Com inflação perto de dois dígitos, BC eleva Selic em 1 ponto porcentual, para 6,25%
É a quinta alta consecutiva da taxa de juros; perspectiva é de que haja mais dois ajustes até o fim deste ano
Deu o que já era esperado pelo mercado, com o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), elevando em um ponto porcentual a taxa básica de juros, a Selic, para 6,25% ao ano. Esse nível será mantido até o dia 27 de outubro, quando o Copom volta a se reunir para definir o rumo dos juros.
O ajuste veio em conformidade com o que esperava o mercado, depois da sinalização dada pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao afirmar que "o BC não irá alterar o plano de voo de política monetária a cada número novo de alta frequência de inflação que seja divulgado".
Trata-se da quinta alta consecutiva da taxa básica de juros, que após alcançar seu piso histórico em 2% ao ano não para de subir e, na expectativa de economistas e analistas, deve ter mais duas alta ainda neste ano, chegando a 8,50%.
Haverá mais dois encontros do Copom este ano, um em outubro e outro em dezembro, o que levaria a Selic a 8,25% ao ano. O mercado financeiro, no entanto, já projeta uma Selic mais alta até o fim deste ano, de 8,35%, pelos dados estampados no Boletim Focus do Banco Central.
As autoridades monetárias também já sinalizaram que o acompanhamento da conjuntura econômica deverá ser feito de muito perto, e que não haverá dúvidas em puxar a Selic para níveis ainda mais elevados, caso a pressão inflacionária seja crescente ou aumente o temor diante de riscos internacionais.
Campos Neto afirmou também que ajustará a Selic para o nível necessário, de modo a atingir as metas de inflação traçadas pelo Banco Central. "A gente tem um instrumento na mão que vai ser usado da forma como ele precisa ser usado e a gente entende que a gente pode levar a Selic até onde precisar ser levada para que a gente tenha uma convergência da meta no horizonte relevante”, afirmou.
Trajetória da Selic
O mercado financeiro chegou à reunião do Copom com as opiniões divididas entre um aumento de um ponto porcentual, representado por uma corrente majoritária, e de 1,25 ponto. Especialistas argumentam que, com as seguidas revisões para baixo nas estimativas de crescimento do PIB, o BC optou por uma decisão mais comedida na calibragem da Selic.
A Selic é a ferramenta que o BC tem para manter o controle da inflação. Sobretudo a de demanda, quando a procura por bens superior à oferta pressiona os preços. Para tentar conter a carestia, a autoridade monetária sobe a Selic, que leva a uma elevação em cadeia dos demais juros da economia, para encarecer o crédito e inibir o consumo.
Não é o excesso de demanda que pressiona a inflação no cenário atual, mas o manejo dos juros é o único instrumento que o BC tem para tentar frear a escalada de alguns preços que já impulsionou a inflação calculada pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) acima da meta inflacionária.
A meta central de inflação que o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu para este ano e o BC mira ao calibrar a Selic é 3,75%, com margem de tolerância de 1,50 ponto porcentual para cima (5,25%, teto) e para baixo (2,25%, piso).
O IPCA acumulado no ano até agosto, de 5,67%, não apenas já furou o centro da meta (3,75%), mas também embicou acima do teto (5,25%). A inflação estimada para 2021 pelos analistas e economistas do mercado financeiro no último boletim Focus está em 8,35%. Para especialistas, a inflação deste ano está dada e o BC mira a inflação de 2022, que tem como meta central 3,50%, para administrar a Selic.
O IPCA projetado para 2022 pelos analistas consultados pelo relatório Focus está em 4,10% para uma Selic estimada em 8% ao ano. Se a previsão se materializar, mercado e investidores assistirão a uma reviravolta na trajetória desses dois indicadores, em que a Selic passará a rodar com ampla folga acima da inflação.
Um cenário bastante diferente do que ocorre neste ano, em que a Selic vem andando sistematicamente abaixo da inflação corrente. Como essa taxa é referência para a remuneração da renda fixa, a maioria das opções conservadoras desse segmento vem perdendo da inflação.