta e manutenção dos juros americanos em nível entre 5,00 e 5,25%
Embora a maior parte do mercado aposte em manutenção dos juros americanos na reunião do Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc) nesta quarta-feira, 14, não há unanimidade entre os analistas sobre a decisão. Há quem espere por uma elevação de 0,25 ponto porcentual no juro básico da economia dos Estados Unidos agora em junho.
Depois de 10 altas consecutivas e ter atingido o maior nível desde setembro de 2007, a taxa básica de juro americana, hoje entre 5,00 e 5,25%, terá o seu destino definido pelos dirigentes do Federal Reserve (Fed, banco central americano) no encontro de hoje.
“Há uma divisão de opiniões muito grande em relação à decisão do Fed sobre os juros americanos na reunião desta quarta-feira”, afirma Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos.
Ele explica que mais pistas saíram da divulgação do CPI (Consumer Price Index, na sigla em inglês e mede a inflação ao consumidor nos EUA), que aconteceu na véspera.
Houve uma alta de 0,1% na inflação americana em maio, para um CPI acumulado de 4,0% em 12 meses. “O menor patamar desde março de 2021”, lembra Patricia Krause, economista chefe da Latin América da Coface, empresa global especializada em seguro de crédito.
“O CPI veio com dados majoritariamente baixistas. Essa é uma notícia muito boa. Com o CPI vindo abaixo do esperado e redução dos juros na China, há uma grande chance de o Fed manter os juros depois dez altas consecutivas” analisa Cohen.
No entanto, mesmo que os números da inflação nos EUA tenham sido positivos, que agradaram ao mercado, “o núcleo da inflação ainda se mostra resiliente”, pontua Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador da Eu me banco.
“Ainda que a inflação tem um caminho a percorrer até chegar ao objetivo de 2%, tirando os itens mais voláteis, o núcleo da inflação também mostrou uma melhora passando para 5,3%, o menor nível desde 2021” na opinião de Patrícia. “Então acho que diante desses dados, eu entendo que os dirigentes (do Fed) devem optar por pausar ao menos por ora esse ciclo de alta de juros.”
Dados do emprego, da habitação e transporte, que destoam da queda de outros preços nos Estados Unidos e ainda apresentam números elevados em 12 meses. Eles indicam um vigor da economia americana, indesejado para queda consistente da inflação, e estariam dificultando uma decisão do Fed pela manutenção dos juros.
Daí porque existe também a aposta, embora minoritária, de uma nova alta de 0,25 pontos-base na reunião de hoje, elevando o intervalo da taxa para algo entre 5,25% a 5,50%. Nesse caso, a pausa para alta dos juros poderia acontecer na próxima reunião dos dirigentes do Fed, em julho, até que os dados econômicos estejam mais completos e consolidados.
Inflação resistente
“A gente viu hoje o CPI, ainda o núcleo bem resistente, a inflação ainda não está tão perto de ser combatida. Dentro do Fed não vai ser uma decisão fácil, muitos dos dirigentes querem subir agora, então a gente vê que não deve haver um consenso, uma unanimidade”, pondera Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.
Diante desses dados, a autoridade monetária pode se mostrar mais cautelosa no comunicado emitido após o anúncio de como ficarão os juros: “O Fed pode indicar que acompanhará de perto os próximos dados a serem divulgados, deixando claro a possibilidade de novas elevações de juros, se necessário”, diz Louzada.
Por isso, muitas casas entendem que o Fed espera por mais e novos indicadores econômicos para decidir sobre o rumo dos juros, explica Cohen. Se é assim, “seria para o Fed continuar subindo os juros, porque os indicadores, sobretudo os indicadores do emprego ainda não mostraram desaquecimento da economia”, diz ele.
“Na minha opinião, o Fed não vai subir os juros nesta quarta-feira, não só por causa dos indicadores. O Fed está olhando um contexto global, a quebra recente dos bancos, notícias complicadas em relação ao UBS e Credit Suisse”, avalia Cohen.
A forte elevação dos juros, inesperada e rápida nos Estados Unidos, provocou um enfraquecimento tanto da economia como dos bancos. Por isso mesmo é que o papel do Fed agora vai ser de manter os juros inalterados nessa próxima decisão, segundo o analista de investimentos.
“O que o Fed deve fazer é uma pausa agora em junho e o mercado já precifica que pode voltar a subir na reunião seguinte, mas para esta quarta-feira, a expectativa é de uma pausa. A inflação continua como desafio e se persistir, se o núcleo se mantiver mais forte, o Fed deve voltar a subir os juros na próxima decisão”, pondera o economista-chefe da Valor.