Viés do Custo Afundado
O que é o viés do custo afundado?
É chamado de viés do custo afundado a tendência mental que os seres humanos possuem de, após dedicarem recursos a um projeto, se tornarem excessivamente resistentes à ideia de abandoná-lo - ainda que apresente fortes indícios de fracassos.
No dito popular, o viés do custo afundado pode ser também conhecido como “Modo Jaque”. Isso porque, quando dominados por esse viés, tendemos a nos render ao seguinte tipo discurso:
Já que eu dediquei 20 anos da minha vida a este casamento, eu não posso encerrá-lo agora (mesmo que a felicidade já tenha deixado o relacionamento há algum tempo);
Já que eu gastei 2 horas por dia a esse projeto nas últimas 2 semanas, eu não posso abandoná-lo agora (mesmo que ele tenha se tornado obsoleto às atuais circunstâncias);
Já que eu gastei 500 reais nesse curso, eu vou fazê-lo até o final (mesmo que cada aula seja pior que a outra).
Racionalmente, nenhuma dessas atitudes seria tomada por você. No entanto, como o custo de tempo, energia e dinheiro possui também forte apelo emocional, é difícil adquirir clareza e poupar mais tempo, energia e dinheiro futuros.
Pensando assim, percebe-se que a tendência do pensamento enviesado do custo tende a “afundar” ainda mais as pessoas. Isto é, como se não bastasse alguns anos de infelicidade no casamento, os parceiros se afundam em mais e mais anos infelizes.
Assim como o autor do projeto se afunda em mais perda de tempo e o aluno do curso, na perda de mais dinheiro (afinal, ele poderia estudar outra coisa útil e que lhe desse retorno financeiro também).
Qual é a origem do viés do custo afundado?
Muito se engana quem acredita que o viés do custo afundado teve origem no primeiro casamento infeliz da humanidade.
Pelo contrário, ele remonta a uma série de construções primitivas, sociais e culturais humanas, assim como a própria noção de fracasso.
Para ilustrar, vamos usar um evento histórico. Cabe ressaltar que a explicação será feita de modo mais simplista possível, de modo a facilitar a analogia.
Há mais de 50 mil anos atrás, estima-se que um grupo de seres humanos tenha cruzado ao menos 50 quilômetros de mar aberto para chegar, pela primeira vez, ao território que hoje denominamos como Austrália.
O meio real de transporte utilizado ainda não é um consenso, mas sabe-se que nada mais sofisticado que canoas e barquinhos compunham a “frota” humana à época.
Já imaginou se, no meio do caminho, com todas as adversidades que o mar oferece, o bando simplesmente desistisse? Ou nos 15 quilômetros finais, já exaustos e sem qualquer sinal de terra à vista, eles dessem meia volta?
Para chegar aos confins do globo, precisamos ser persistentes, fazer longas caminhadas e enfrentar percalços. Se nos rendêssemos ao primeiro desafio, estaríamos no mesmo pedacinho de terra até hoje - e, pior, mortos pela falta de recursos.
Não bastasse o peso da persistência, temos ainda uma questão muito mais emocional e social amparando o viés do custo afundado: o peso do fracasso.
Desperdiçar tempo, dinheiro ou qualquer recurso não é sábio para a espécie. Admitir que se desperdiçou tempo, dinheiro ou qualquer recurso também não é sábio para quem quer ser querido por sua comunidade (ou pelo menos não parece).
A esperança, então, é tirar proveito dele a ponto de transformar o fracasso em um sucesso mínimo - ou seguindo nossos exemplos práticos, um casamento infeliz em um casamento duradouro.
Como o viés do custo afundado se aplica às finanças?
Alguns dos discursos comuns às pessoas tomadas pelo viés do custo afundado, no que diz respeito à área financeira, são:
Já que eu investi tanto tempo estudando sobre a ação x, gastando inclusive dinheiro para apurar o meu conhecimento, eu não posso me desfazer dela agora (mesmo que o desempenho esperado nunca tenha sido alcançado);
Já que eu indiquei para todos os meus amigos investir na empresa X, eu não posso voltar atrás agora (mesmo que ela dê todos os sinais de estar indo para o buraco);
Já que eu investi todas as minhas economias no meu próprio negócio, eu não posso deixar de pedir um empréstimo agora (mesmo que você saiba que o mais sensato é dissolver a empresa).
Sem análise crítica, é fácil se afundar em qualquer uma dessas emoções.
Mas como fazer isso em meio a tantas emoções é tão difícil, que existem aqueles que prefeririam percorrer aqueles 50 quilômetros a nado, do que voltar atrás - e como podemos imaginar, logo morrer afogado.