Renda Variável

Alta da Selic ainda não incomoda a bolsa, que tem saldo positivo de R$ 1,579 bi no mês

Renda fixa ainda é negativa, mesmo com Selic a 5,25%, e por isso não retira investidor da bolsa

Data de publicação:17/08/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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Não é consenso no mercado que a alta da Selic e, em consequência, a maior atratividade da renda fixa está incomodando a bolsa de valores. Segundo o economista Gustavo Bertotti, da Messem Investimentos até o dia 12 de agosto, o saldo estava positivo em R$ 1,579 bilhão, e números atualizados devem ser divulgados nesta terça-feira, pela B3.

Para a maioria dos analistas, o pano de fundo que está levando a B3 a andar de marcha à ré em agosto são as preocupações com a política fiscal e o embate entre os Poderes – no mês, até agora, a B3 acumula queda de 2,15%. “Não é a alta da Selic que incomoda o mercado, a subida já está precificada no preço dos ativos”, afirma Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Sede da B3 em São Paulo - Foto: B3/Divulgação

Especialistas acreditam que o cenário doméstico de crescente instabilidade estimulou vendas para a realização de lucros e parte dos recursos seguiu outros caminhos, fora da bolsa: exterior e renda fixa.

Scott Hodgson, gestor da Galapagos Capital, afirma que aproximadamente 85% das ações do Ibovespa recuaram no mês. Principalmente as de construtoras, tecnologia e varejo, ligadas às perspectivas de reabertura da economia.

Vitor Carettoni, diretor da Mesa de Renda Variável da Lifetime Investimentos, vê uma mudança no fluxo de recursos, após o início de alta dos juros. Ele compara os dados deste ano com os de 2020.

De acordo com Carettoni, neste ano os fundos de investimento tiraram R$ 45 bilhões da bolsa, os investidores de varejo, pessoa física, ingressaram com R$ 6 bilhões e os investidores estrangeiros entraram com R$ 42 bilhões. Em 2020, o investidor pessoa física colocou R$ 52 bilhões na bolsa, compara o diretor da Mesa de Renda Variável da Lifetime.

Investidor de varejo embolsa o lucro

Além de ingressar com menos recursos, ele diz que o investidor de varejo passou a vender ações em maior volume, juntamente com os fundos, a partir de abril, com o início do ciclo de alta da Selic, em contraste com uma chegada mais forte do capital estrangeiro à bolsa.

 “Com certeza, estão colocando os lucros obtidos desde o ano passado ou realocando um pouco o portfólio, aproveitando a alta dos juros, porque alguns títulos com taxas prefixadas estão pagando bom retorno ao investidor”, diz o especialista da Lifetime.

Carettoni aponta também que, ainda que o número de CPFs na B3 tenha chegado a 4 milhões recentemente, a participação do investidor pessoa física na bolsa de valores tem encolhido a cada mês. “De quase 23% entre agosto e outubro de 2020, essa participação recuou para 20,3% no fim do ano passado e agora caiu para 19%.”

Gustavo Bertotti, da Messem Investimentos, diz que a pressão de venda na B3 tem crescido notadamente ao longo deste mês, à medida que o cenário interno passou a pesar mais, com o aumento do risco político, pelo confronto entre os Poderes, e do fiscal, pelas incertezas com a solução para o pagamento dos precatórios.

Não bastasse o cenário doméstico de incertezas, agravado pelo quadro global de insegurança com o risco geopolítico do Afeganistão, que afasta também o investidor estrangeiro da bolsa doméstica, Bertotti diz que a renda variável continua com atratividade. “As ações estão de 40% a 30% mais baratas, as empresas estão com fundamentos bons, os últimos balanços vieram, em geral, com resultados acima das expectativas.”

O temor com o cenário fiscal e político ofuscou um pouco o brilho dos balanços, acredita. Otimista, o economista da Messem prevê que, com a retomada econômica, o Ibovespa chegue a 140 mil pontos no fim do ano.

Renda fixa negativa não ameaça a bolsa

“A renda fixa continua perdendo da inflação, mas com a elevação da Selic os investidores já veem a luz no fim do túnel para o ano que vem, quando a Selic deve pular acima da inflação”, avalia Stefano Spinelli, analista da RB Investimentos. Não se tem, até pela ausência de pistas, estimativa do volume de recursos que tomou cada direção.

O pico da Selic, estimado em 7,50% ao ano pelo último boletim Focus, não é, para analistas, o divisor de taxa para a decisão pela renda fixa, mas os juros futuros dos contratos de DI, que dispararam. O DI de contrato para vencimento em 2029, o mais negociado atualmente no mercado, passou de 10% ao ano – foi a 10,25%, ontem.

Miram os ganhos proporcionados pelos juros futuros em alta quem investe, por exemplo, em títulos públicos de vencimentos mais longos atrelados à inflação ou prefixados, ofertados na plataforma do Tesouro Direto. Os juros desses títulos subiram cerca de 0,50 ponto porcentual desde o início de agosto.

A taxa do Tesouro IPCA 2026, com vencimento em 15 de agosto de 2026, que iniciou o mês em torno de 4,00% ao ano, avançou para 4,40% mais correção monetária pelo IPCA. A taxa de juro do Tesouro Prefixado 2024, para vencimento em 1º de julho de 2024, subiu de cerca de 8,80% ao ano na virada do mês para perto de 9,40%.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.