Bolsa fecha em leve queda de 0,19%, refletindo crescimento menor da China; dólar sobe a R$ 5,51
Sinais de desaceleração na segunda maior economia do mundo afetaram a B3, que foi sustentada pelos bancos
Em um dia marcado por bastante volatilidade, a Bolsa de Valores brasileira andou de lado e fechou praticamente na estabilidade, nesta segunda-feira, 18, com leve desvalorização de 0,19%, aos 114.428,18 pontos. Durante o dia, o Ibovespa chegou a cair mais de 1%, refletindo o mau-humor dos mercados com a divulgação de novos dados econômicos vindos da China, que confirmam o processo de desaceleração da segunda maior economia do mundo.
Já o dólar fechou com alta de 0,96%, cotado a R$ 5,514. As informações negativas sobre a economia chinesa somadas às incertezas políticas e fiscais no Brasil propiciaram o clima de aversão ao risco. Os investidores buscam formas de proteger seu patrimônio, e o dólar se destaca como a opção de uma moeda forte e segura.
De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), o PIB do país asiático cresceu 4,9% no terceiro trimestre. O resultado veio abaixo da expectativa do mercado e com bem menos força sobre o trimestre diretamente anterior, quando a alta foi de 7,9%. O arrefecimento foi influenciado, segundo a entidade, pela escassez de energia e pelos impactos dos setores de tecnologia e construção civil.
Simultaneamente, a produção industrial chinesa cresceu 3,1% em setembro em relação ao mesmo período de 2020, enquanto o mercado esperava uma alta mais expressiva, de 3,8%. Já as vendas no varejo aumentaram 4,4% no mês, ante o ganho anual de 2,5% visto em agosto, e superou o consenso dos analistas, que aguardavam um avanço de 3,4%.
Para Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, "os dados confirmam o processo de desaceleração que a China vem sofrendo, ampliado pela crise imobiliária, o que acaba gerando uma expectativa menor de crescimento e da demanda pelas commodities, refletindo na queda das empresas do setor".
Como a China é o maior demandante de minério de ferro do mundo, a sinalização de um arrefecimento da economia do país refletiu no preço da commodity nos mercado internacionais, que viveu um pregão de quedas.
Acompanhando o movimento, as empresas brasileiras exportadoras de minério também viram suas ações caírem ao longo do dia. A Vale reportou baixa de 0,94% em seus papéis, enquanto as siderúrgicas CSN e Usiminas recuaram 4,13% e 3,02%, respectivamente. Ainda no campo das commodities, a Petrobras caiu 0,51%.
Estados Unidos
O primeiro pregão da semana também contou com influência de dados econômicos dos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) informou que produção industrial no país norte americano caiu 1,3% em setembro em comparação com o mês imediatamente anterior. O número veio bem abaixo das projeções dos analistas, que esperavam variação positiva de 0,2%.
Além disso, a entidade também revisou para baixo o resultado da produção industrial de agosto sobre julho, de alta de 0,4% para redução de 0,1%. Já a taxa de utilização da capacidade instalada caiu um ponto porcentual em setembro - 75,2% - contrariando previsão de avanço a 76,5%. A de agosto foi revisada para baixo - de 76,4% para 76,2%.
Com esses dados, as bolsas de Nova York fecharam majoritariamente em alta. Os índices S&P 500 e Nasdaq 100 subiram 0,34% e 1,02%, enquanto o Dow Jones reportou queda residual de 0,10%.
Os resultados abaixo das expectativas, sinalizando uma desaceleração na retomada econômica dos Estados Unidos, podem levar o Fed a demorar um pouco mais a aumentar a taxa de juros americana, o que favorece a renda variável no país, assim como em mercados emergentes.
Dessa forma, os papéis do setor bancário aqui no Brasil, que são a principal porta de entrada para o investidor estrangeiro, fecharam em alta neste pregão. Bradesco, Itaú e Santander avançaram 1,74%, 0,69% e 0,36%, na sequência, ajudando a segurar o Ibovespa contra uma queda mais acentuada. Riberio afirma que os bancões se destacam neste momento porque os estrangeiros estão em busca de "pechinchas na Bolsa brasileira".
Destaques da Bolsa
Nesta segunda-feira, o grande destaque do dia ficou por conta das ações da Lojas Americanas, que dispararam 20,72%, liderando as altas da B3. O avanço veio com o anúncio de uma possível fusão das bases acionárias da Lojas Americanas (LAME4) e da Americanas S.A. (AMER3), antiga B2W. Os papéis da Americanas S.A. também subiram, mas com menos força, reportando alta de 4,33%.
No campo das baixas, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) liderou as quedas do dia, com variação negativa de 6,46%. A desvalorização dos papéis é um movimento de realização de lucros, após um último pregão de forte alta para as ações do GPA. Na última sexta-feira, o Grupo anunciou a venda de 71 unidades da bandeira de hipermercados Extra para o Assaí, notícia que agradou o mercado.
Cenário interno instável
As incertezas com o cenário fiscal é um dos fatores que continuam inibindo uma recuperação sustentada do mercado de ações. Um dos nós da questão fiscal, a indefinição sobre o pagamento de precatórios, poderia começar a ser desatado, de acordo com especialistas.
Nesta terça-feira, dia 19, a Comissão da PEC (Proposta de Emenda à Constituição nº 23/21) se reunirá para votar o parecer o relator, deputado Hugo Motta.
As indefinições sobre a acomodação das despesas do programa social do governo, Auxílio Brasil, também seguem incomodando os investidores. No dia anterior, o ministro da Cidadania, João Roma, garantiu que o governo terá “zelo fiscal” na implementação da iniciativa, que deve beneficiar perto de 17 milhões de pessoas e ficar na média de R$ 300 ao mês.
Os dois números são maiores do que o programa atual, que atende 14,6 milhões de pessoas, com pagamento mensal de R$ 190 na média.
Para ajudar a elevar a tensão nos mercados, os caminhoneiros estão ameaçando fazer uma nova paralisação no País. A categoria se diz em "estado de greve" desde o último sábado, 16, e, durante o fim de semana, líderes de entidades do setor fizeram críticas ao presidente Jair Bolsonaro.
Nesta segunda-feira, as associações prometem entregar uma lista de reivindicações para o governo. Segundo as entidades, sinalizações positivas são necessárias para evitar paralisação nacional a partir de 1º de novembro. O governo, porém, minimiza a mobilização.
O governo federal vê a mobilização como ameaças feitas antes - e que mais uma vez não devem ser cumpridas. De acordo com uma fonte entrevistada pelo jornal O Estado de S.Paulo, desde 2018 já foram 16 tentativas de paralisação malsucedidas, sendo quatro delas neste ano. Oficialmente, porém, o governo não comentou o assunto. / com Agência Estado