Mais otimista do que o mercado, Campos Neto indica Selic a 12,75% em 2022 com fim do ciclo em maio
Se o cenário internacional se agravar, no entanto, o cenário poderá ser revisto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deu duas indicações ao mercado financeiro na quinta-feira, 24, sobre a condução da política monetária: confirmou que está previsto um novo ajuste da Selic em 1 ponto porcentual em maio e disse que fazer um movimento adicional (mais um ajuste) em junho não é o mais provável.
Traduzindo em miúdos: o ciclo atual dos juros deve terminar em maio, nos dias 3 e 4, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, com a Selic chegando em 12,75% ao ano. Em seu papel de comandante da política monetária, Campos Neto se mostra mais otimista do que boa parte do mercado, que espera um período mais longo para o ciclo e alta mais acentuada da taxa.
Apesar disso, o presidente do BC deixou brechas para uma revisão nos movimentos. "Se o cenário internacional se agravar ou houver outro choque, podemos repensar esse cenário", disse ele. De todo modo, o executivo parece bem mais otimista do que boa parte do mercado financeiro, que projeta uma duração do ciclo mais longa, até agosto, e com a Selic em 13,75%.
Ele ressaltou, ainda, que o mundo passa atualmente por um "cenário volátil". "Os modelos apontam para uma inflação mais baixa para a frente, ainda que no curto prazo seja momento de bastante pressão e volatilidade", considerou.
Campos Neto também garantiu que não há atrasos nem erros na calibragem da taxa básica da economia. "Se tem uma coisa que o BC tem feito é não ficar atrás da curva", afirmou durante entrevista coletiva para detalhar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
De acordo com ele, o Brasil foi o país "que mais fez" (em relação à elevação de juros) e que o choque adicional verificado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) justificava aumentar a Selic em 1 ponto porcentual agora e sinalizar outra elevação de mais 1 ponto porcentual para a próxima reunião de maio.
Horizonte relevante é o de 2023
O presidente do Banco Central afirmou que os modelos da autoridade monetária apontam para uma inflação abaixo da meta em 2024. Ele ponderou que ainda "há muita incerteza". "2024 não é o nosso horizonte relevante", enfatizou.
Para o Copom, o horizonte a ser considerado para conter a alta dos preços será integralmente 2023. A autoridade monetátária admitiu, ainda, que são altas as chances de a inflação ficar fora das metas estabelecidas para 2022, em que o é centro é de 3,5% e o teto de 5%. O próprio BC já trabalha com a previsão de uma inflação de 7,10% para este ano.
Campos Neto comentou que sempre há uma defasagem em relação às decisões do Copom e que a inflação de curto prazo tem sentido a volatilidade vista com a celeridade da absorção interna dos preços internacionais do petróleo. "A velocidade de repasse dos preços de combustíveis tem sido recentemente mais rápida do que o antecipado", admitiu.
O presidente do BC também comentou que todo banqueiro central navega em dois tipos de cenários quando olha para a inflação em alta. Um deles é verificar uma desancoragem em tempos de volatilidade e jogar o juro mais para cima por mais tempo, levando a economia para a recessão. A outra é minimizar a alta da inflação. / com Agência Estado