Na primeira reunião do Copom no ano, mercado aposta na manutenção da Selic em 13,75%
Não há dúvidas sobre Selic a 13,75%, mas as preocupações estão voltadas para as pressões inflacionárias, que deverão ser retratadas no comunicado
O mercado financeiro está convicto, com uma unanimidade de opiniões, de que a taxa básica de juros, a Selic, permanecerá estacionada em 13,75% ao ano na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), em 2023.
O encontro de dois dias do colegiado do BC começou nesta terça-feira, 31, e termina hoje no fim da tarde, 1º de fevereiro, quando será divulgada a decisão, após o fechamento dos mercados.
Inflação e incertezas fiscais
Embora a inflação dê sinais de arrefecimento, o BC tende a ser mais cauteloso, com posição conservadora, na condução da política monetária. Além da persistência de incertezas fiscais, especialistas apontam os ruídos causados pelas recentes críticas do governo à meta de inflação.
Um dos debates no meio econômico defende a ideia de elevação da meta de inflação para facilitar o combate à inflação. O argumento é que a busca de uma meta muito baixa exige juros muito altos, que inibem o crescimento. O raciocínio, portanto, é que uma meta mais folgada permite juros mais baixos, uma espécie de atalho para o crescimento.
A meta de inflação definida para 2023 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que o BC mira com a calibragem da Selic, é 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,50 ponto porcentual: 1,75% como piso e 4,75% como teto. O IPCA estimado para o ano pelo mercado financeiro no boletim Focus desta segunda-feira, 30, está em 5,74%.
A questão, segundo especialistas, é que um dos principais componentes da inflação é a expectativa. Juros baixos passariam a ideia de um BC leniente com a inflação, o que alimentaria a espiral de preços.
Caio Canez de Castro, sócio da GT Capital, prevê a manutenção da Selic em 13,75% ao ano. Ele diz que o risco com gastos públicos segue no radar e não acredita em início do ciclo de redução dos juros enquanto o governo não sinalizar nenhum esforço efetivo com o compromisso fiscal.
Castro afirma que os juros futuros, que indicam onde o mercado financeiro estima que a Selic poderá estar em anos à frente, continuam apontando taxas de juro mais altas que as projetadas por analistas e economistas do mercado.
Selic alta por mais tempo
O boletim Focus vem demonstrando, semana a semana, quanto o mercado desacredita na redução da Selic no curto prazo, afirma Castro. “Embora mostre uma Selic em 12,50% no fim de 2023, a curva de juros ainda precifica uma taxa de juros acima disso para o mesmo período.”
“Por mais que o Focus aponte para uma Selic em torno de 12,50% no fim de 2023, tudo indica que não será ainda nesta reunião que a taxa começará a cair”, avalia Jaiana Cruz, planejadora financeira CFP, analista, sócia da AVG Capital e educadora financeira no EDUCA$, instituição sem fins lucrativos que voltada à educação financeira. “Talvez as quedas comecem a aparecer somente a partir do segundo semestre.”
Camila Dolle, head de renda fixa da XP, também aposta na permanência da Selic em 13,75% não apenas nesta, mas nas 2 ou 3 próximas reuniões do Copom. Ela chama a atenção, no entanto, para a principal mudança das expectativas do mercado em relação à inflação desde a última reunião, que subiram: a mediana passou de 5,1% para 5,7% para 2023.
“A expectativa é a de que, no comunicado, o BC traga algo endereçando esse aumento de expectativa de inflação, não o suficiente para elevar a Selic agora ou no curto prazo”, diz Camila. Dependendo se o BC adotar um tom mais firme no comunicado, segundo ela, poderá haver uma elevação pontual na curva de juros mais curtos, mas nada que venha a afetar os títulos de renda fixa. Para a XP, o ano deve ser bem positivo para o setor e, no longo prazo, os juros nominais e reais vão continuar elevados.
O Copom deve repetir no comunicado a perspectiva de continuidade de juros elevados e por mais tempo, e sinalizar sua determinação de acompanhar de muito perto de todos os riscos de pressão sobre a inflação inclusive a fiscal, sem descartar a possibilidade de novo ajuste na Selic, caso necessário, acredita a economista-chefe da Galápagos, Tatiana Pinheiro.
A economista ressalta que sazonalmente, os preços no primeiro trimestre do ano são mais elevados no País, pelas chuvas, quebra de safra e alta nos alimentos assim como pelo reajuste da mensalidade escolar e das tarifas de transporte. Então já são esperados números mais pressionados para o IPCA do período, e não é isso que deve levar o BC a promover nova rodada de alta dos juros.
“O atraso na discussão do arcabouço fiscal, o ativismo nos bancos públicos para a concessão de crédito são pontos que se causarem aumento do risco-país podem pressionar a taxa de câmbio e aí sim levar o Banco Central a rever a política de manutenção da taxa de juros”, afirma Tatiana.
Como fica a renda fixa
Embora o início do ciclo de queda dos juros se projete para o mercado ainda como cenário relativamente distante, Castro, sócio da GT Capital, vê atratividade em alguns investimentos prefixados. Ele diz que em algum momento deverá ocorrer uma redução na Selic e nesse caso a rentabilidade no prefixado será maior comparado com o pós-fixado. “Acredito que o momento certo dependerá muito do nível de risco que o cliente está disposto a correr, mas vejo que este já e o momento certo.”
Um tom mais duro do BC na condução de política monetária, no comunicado pós-reunião do Copom, é esperada por Paulo Ricardo, especialista em renda fixa da Blue3. Para ele, a recente alta de combustíveis tende a botar pressão adicional à inflação.
É um cenário que, para o especialista, continua muito propício a títulos públicos indexados ao IPCA (Tesouro IPCA), com vencimentos em 2035 e 2045. Uma sugestão que não dispensa a estratégia de diversificação da carteira, com ativos de todos os indexadores (prefixados, pós fixados e IPCA), “que pode ser alterada ao longo do tempo de acordo com o perfil de cada um”.
Jaiana Cruz também diz que os títulos indexados ao IPCA estão cada vez mais atraentes, com juro real alto em torno de 6% ao ano acima da inflação. Ela recomenda, contudo, títulos públicos do Tesouro Direto (Tesouro IPCA), com vencimentos mais curtos, entre 2028 e 2033.
Os títulos de crédito privado isentos de imposto de renda, como as debêntures incentivadas, também fazem parte do cardápio de recomendações da planejadora financeira. E também os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Imobiliários (CRIs). “Importante sempre é ficar atento para a nota de crédito (avaliação de risco) do papel, dando preferência aos títulos AAA (triple A).