Viés de Resultado

O que é o Viés de Resultado?

É chamado de viés de resultado (ou outcome bias) a tendência mental humana de julgar a qualidade de uma ação ou estratégia de acordo com o resultado obtido.

Parece loucura chamar isso de viés, certo? Afinal, o viés é uma falha no processamento de dados, informações e realidade em geral, que cria análises distorcidas do contexto, e o que narramos no parágrafo anterior é puro controle de eficácia, na sua opinião.

Pois é, parte da “pegadinha” dos vieses é que eles até fazem sentido, de certo modo - e por isso caímos tão facilmente neles.

No caso específico do viés de resultado, o grande problema está na diferença entre o julgamento feito quando a decisão é tomada e quando o resultado se concretiza.

Por exemplo, vamos supor que um grande amigo te diga que apostou todo o dinheiro que tinha na loteria. O mais provável é que a sua primeira reação seja classificar a ação como imprudente, desequilibrada e irresponsável. Fazer o mesmo? Nem se estivesse louco.

Mas aí ele te confessa que, com isso, acaba de ficar milionário… E o que antes era uma conduta condenável se torna uma conduta ousada e atrevida - no mínimo, admiravelmente corajosa.

O que mudou a sua opinião? O resultado. Pela razão, sabemos que gastar todas as suas economias na Mega-Sena é tudo, menos recomendável. No entanto, de acordo com esse resultado do seu amigo, você se torna até mais receptivo a esse tipo de “loucura”.

Qual é a relação entre o viés de resultado e o viés de retrospectiva? É a mesma coisa?

Se você já leu o nosso artigo sobre viés de retrospectiva, é possível que tenha uma nova dúvida para solucionar: não seria o viés de resultado apenas um viés de retrospectiva? A resposta é não, mas os dois possuem uma relação muito importante e é sobre isso que falaremos neste tópico.

Para quem não sabe, o viés de retrospectiva é descrito como a tendência humana de reinterpretar os acontecimentos depois que os mesmos já aconteceram, por vezes através de falsas memórias e supervalorização da interpretação pessoal do fato enquanto ele se desenrolava.

Realmente, é uma descrição muito similar a do viés de resultado. No entanto, esses dois possuem uma diferença vital.

O foco do viés de retrospectiva é alterar como percebemos a nossa capacidade de prever os fatos. Se aplicado ao caso da loteria que narramos no tópico anterior, ele nos faria acreditar que sempre vimos a atitude do amigo como positiva e que já sabíamos que ia dar certo.

Já o foco do viés de resultado não é alterar o que nos lembramos de ter pensado sobre essa atitude: é alterar o que pensamos sobre essa atitude agora.

Nele, o resultado, embora não mude o caráter da ação, muda como a percebemos.

Percebe a diferença?

Ainda assim, não é de todo errado relacionar os dois vieses. Isso porque é comum que eles se retroalimentem e o próximo passo do viés de resultado seja o surgimento do viés de retrospectiva.

Ou seja, primeiro mudamos a nossa opinião, depois nos convencemos de que sempre a tivemos (lá no fundo).

Como o viés de resultado afeta as suas finanças?

No mercado financeiro, muitos são os exemplos de como o viés de resultado afeta as pessoas.

Um deles é nas relações de consumo. Para ilustrar, vamos supor que exista um produto de lavar roupas que, por conta de um componente químico, tenha o risco de corroer as peças delicadas. Você sabe disso e, portanto, considera o produto péssimo e nem pensa em comprá-lo.

Mas um amigo decide usá-lo e não tem nenhum estrago nas roupas do tipo, de modo que ele te conta a experiência. A sua opinião passa de “é um produto horrível” para mais aberta a considerá-lo. Então, você compra e o mesmo se repete: as peças delicadas saem perfeitas. Agora esse é o melhor produto do mundo na sua opinião e ninguém pode convencê-lo do contrário.

Ninguém exceto as suas roupas, que na segunda lavagem saem destruídas. Afinal, o risco continuou o mesmo - o que mudou foi a sua opinião ao longo da experiência, mais precisamente, ao longo dos resultados.

E como uma pessoa que aposta todas as economias na loteria tende a descobrir, ela nem sempre tende a corresponder à realidade.