Saiba como especular com o tesouro direto em 2019
Já fizemos um texto aqui em que destacamos que não são só os preços de renda variável ou de ações que oscilam, os preços dos títulos…
Já fizemos um texto aqui em que destacamos que não são só os preços de renda variável ou de ações que oscilam, os preços dos títulos também variam.
Sim, esses mesmos títulos que são adquiridos no Tesouro Direto.
Quando falamos que renda fixa é um investimento seguro, isto leva em conta que o investidor carregue o título até seu vencimento, de forma que ele deverá pagar o retorno da taxa de juros acordada.
No entanto, no meio tempo entre a compra do título e seu vencimento, seu preço oscila bastante e é possível ter ganhos (e perdas) com esse processo.
No texto de hoje, descrevo um cenário em que se pode especular com o Tesouro e aferir esses ganhos.
Por isso, continue lendo para saber mais sobre:
- Mecanismo básico de preço de Títulos Públicos
- Cenário o atual influencia o Tesouro Direto
- Aprovação da reforma da Previdência e o Tesouro Direto
Mecanismo básico de preço de títulos públicos
Primeiramente, para entender todo o resto do texto, é importante entendermos que:
- Os preços dos títulos também flutuam no mercado secundário, isso não é uma particularidade de renda variável; e
- É possível realizar venda antecipada e aproveitar essa variação de preço. O preço de um título segue a fórmula padrão e básica de juros compostos:
Onde:
M= Montante (também conhecido como Valor Futuro ou Valor de Face), ou seja, o valor disponível no vencimento da aplicação;
C= Capital (também conhecido como Valor Presente) ou o dinheiro investido na data da compra do título;
i= a taxa de juros;
n= período até o vencimento do título.
Desses quatro parâmetros, 2 são dados: o M e o n.
O montante (M) é sempre definido e tem um valor predeterminado que o título deverá ter no final do período. Em geral, esse valor é R$ 1.000,00.
O prazo do título (n), se altera apenas conforme o tempo passa.
Assim, os parâmetros que flutuam são o capital e a taxa de juros.
Como estamos interessados no preço do título, vamos rearranjar a fórmula para isolar o C:
Daí, conseguimos extrair uma relação importante e que vai nortear nossa discussão hoje.
Por exemplo, suponha um título em que o montante seja de R$1.000,00, o prazo de dez anos e a taxa de juros negociada seja de 10% ao ano.
Calculando o preço desse título hoje, teremos C=1.000,00/(1+10%)^10. Ou seja, nessas condições o preço (C) será de R$ 385,54.
Agora imagine que a taxa de juros caia para digamos 5%. Recalculando: C=1.000,00/(1+5%)^10, o novo resultado será R$ 613.91.
Apenas para exemplificar com números a relação inversa que falamos e que será importante ter em mente: quando a taxa de juros cai, o preço do título aumenta.
Como o cenário atual influencia o Tesouro Direto
A atual discussão econômica não é outra, senão a reforma da previdência.
Passamos por um problema fiscal gigantesco, no qual desde 2015 temos déficits primários recorrentes e a perspectiva é que ainda teremos isso nesse ano.
E o déficit da previdência é gigantesco!
É claro que apenas essa medida não resolverá todos os problemas, mas ataca uma fonte grande de nosso déficit fiscal.
Mas o que isso tem a ver com a oscilação da taxa de juros?
Bem, vou ter de recorrer às minhas aulas de economia novamente e vou tentar ser o mais simples possível.
Precisamos entender duas coisas:
i) a dinâmica que a parte de finanças públicas tem na inflação; e
ii) que a taxa de juros é o controle primário que o Banco Central tem para controlar a inflação.
Sobre o primeiro ponto, uma das causas que grandes economistas usam para explicar o porquê temos inflação crônica é o descontrole fiscal que o país tem. Ou seja, com uma situação fiscal desequilibrada, a inflação tende a acelerar.
O segundo ponto é que o controle primário de inflação é feito através da taxa básica de juros. Quando a inflação sobe, o Banco Central eleva a taxa Selic e vice-versa.
Portanto, um cenário de aprovação da reforma da previdência e consequente endereçamento de grande parte dos problemas fiscais, nos levaria a um ambiente de inflação mais controlado.
Assim, a necessidade de utilizar a ferramenta de elevação de taxa de juros para controle da inflação seria muito menos necessária no futuro.
É por isso que já vimos uma redução importante das taxas futuras de juro, postas na curva DI. Lembre-se que existem derivativos para “apostar” em como será a taxa de juros no futuro.
Dei toda essa volta, mas agora vou retomar a relação básica que vimos no começo: queda de taxa de juros, significa aumento dos preços dos títulos.
Assim, um cenário de aprovação da reforma da previdência poderia a turbinar os preços dos títulos.
A aprovação da Reforma da Previdência e o Tesouro Direto
Como você pode notar, tudo isso é muito dependente da aprovação de uma reforma importante, que é a previdenciária.
Agora, é preciso entrar um pouco na parte política, que é o que deve determinar se esse cenário ocorreria ou não.
Por ser uma mudança profunda, a reforma previdenciária é enviada ao congresso como um Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Esse tipo de projeto, como o nome diz, altera as leis que regem o nosso país, ou seja, a constituição.
Acho que por aí já podemos perceber o quão importante é essa medida.
Assim, por tamanha relevância, PECs exigem o que chamamos de maioria qualificada para ser aprovada. Isso é, não basta ter maioria absoluta (mais da metade) no congresso para aprovar uma PEC.
Ela exige a autorização de uma parte maior do congresso: 3/5 dos congressistas precisam autorizar uma PEC.
Isso significa que para aprovar tal mudança, 308 dos 513 deputados precisam votar a favor e no senado, 49 dos 81 senadores também precisam ir na mesma direção.
Acho que deu para perceber a dificuldade né?
Mas, embora seja difícil, também não é impossível.
Afinal, se voltarmos pouco tempo atrás, essa reforma esteve próxima de ser aprovada já no governo Temer. Ocorreu que o escândalo da JBS acabou não permitindo que isso acontecesse.
Assim, o debate sobre a importância desse tema já está muito consolidado. Mesmo deputados de oposição já admitem a necessidade dessa reforma.
Ou seja, o nosso problema fiscal chegou a tal tamanho, que existe um consenso que precisamos fazer algo.
No entanto, é importante que a reforma aprovada seja “dura” para de fato resolver o problema.
O governo enviou uma reforma bastante robusta, mas sabemos que o congresso sempre dilui um pouco as medidas que chegam lá.
Portanto, na hipótese de uma reforma suficiente sendo aprovada, podemos ver novamente um rally nas taxas de juro e, consequentemente, uma alta nos preços dos títulos públicos e privados.
E o inverso é verdadeiro: um atraso ou mudança crítica na reforma da previdência, poderia fazer com que os juros voltassem a subir, derrubando o preço dos títulos.
Política sempre é imprevisível e existem grandes riscos envolvidos nessa lógica. Por isso é importante saber o que está fazendo e ter convicção das consequências de cada tomada de decisão.
Conclusão
Os preços dos títulos variam conforme variam as taxas de juros. A venda antecipada é uma forma de se ganhar dinheiro “especulando” com títulos públicos.
Hoje temos um ambiente em que a queda (ou alta) das taxas de juros pode causar a elevação (ou queda) dos preços dos títulos. Isso seria possível com a aprovação (ou não) de uma reforma da previdência robusta em que grande parte de nossos problemas fiscais seriam resolvidos.
A política, assim, desempenhará um papel relevante para os mercados. É por isso que o acompanhamento dos jornais é feito de perto por gestores hoje em dia.
Vale ressaltar que esse texto tem propósito exclusivamente educacional, ao demonstrar na prática como o cenário econômico e político influenciam no preço dos títulos, gerando ganhos através de negociações de títulos públicos no mercado secundário.
Esse texto não é uma recomendação e a tomada de decisões deve ser de responsabilidade única e exclusiva do investidor.
Se ficou com alguma dúvida adicional ou quer contribuir mais com o assunto, comente abaixo!
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