Tesouro Direto, CDBs, letras de câmbio… Conheça as opções na renda fixa defensiva para se proteger da inflação alta
Papeis que têm o IPCA na remuneração são os mais indicados para períodos de inflação em trajetória ascendente
A inflação continua em alta. O IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15) de agosto, uma espécie de prévia da inflação oficial, cravou 0,89%, de acordo com o IBGE, que divulgou o dado ontem. É hora de procurar opções na renda fixa defensiva, como são chamados os produtos conservadores para promover a correção monetária dos investimentos.
Para alguns, o IPCA-15 acima das expectativas do mercado financeiro foi uma surpresa negativa, para outros nem tanto. São os que entendem que ela veio em linha com sua trajetória mais recente de aceleração.
Uma escalada que vem sendo impulsionada por fatores conjunturais, como os reajustes das tarifas de energia elétrica e o aumento dos preços de combustíveis, mas passa a fazer parte da análise também outros fatores que estariam por trás da resistência da inflação a uma trégua.
Dentre eles, a forte valorização das commodities, na esteira da retomada econômica global, o que torna os alimentos mais caros. “A inflação deve começar a se estabilizar quando houver um ponto de equilíbrio nos mercados de commodities e de câmbio”, acredita Flávio Oliveira, especialista de Renda Variável da Valor Investimentos. “Houve uma puxada muito forte nos preços das commodities e no câmbio.”
Em geral, a alta das commodities, que tem o Brasil como grande exportador, leva a uma queda do dólar, com o ingresso das receitas em moeda forte de empresas exportadoras no País. O aumento da oferta de dólares no mercado valoriza o real e compensa a alta das commodities com o recuo da moeda americana. Desta vez, o dólar insiste à alta, uma resistência que os especialistas atribuem ao cenário doméstico de piora do cenário fiscal e de agravamento da crise política. “A inflação só deve cair e estabilizar-se quando esses fatores se equilibrarem”, prevê Oliveira.
Felipe Chamaniego, especialista em Renda Fixa da Messem, diz que o IPCA 15 surpreendeu negativamente e o cenário de inflação continua preocupante. Principalmente para os investidores mais conservadores, boa parte deles com persistentes perdas na renda fixa.
Renda fixa defensiva tem IPCA na remuneração
Para especialistas, se a preocupação é evitar que a inflação desvalorize o dinheiro aplicado, a opção é a busca de produtos defensivos, com blindagem contra a inflação, que têm o IPCA atrelado em sua rentabilidade. “Não tem muito para onde fugir, senão buscar proteção em títulos indexados à inflação”, comenta Adriano Rondelli, especialista em Renda Fixa da Valor Investimentos.
Tesouro IPCA
Um dos produtos na renda fixa defensiva, que oferecem essa proteção, segundo Chamaniego, é a Nota do Tesouro Nacional da série B (NTN-B), como é chamada no mercado secundário, ou o Tesouro IPCA, em sua versão para compra pela internet no Tesouro Direto. O título rende juro real prefixado e correção monetária pelo IPCA. Um papel que proporciona ganho real, porque tem rentabilidade atrelada à inflação, acrescida de uma parcela de juros.
“No Tesouro IPCA, o investidor consegue travar o juro real logo na largada, quando compra o título”, explica Rondelli, da Valor Investimentos. “Vai ter a segurança de embolsar juro real, que também subiu, porque os investidores estão exigindo prêmio maior para comprar títulos públicos.”
CDBs
Outro título indicado na renda fixa defensiva são os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) também indexados à inflação. “São papeis que remuneram com IPCA mais 5% ou 6% de juro ao ano, que ganham atratividade em cenário de inflação alta”, afirma Chamaniego. Como o IPCA serve de correção monetária, o ganho adicional de juro representa a margem real acima da inflação.
Os CDBs pós-fixados que remuneram com taxas entre 110% e 115% do CDI também tendem a render mais que a inflação – a contraindicação é que, no momento, o juro CDI, que anda colado na Selic, segue abaixo da inflação, apesar dos seguidos ajustes no juro básico. A ideia, contudo, é que, no fim do ciclo de elevação, a Selic passe a rodar acima do IPCA.
Rondelli, especialista em Renda Fixa da Valor Investimentos, prevê que no curto prazo o CDI não deve superar o IPCA, mas deve ficar positivo à medida que o Banco Central for subindo a Selic para tentar conter a inflação. Uma avaliação que cabe também ao Tesouro Selic, com rendimento indexado à taxa básica de juros.
Especialistas chamam a atenção também ao fato de que, além de perspectiva de rendimento atraente, esses papeis embutem baixo risco de crédito. A NTN-B ou Tesouro IPCA conta com a credibilidade do Tesouro Nacional e os CDBs, com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Um guarda-chuva de proteção, com reservas próprias, que assegura ao investidor o ressarcimento de até R$ 250 mil por CPF em caso de quebra ou calote do banco que emitiu o título.
LCIs e LCAs
As Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) também são protegidas pelo FGC, mas costumam ser menos atraentes em rentabilidade, avalia Chamaniego. “O CDB costuma remunerar melhor, as letras são em geral prefixadas ou atreladas ao DI, que como remuneração fica em torno de 100% do CDI.” É possível investir a partir de R$ 1.000 nos CDBs por meio das plataformas digitais de investimento e a partir de R$ 100 no Tesouro IPCA.
Debêntures incentivadas
Uma opção aos títulos públicos e bancários como defesa contra a inflação, de acordo com o especialista da Messem, são os papeis de dívida de empresas privadas, como as debêntures incentivadas – emitidas por companhias para a captação de recursos que serão destinados a investimentos em infraestrutura.
As debêntures incentivadas também oferecem proteção contra a inflação porque têm a remuneração indexada ao IPCA mais uma parcela de juro.
Especialistas chamam a atenção, contudo, para dois pontos: são títulos que têm isenção de imposto de renda sobre o rendimento, mas oferecem risco de crédito pouco maior que os bancários, pois não têm cobertura do FGC, e liquidez relativamente restrita (dificuldade de negociação) na hora de tentar passar o título à frente no mercado secundário.
CRIs e CRAs
“Os títulos de crédito privado, como debêntures, CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), são uma forma de apimentar o portfólio”, comenta Flávio de Oliveira, head de Renda Variável da Valor Investimentos. Os CRIs e CRAs também são isentos de imposto de renda.
Ele diz que com R$ 1 mil é possível comprar uma debênture incentivada, “mas o investidor precisa conhecer muito bem a empresa que emitiu o título de crédito”. Uma opção é investir em um fundo de debêntures com carteira diversificada, que tem à frente um gestor cuidando do produto.