Ações da Petrobras despencam mais de 8% e expectativas são pessimistas para os próximos dias; entenda o porquê
Analistas afirmam que reajuste nos preços dos combustíveis não foi suficiente
Em um dia de queda generalizada na Bolsa de Valores brasileira, a B3, as ações da Petrobras, uma das empresas com maior peso na composição do Ibovespa, estão entre as maiores baixas do pregão desta sexta-feira, 17. As expectativas para os próximos dias, segundo analistas, também não é das melhores, já que os fatores que derrubam os papeis hoje devem continuar no radar dos investidores.
Mais cedo, a petroleira anunciou um reajuste nos preços dos combustíveis, válido a partir deste sábado, 18. A gasolina vai subir 5,2%, com o preço médio subindo de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro, e o diesel terá alta de 14,2%, com o preço médio para as distribuidoras subindo de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro. Nem o mercado e muito menos o governo receberam bem a notícia e, por isso, os papéis PETR3 e PETR4 disparavam 8,27% e 7,81%, respectivamente, às 15h41.
Na noite da véspera, quando os boatos de que a Petrobras elevaria os preços surgiram na mídia, diversas autoridades políticas começaram a se manifestar contra a diretoria e a política de preços da petroleira. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, inclusive chegou a pedir a renúncia imediata do presidente da estatal, José Mauro Ferreira Coelho.
Mercado enxerga que reajustes não foram suficientes
Se por um lado o governo e seus apoiadores criticam a Petrobras por elevarem os preços dos combustíveis - o que pode impactar negativamente a corrida de Jair Bolsonaro pela reeleição -, por outro, o mercado entende que os reajustes anunciados pela companhia nesta sexta não serão suficientes para resolver o problema da defasagem de preços em relação ao mercado internacional.
"De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), os preços de diesel e gasolina estão defasados em 18% e 14% (em relação ao Golfo do México), respectivamente, frente às cotações internacionais", afirma Luiz Carlos Côrrea, sócio da Nexgen Capital. Os preços praticados pela Petrobras seguem a política de paridade internacional.
Assim, para que haja o fornecimento de combustíveis no Brasil, é necessário que a petroleira acompanhe as variações dos preços dos produtos no exterior, repassando aos consumidores. "O ponto principal do ajuste é se aproximar dos preços internacionais, para que as empresas de fora continuem a exportar para o Brasil. Claro que a Petrobras atingirá uma maior margem de lucro, mas o foco é o Brasil não ter problemas com desabastecimento", pontua Côrrea.
O especialista da Valor Investimentos, Wagner Varejão, compartilha da mesma opinião e ressalta que, para o mercado, o ideal seria que a Petrobras repasse os valores integrais para o preço dos combustíveis. "Quando o dólar e o petróleo subirem, o ideal seria que a Petrobras repassasse isso para o preço do combustível, senão é como se a empresa estivesse praticando um (fornecimento de) subsídio", explica.
Preço do petróleo impacta a cotação das ações da Petrobras
O preço do petróleo está em níveis historicamente altos. Mesmo com a forte desvalorização da commodity observada neste pregão, tanto os contratos futuros de petróleo tipo Brent quanto os WTI operavam acima dos US$ 110 mil durante todo o dia. Ilan Arbetman, analista de reserach da Ativa Investimentos, afirma que esse preço alto se deve, principalmente, aos seguintes fatores:
- Guerra entre Rússia e Ucrânia, que impossibilita a exportação da commodity presente nos países;
- Problemas de logística remanescentes da pandemia de covid-19;
- Incertezas de alguns países da Opep+ com relação a capacidade de cumprir sua meta de produção de petróleo;
- Mesmo com a oferta comprometida, a alta demanda pela commodity continua, principalmente no Hemisfério Norte.
No entanto, apesar de tais fatores elevarem a cotação do petróleo (e, justamente por isso, o preço da Petrobras está defasado), as perspectivas para os próximos meses são de uma redução na demanda, o que tem feito a commodity passar por dias de bastante desvalorização.
Segundo Arbetman, desde a última sexta-feira, com dados americanos mostrando que a inflação nos Estados Unidos já é muito maior do que as projeções, cresceram as expectativas de que os bancos centrais elevem cada vez mais os juros e, com isso, a atividade global pode ser reduzida, impactando diretamente a demanda.
Como a Petrobras também é uma exportadora de petróleo, se a cotação da commodity recua, os ganhos da companhia também serão menores, refletindo negativamente em suas ações na Bolsa.
Tensões do governo com a Petrobras
Consenso entre os especialistas ouvidos pela Mais Retorno, as constantes tensões entre o governo e a Petrobras também contribuem para o sentimento negativo com os papéis da empresa. Os analistas explicam que, por ser uma estatal, quando o governo demonstra que pode interferir na política de preços da companhia, o mercado fica receoso com o que pode acontecer.
O presidente Bolsonaro afirmou, por meio de sua conta oficial no Twitter, que "o Governo Federal como acionista é contra qualquer reajuste nos combustíveis, não só pelo exagerado lucro da Petrobras em plena crise mundial, bem como pelo interesse público previsto na Lei das Estatais".
"A Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos. Seus presidente, diretores e conselheiros bem sabem do que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018, e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo."
Jair Bolsonaro no Twitter
Essas tensões, assim como a defasagem dos preços e as preocupações com a demanda global por petróleo não devem ser resolvidas tão brevemente. Assim, as ações da Petrobras podem viver mais dias de bastante volatilidade na próxima semana.
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