Renda Variável

Balanços de tecnologia: empresas americanas surpreendem no 2T, mas ações podem ainda sofrer no curto prazo

Netflix e Tesla já anunciaram seus resultados, que vieram melhores que as projeções

Data de publicação:22/07/2022 às 05:00 - Atualizado um ano atrás
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Contrariando as expectativas de que os resultados decepcionariam no 2º trimestre de 2022, por refletir alta dos juros, da inflação e as muitas incertezas da economia dos Estados Unidos, as primeiras empresas de tecnologia que divulgaram seus resultados surpreenderam positivamente o mercado financeiro americano.

Na terça feira, 19, a Netflix reportou que perdeu bem menos assinantes do que suas projeções apontavam: cerca de 900 mil ante os dois milhões esperados. Já a Tesla, montadora de veículos elétricos do Elon Musk, teve um lucro por ação de US$ 2,27 entre abril e junho, 24% a mais do que o US$ 1,83 projetado. Embora sejam boas as surpresas, ainda existe a possibilidade de que o setor venha a sofrer no curto e médio prazo.

Foto: Reprodução

As ações das big techs e outras empresas do setor, assim como os principais índices acionários americanos ligados à tecnologia (como o Nasdaq 100, por exemplo), estão passando por um período de queda acentuada desde o começo do ano. Thiago Lobão, CEO da Catarina Capital, explica que a renda variável sempre antecipa os movimentos da economia e é por isso que os preços de tecnologia estão tão descontados.

A inflação elevada nos Estados Unidos como consequência dos estímulos monetários em meio à pandemia de covid-19 fez crescer a cautela dos investidores com uma possível trajetória de alta nos juros do país, o que começou a penalizar as ações do setor.

Depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) realmente iniciou seu ciclo de aperto monetário, a preocupação que ronda o mercado agora são as possibilidades de uma recessão na maior economia do mundo. Neste contexto, Lobão destaca que é o receio de especialistas e investidores com a economia americana que tem penalizado os papéis de tecnologia.

Histórico de inflação e juros

Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital, comenta que as empresas de tecnologia foram muito beneficiadas pelo momento de isolamento social em decorrência da pandemia, já que, além dos juros baixos, o grande e repentino número de pessoas em modelo de trabalho home office exigiu a adoção de uma série de tecnologias por empresas e pela própria população.

Dessa forma, as receitas dessas empresas subiram, assim como os lucros, e as ações se valorizaram. A alta demanda por esses produtos e serviços somada às dificuldades enfrentadas pelas cadeias produtivas de semicondutores resultaram, ainda, em uma elevação nos preços já que a oferta não acompanhava os pedidos.

A escalada dos preços neste e em outros setores, seguida por outros eventos que adicionam volatilidade aos mercados - caso da guerra da Rússia na Ucrânia e a política de tolerância zero contra covid-19 na China -, passaram a corroer a renda dos consumidores, levando o Fed a elevar os juros. Taxas mais altas encarecem os financiamentos e empréstimos, o que tende a diminuir a atividade econômica.

Como a inflação ainda segue elevada no país, Carvalho pontua que o banco deve promover novos aumentos nos juros - hoje entre 1,50% e 1,75%. Por isso, as perspectivas para a atividade econômica seguem com um viés de desaceleração e, assim, diversas instituições financeiras, como o Bank of America, já consideram uma chance de 50% de que os Estados Unidos passem por um período de recessão.

Perspectivas para as empresas de tecnologia

Lobão destaca que as empresas de tecnologia são aquelas que entregam bons resultados no longo prazo e, para isso, dependem de juros mais baixos para financiar seu crescimento. Por isso, o especialista explica que é natural que as ações do setor sejam penalizadas com as perspectivas negativas para o cenário macroeconômico no curto e médio prazo.

Em contrapartida, o CEO da Catarina Capital considera que a "queda mais brusca para os papéis de tecnologia já passou, mas não se sabe ainda se a retomada vai ser tão rápida quanto o período de baixa". Neste contexto, Lobão ressalta que o setor oferece boas oportunidades para o investidor que quer ter essas empresas no portfólio, já que as ações estão bastante descontadas.

O especialista pondera que é necessário montar a carteira de tecnologia de forma gradual, entendendo os riscos macroeconômicos e geopolíticos e optando por empresas que ofereçam produtos e serviços mais "essenciais" para a vida moderna, como os segmentos de segurança cibernética, infraestrutura em nuvem e novos componentes, por exemplo.

Lobão e Carvalho concordam que o investimento em empresas de tecnologia deve ser feito no longo prazo, momento em que os especialistas acreditam que as companhias do setor que forem bem estruturadas devem entregar resultados bastante positivos. "Esse é um investimento fundamentalista, de longo prazo, não para especulação", afirma o CEO da Catarina Capital.

"Nesse cenário para curto e médio prazo, a gente ainda acredita que as empresas de tecnologia possam cair um pouco mais, principalmente se as taxas de juros nos Estados Unidos continuarem subindo. No longo prazo a perspectiva é muito boa para empresas bastante consolidadas que apresentaram ótimos resultados ao longo dos últimos anos."

Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital

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Sobre o autor
Julia ZilligA Mais Retorno é um portal completo sobre o mercado financeiro, com notícias diárias sobre tudo o que acontece na economia, nos investimentos e no mundo. Além de produzir colunas semanais, termos sobre o mercado e disponibilizar uma ferramenta exclusiva sobre os fundos de investimentos, com mais de 35 mil opções é possível realizar analises detalhadas através de índices, indicadores, rentabilidade histórica, composição do fundo, quantidade de cotistas e muito mais!