Economia

Entenda como o novo cálculo para a Tabela do Frete pode impactar a inflação brasileira

Preço do frete impacta todos os setores da economia e todos os itens negociados na economia

Data de publicação:17/05/2022 às 03:16 - Atualizado 2 anos atrás
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Na manhã desta segunda-feira, 17, o presidente Jair Bolsonaro editou uma Medida Provisória (MP) que permite a correção extraordinária da Tabela do Frete para transportadores de cargas toda vez que o preço do diesel nos postos de combustíveis passar por um aumento igual ou superior a 5%. A medida tem força de lei e passa a valer hoje.

A ação do governo busca aliviar as pressões dos caminhoneiros, tidos como uma das principais bases eleitorais de Bolsonaro, em um cenário de diversas altas consecutivas no preço dos combustíveis. Especialistas alertam, no entanto que a medida pode impactar a economia brasileira, pressionando, ainda mais, a inflação.

Preço do frete é refletido em todas os setores da economia | Foto: Reprodução

De acordo com Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, se o valor do frete cobrado pelos transportadores sobe, o impacto será sentido sobre "praticamente todos os itens que são comercializados e negociados na economia do País", já que a maioria dos produtos e serviços dependem do transporte em alguma etapa de sua cadeia produtiva até chegar no consumidor final.

Como a alta do frete afeta a inflação?

Segundo Carla, os itens mais básicos são os mais afetados, enquanto os itens mais elaborados e os serviços sentem a variação dos preços de forma menos acentuada. Ela explica que isso acontece porque no caso dos itens mais básicos, principalmente os relativos à alimentação no domicílio e outras matérias-primas, o preço do frete é um componente bastante expressivo dentro dos custos de produção, elevando o custo desses produtos.

"A medida que nós vamos caminhando dentro do processo produtivo e permeando aqueles itens que são mais elaborados (que envolvem mais processos em sua produção, como os bens industriais, por exemplo), o preço do frete representa um custo relativo cada vez menor dentro desse processo produtivo. Portanto, esses itens são menos afetados", pontua a economista da CM Capital.

Carla ressalta, ainda, que até mesmo o setor de serviços pode sentir os efeitos da alta do frete, mesmo que de forma menos intensa. "Em restaurantes e bares, por exemplo, os produtos precisam chegar até esses lugares em que são ofertados os serviços, então o custo da prestação de serviços também sobe", aponta.

Dessa forma, com todos os setores da economia sentindo, direta ou indiretamente, os reajustes no valor pago pelos transportes dos produtos, a economista diz que o aumento dos preços deve ser refletido no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o principal indicador da inflação no Brasil.

Quando os efeitos da alta do frete serão sentidos?

Os primeiros a sentir os impactos da alta do frete, segundo Carla, são os produtores. Conforme o produto for passando pelas etapas da cadeia produtiva, os outros setores começam a sentir a variação também. Até que o produto ou serviço chegue ao consumidor final já com esses reajustes, a economista afirma que há uma janela de dois a três meses.

Para o economista e professor da Faculdade do Comércio de São Paulo Denis Medina, entretanto, há outro ponto importante que deve ser levado em consideração. Ele explica que, nem sempre quando ocorre uma correção na Tabela do Frete, necessariamente o preço dos fretes também vai subir.

Tabela do Frete X Preço real

Medina pontua que, na lógica econômica, o que determina os preços é a lei da oferta e demanda. Assim - principalmente em um momento de altos níveis de desemprego -, os transportadores podem estar sujeitos, também, ao valor que os demandantes do serviço estão dispostos a pagar.

"Mesmo com a tabela, se um produtor precisa transportar seus produtos e tem um caminhoneiro que aceita fazer o serviço por um valor inferior ao corrigido pela tabela, enquanto o outro está cobrando o preço já atualizado, o produtor vai escolher pagar menos", destaca o professor.

Desse modo, pode ser que, mesmo com a autorização do presidente com a MP que viabiliza a correção do frete com base numa alta de 5% ou mais do diesel, o valor cobrado pelos transportadores pelo serviço pode não subir de imediato e, assim, os impactos da alta do frete na economia demorariam mais para ser sentidos.

Como serão feitos os reajustes na tabela?

Na semana passada, a Petrobras reajustou em 8,87% o preço do óleo diesel nas refinarias. Desde então, o preço médio de venda de diesel repassado das refinarias da Petrobras para as distribuidoras é de R$ 4,91 por litro, R$ 0,40 a mais por litro.

No entanto, a atualização da tabela do frete não é feita de forma imediata, porque o reajuste da Petrobras refere-se ao preço do combustível nas refinarias, enquanto o valor adotado como referência na tabela do frete é a média dos preços praticados nas bombas dos postos de combustíveis, auferido em levantamento semanal feito pela ANP, e não os anunciados pela petroleira.

A atualização mais recente da tabela foi feita em 19 de março, com valor de referência do óleo diesel S10, de R$ 6,751 por litro. Desde lá, houve avanço de 0,05% no preço médio do combustível nas bombas, conforme o levantamento mais recente da ANP, de 6 de maio, medido em R$ 6,775 por litro. / Com Agência Estado

Sobre o autor
Bruna MiatoA Mais Retorno é um portal completo sobre o mercado financeiro, com notícias diárias sobre tudo o que acontece na economia, nos investimentos e no mundo. Além de produzir colunas semanais, termos sobre o mercado e disponibilizar uma ferramenta exclusiva sobre os fundos de investimentos, com mais de 35 mil opções é possível realizar analises detalhadas através de índices, indicadores, rentabilidade histórica, composição do fundo, quantidade de cotistas e muito mais!