Após ‘boom’ durante pandemia, vendas de casas no interior têm fôlego para ir mais longe
Imóvel ganhou um novo significado na vida das pessoas, segundo presidente da Aelo
As casas no interior, no litoral e nos condomínios fechados ao redor das grandes cidades foram as vedetes do mercado imobiliário ao longo da pandemia.
As vendas nesses segmentos dispararam, fruto da possibilidade do trabalho e do estudo à distância. Mas e agora? Com a volta às aulas e aos escritórios, a demanda por essa classe de imóveis vai desabar? A resposta é não, segundo especialistas do mercado imobiliário.
“Eu acredito que a demanda vai continuar saudável porque o imóvel ganhou um novo significado para as pessoas”, aponta o presidente da Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano (Aelo), Caio Portugal.
“A pandemia trouxe novos aspectos na tomada de decisão de compra. O consumidor passa mais tempo em casa, então dá mais valor a espaços maiores, com quintal, sol e área verde. Esse desejo vai continuar”.
Levantamento da Aelo no Estado de São Paulo mostra que as vendas de lotes residenciais tiveram um pico no primeiro semestre de 2020 (quando o covid se espalhou e comércio e escritórios fecharam as portas), chegando a 23,8 mil unidades, uma alta de 24% em relação ao mesmo período de 2019.
Já no primeiro semestre de 2021, as vendas atingiram 22,2 mil unidades - uma queda de 7% na comparação anual - mas ainda assim um resultado muito forte, de acordo com o presidente da Aelo. “As vendas só não foram maiores neste ano porque os estoques de lotes estavam baixos”, explica.
Portugal acredita que as casas em condomínios nos arredores das cidades têm condições de fazer parte do novo estilo de vida híbrido, que mistura dias de trabalho presencial com outros de home office.
No caso das escolas, é possível achar boas redes de ensino no interior e no litoral, com preços até mais atraentes do que nas cidades grandes. “É possível conciliar tudo”, avalia.
Procura
O presidente da Aelo acrescenta que o movimento nos estandes de loteamentos permanece intenso, embora tenha havido um certo esfriamento nas últimas semanas. Mas, segundo ele, isso está relacionado à piora da situação econômica do Brasil, com inflação e juros em alta - mesmo motivo que também esfriou as vendas de apartamentos nas cidades.
A mesma visão é compartilhada pelo diretor institucional da Lopes, Cyro Naufel. Ele acredita que a procura por imóveis no interior, litoral e condomínios fechados vai permanecer saudável.
“É natural que haja uma queda, porque estamos vindo de um pico de vendas. Mas a demanda ficará em um patamar intermediário, bem acima do que era visto antes da pandemia”, estima.
Naufel lembra que muitos brasileiros se mudaram das cidades grandes, mas não chegaram a se desfazer das moradias originais. “De modo geral, as pessoas trataram esse movimento como algo temporário. Poucos venderam seus apartamentos nessa mudança”, pondera.
Agora, há um retorno a essas moradias, mas dentro de um novo contexto, que é o expediente híbrido. “O trabalhador pode ficar em São Paulo de segunda a quarta. Na quinta, vai trabalhar na sua casa na praia e aproveitar a qualidade de vida. Será perfeitamente normal”.