Núcleo de Inflação
O que é Núcleo de Inflação
Núcleo de Inflação, ou Inflação Subjacente, é uma medida voltada a identificar as tendências de inflação, desconsiderando o choque de fatores temporários, circunstanciais, localizados sobre o índice agregado.
O Núcleo de Inflação pode ser definido como a parte persistente do processo inflacionário. O que interessa, do ponto de vista dessa medida, é o componente da inflação presente em longo prazo.
O cálculo de Núcleo de Inflação permite visualizar com mais clareza as tendências gerais de alta ou queda da inflação.
Função do Núcleo de Inflação
Podemos dizer que, essencialmente, o Núcleo de Inflação deve cumprir três funções:
- Distinguir choques de preços idiossincráticos de choques generalizados;
- Distinguir choques temporários de choques persistentes;
- Antecipar a tendência de curto prazo da inflação.
Em resumo, suas características essenciais devem ser generalidade, persistência e antecipação.
Importância do Núcleo de Inflação
Fatores pontuais, apesar de afetarem os preços, não exigem uma resposta em termos de políticas monetárias, pois são revertidos rapidamente e muitas vezes sem nenhuma intervenção. Na verdade, se uma política monetária ficar reagindo a todo pequeno choque, aos "ruídos", ela vai ser muito instável e não atingirá bons resultados.
O que interessa, para a definição de políticas monetárias, é observar fatores que afetam a economia de maneira mais ampla e antecipar movimentos de longo prazo. Por isso, o Núcleo de Inflação é a medida ideal para apoiar o desenvolvimento de políticas monetárias.
O Núcleo de Inflação é particularmente importante para a definição de metas para a inflação no país. Por isso, no Brasil, ele começa a ser debatido na mesma época em que o regime de metas de inflação foi formalmente adotado: final da década de 1990, começo dos anos 2000.
Vale a pena ressaltar que, embora nem sempre sejam tratados distintamente, o núcleo e as metas são coisas diferentes. O núcleo indica a tendência de comportamento da inflação, enquanto as metas indicam para onde se deseja conduzir a inflação. Naturalmente, com a intervenção do Estado em forma de políticas monetárias, os dois costumam caminhar juntos.
O cálculo do Núcleo de Inflação
Há diversas metodologias que podem ser adotadas para calcular o Núcleo de Inflação. Três delas sãos as principais.
A primeira metodologia é a de exclusão. Ela simplesmente retira do índice de preços os componentes com maior volatilidade, cujas variações refletem choques transitórios. Um exemplo desse tipo de componente são os alimentos, que são afetados por fatores como a sazonalidade dos cultivos. Essa metodologia é criticada por retirar arbitrariamente itens do índice de inflação, podendo causar a omissão de informações relevantes.
Depois, temos a metodologia de influência limitada. Ela reduz o peso dos componentes que apresentam variações mais drásticas no índice de inflação. Ou seja, não são excluídos componentes, mas apenas atribui-se um peso limitado às "caudas", as extremidades da distribuição dos preços.
Finalmente, temos a metodologia econométrica, que emprega modelagem teórica com interpretações econômicas.
Medidas de Núcleo de Inflação
Existem várias medidas de núcleo de inflação, e não é um consenso sobre qual delas é ideal. Por isso, analistas costumam acompanhar várias medidas.
Entre os anos de 2000 e 2003, o Banco Central incluiu as medidas IPCA-EX0, IPCA-MS e IPCA-MA. A partir de 2009, começaram a ser divulgadas as medidas IPCA-EX1 e IPCA-DP.
Novas medidas continuam sendo introduzidas. Mais recentemente, o Bacen passou a acompanhar uma medida de IPCA-EX2 e IPCA-EX3.
Ao analisar as estatísticas dessas medidas entre 2006 e 2017, é possível notar que todas apresentaram volatilidade menor do que o índice IPCA cheio. Isso faz todo sentido, considerando a definição de Núcleo da Inflação como uma medida mais consistente ao longo do tempo.