Americanas afasta diretores para não 'contaminarem' apuração de rombo
O período em que os seis diretores ficarão fora da companhia ou mesmo o retorno deles está condicionado ao levantamento das investigações.
A Americanas decidiu afastar ontem seis executivos e diretores da área financeira e contábil da companhia e de suas controladas para evitar que eles "contaminem" as investigações sobre o rombo bilionário que levou a varejista a pedir recuperação judicial.
Todos foram convocados para uma reunião sexta-feira (3) à tarde, quando foram comunicados da dispensa. O período em que ficarão fora da companhia ou mesmo o retorno deles está condicionado à apuração das investigações.
"O conselho de administração da companhia deliberou, nesta data (3 de fevereiro), afastar os diretores estatutários de todas as suas funções e atividades na companhia e suas controladas, durante o curso das apurações decorrentes do fato relevante publicado em 11 de janeiro de 2023 (quando a existência de "inconsistências contábeis" de R$ 20 bilhões veio a público), sem que o afastamento represente qualquer antecipação de juízo", diz trecho do comunicado divulgado ao mercado.
Carlos Alberto Sicupira e Paulo Alberto Lemann, filho de Jorge Paulo Lemann, integram o conselho de administração da Americanas. No total, são sete membros, incluindo Eduardo Garcia, Claudio Garcia, Mauro Not (independente), Sidney da Costa (independente) e Vanessa Claro Lopes (independente).
Há suspeita de envolvimento dos executivos afastados no processo que desembocou na descoberta da fraude. Até pelo tempo em que permaneceram à frente da rede varejista. Eles pertencem à gestão de Miguel Gutierrez, que ficou na varejista por 30 anos (sendo 20 anos como CEO) e que até agora não deu nenhuma explicação - apesar de o rombo se referir aos balanços dos últimos anos. Esses diretores já estavam sem acesso à contabilidade da empresa e a e-mails corporativos desde o dia 11 de janeiro.
A crise envolvendo a Americanas também foi parar na Justiça, com os bancos credores cobrando as dívidas não pagas. A companhia pagava fornecedores por meio de uma triangulação com os bancos, mas os pagamentos não foram devidamente dimensionados e realizados, gerando o rombo.
O trio de acionistas Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles já afirmou que desconhecia a existência de irregularidades na empresa. Mas em conversas reservadas, representantes de bancos afirmaram não acreditar na versão de que o comando da Americanas não soubesse de eventuais fraudes na contabilidade. Eles apontam uma sequência de fatos recentes que, vistos de trás para frente, deixam as instituições financeiras com desconfianças em relação à versão dada pelos maiores acionistas.
Nova estrutura
Ao pedir a recuperação judicial, a empresa já tinha anunciado a instalação de um comitê independente liderado pelo jurista e ex-diretor da CVM Otávio Yazbek, e a contratação da Rothschild. Ainda mencionou a nomeação da executiva Camille Loyo Faria para o cargo de diretora financeira (CFO).
Agora, de acordo com o comunicado, a Americanas terá uma nova estrutura com o afastamento dos diretores. A empresa apontará novas lideranças, internas e externas. Para o gerenciamento da recuperação judicial, a varejista contratou a Alvarez&Marsal; a consultoria da Deloitte Touche Tohmatsu fará a assessoria contábil. Outras mudanças não estão descartadas para garantir a operação da companhia. João Guerra, vindo do RH da Americanas, segue como CEO até nova eleição em 2024. / Agência Estado