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Até onde pode chegar a crise da Evergrande? Fundos multimercado são mais expostos, avaliam gestores

Especialistas não acreditam que os gestores de grandes fundos de investimento domésticos tenham exposição direta à crise da Evergrande

Data de publicação:29/09/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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Entre idas e vindas que alternam perspectivas ora de possível solução, ora de risco de agravamento, a crise de liquidez da gigante imobiliária Evergrande - uma das maiores construtoras da China e considerada uma das mais endividadas do mundo - continua projetando dúvidas sobre seus desdobramentos e efeitos sobre os mercados financeiros global e local.

Especialistas e profissionais do mercado financeiro não acreditam que os gestores de grandes fundos de investimento domésticos tenham exposição direta à crise financeira da Evergrande, com bônus e títulos de dívida da incorporadora chinesa em carteira sob sua gestão.

Fachada do prédio da Evergrande | Foto: Divulgação

Fundos como os da BlackRock, Ashmore e UBS que operam com fundos em escala global tendem a ter algum grau de exposição, comentam gestores, mas limitada a fundos internacionais, sem que se tenha evidência da existência de exposição de fundos locais.

São gestores internacionais muito grandes que, por operar em escala mundial, movimentam fundos com exposição à China e podem ter aqui também, os fundos multimercado com crédito privado, comentam, em tom de especulação, especialistas e gestores locais.

Seria improvável, contudo, que o investidor doméstico tenha acesso à informação sobre a existência de ativos ligados à Evergrande na carteira do fundo nacional onde investe, acredita Bruno Mansur, especialista da Valor Investimentos.

Governo chinês tenta evitar colapso

As dúvidas são muitas, mas a aparente disposição do governo da China de impedir que a Evergrande entre em colapso e a crise se espalhe pelo sistema financeiro chinês deu um alívio aos mercados, observa Mansur. Uma das iniciativas foi pedir aos bancos, todos estatais, que concedam empréstimo à incorporadora.

Para Gustavo Bertotti, head de Renda Variável da Messem Investimentos, a grande preocupação do governo chinês é evitar que a crise contamine o mercado imobiliário e o de construção como um todo. A venda de ativos (imóveis) em massa para saldar suas dívidas (estimada em torno de US$ 300 bilhões), segundo Bertotti, “pode causar um impacto nos preços, afetando outras companhias e criando problemas para todo o setor e a economia”, avalia. “E a China tem grande influência na economia global.”

Crise da Evergrande pode respingar em bancos, bolsa e ações da Vale

O temor que varre o mercado financeiro, especialmente os investidores em fundos que têm bônus e títulos da incorporadora em carteira, diante ainda de um possível calote dela, atinge também o mercado de ações.

A contaminação da economia pela crise, gerando arrefecimento de atividade, pode provocar efeitos negativos no mercado, porque a China é grande importadora de alimentos e commodities. “E aí pode causar efeitos negativos na bolsa de valores”, avalia Mansur.

Bertotti diz que um dos segmentos que podem ser fortemente atingidos é o de minério de ferro, “diretamente ligado ao setor chinês de construção civil”, cujo efeito pode respingar em ações da Vale, companhia que tem na exportação de minério para a China sua principal fonte de receita.

A sinalização de que haverá ajuda do governo chinês para impedir o colapso da construtora não quer dizer que o problema esteja solucionado na parte financeira, avalia Mansur, especialista da Valor Investimentos. “O risco de contaminação da crise para outros setores da economia persiste.”

“O espectro da inadimplência da Evergrande gera muita preocupação e o governo chinês ainda não se pronunciou sobre um resgate que evite o efeito dominó em setores que estão muito além do mercado imobiliário”, reforça Sofia Gancedo, COO da Bricksave.

Ela afirma que a raiz do problema está no elevado endividamento e nos impactos que a quebra da incorporadora imobiliária chinesa poderá causar em vários setores, a começar por bancos e entidades financeiras a quem a empresa deve dinheiro.

O caso Evergrande, segundo Sofia, deixa como mensagem que, ao escolher onde investir, “não se deve olhar apenas ao setor em que o dinheiro está investido, mas também para o modelo de negócios da empresa” – há dois anos, a companhia era avaliada como a ação do setor imobiliário mais valiosa do mundo.

E ainda às respostas para perguntas como o risco que o modelo embute, como o investidor poderia responder a uma crise, quais pessoas e organizações estão em cada projeto.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.