Bolsa despenca 6,74% em outubro e fecha o mês no menor nível do ano; dólar sobe 3,68%
No pregão desta sexta-feira, a Bolsa caiu mais de 2%, impactada, sobretudo, pelo desempenho negativo das ações da Vale e da Petrobras
No último pregão de outubro, a Bolsa de Valores brasileira fechou em queda de 2,09%, caindo aos 103.500,71 pontos, o menor nível registrado em 2021. A queda desta sexta-feira, 29, foi puxada pela desvalorização das ações da Petrobras, que reflete as perspectivas de que o governo Jair Bolsonaro possa interferir na política de preços da empresa, e da Vale, acompanhando a queda no preço do minério de ferro.
Em dois meses, setembro e outubro, a perda acumulada da B3 vai para 13,75%.
Outubro foi marcado pela deterioração do cenário fiscal do País, com o anúncio do pagamento do Auxílio Brasil com parcelas mínimas de R$ 400 e a reformulação do teto de gastos buscando ampliar o orçamento federal, o Ibovespa despencou 6,74% em relação ao mês anterior. Gastos que fazem aumentar o risco fiscal, em quadro já agravado pelo avanço da inflação e a alta dos juros.
Em quadro que eleva a percepção de risco para os ativos brasileiros, o real se desvalorizou com força ante o dólar - que, por ser considerada uma moeda segura, é uma das principais opções para o investidor que quer proteger o seu patrimônio. A moeda americana teve forte alta 3,68% em outubro frente à moeda brasileira e encerrou o mês cotada a R$ 5,64.
Embora tenha apresentado uma alta expressiva no mês, no pregão desta sexta a moeda americana fechou praticamente estável, com leve baixa de 0,10%. De acordo com Alexandre Almeida, economista da CM Capital, a tendência para o dólar agora é que a moeda fique estável pelas próximas semanas, mesmo que em um patamar elevado.
A curva de juros futuros também fechou em baixa no último pregão do mês, devolvendo parte das altas acentuadas registradas ao longo da semana, que acompanharam as expectativas do mercado: as de que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a Selic, taxa básica de juros, aos maiores patamares desde 2016, quando o Brasil passava pela crise política que levou ao impeachment de Dilma Rousseff.
Nesta sexta, o contrato que apresentou a queda mais expressiva foi o de vencimento em julho de 2025. O contrato caiu 0,63%, a uma taxa de 12,03% ao ano.
Dia na Bolsa
O principal destaque do pregão ficou por conta das ações da Petrobras. Os papéis PETR3 e PETR4 caíram 6,49% e 5,90%, respectivamente, com o mercado repercutindo as falas de Jair Bolsonaro sobre a estatal. Na véspera, o presidente afirmou, em sua live semanal, que a petroleira deve ter um "viés social" e que "tem que ser uma empresa que dê um lucro não muito alto como tem dado".
As considerações de Bolsonaro sobre a Petrobras foram feitas no mesmo dia que a empresa divulgou os seus resultados do terceiro trimestre. Na esteira da valorização do preço do petróleo nos mercados internacionais e refletindo, também, uma série de reajustes no valor dos combustíveis no Brasil, que estão cada vez mais caros, a petroleira registrou lucro líquido de R$ 31,14 bilhões entre julho e setembro de 2021.
Apesar dos bons números apresentados pela companhia, que surpreenderam o mercado positivamente, os recentes comentários do presidente aumentam a percepção de que o governo possa interferir na política de preços da petroleira, o que preocupa o mercado.
Ainda no campo das commodities, a Vale fechou em queda de 2,84% neste pregão, acompanhando a desvalorização no preço do minério de ferro nos mercados globais, preocupados com as novas investidas do governo chinês para frear a produção de aço. Além disso, especialistas destacam que, embora o resultado apresentado pela mineradora em seu balanço trimestral tenha sido positivo, ele veio abaixo do esperado pelo mercado.
A Vale registrou lucro líquido de US$ 3,886 bilhões no terceiro trimestre de 2021, aumento de 34% em relação ao mesmo período de 2020.
Na mesma esteira, outras empresas ligadas ao minério de ferro também fecharam o dia no vermelho. CSN, Usiminas e Gerdau registraram baixa de 2,54%, 7,54% e 1,82% na Bolsa, respectivamente.
Para Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, "o peso da Vale e da Petrobras na composição do Ibovespa explica por completo a queda do mercado neste último pregão do mês".