Falácia da Composição
O que é a falácia da composição?
A falácia da composição é um erro dentro do pensamento lógico que tem, como resultado, uma afirmação equivocada. Ela se apresenta quando uma pessoa se utiliza da característica de um único elemento (ou um conjunto isolado deles) para caracterizar todo o sistema.
A falácia da composição parte da generalização e desconsidera que, embora um fenômeno possa ser observado em um item, isso não significa que ele se mantenha quando se propaga entre todos os demais.
Por ser uma disfunção na lógica, essa falácia pode se espalhar por toda e qualquer área da ciência, da Psicologia à Física - passando, é claro, pela Economia.
Como a falácia da composição funciona?
O sonho de todo escritor é criar histórias que não apenas perdurem no decorrer dos séculos, mas que alcancem tantas pessoas que os seus personagens sejam quase uma figura permanente na cultura.
Sir Arthur Conan Doyle foi um dos poucos a alcançar essa proeza. Afinal, o seu Sherlock Holmes é conhecido até mesmo por aqueles que nunca leram um de seus livros ou não assistiram sequer a uma das suas adaptações no teatro e no cinema.
E não é à toa: Sherlock é um mestre quando o assunto é a arte da indução, a ponto de se tornar uma referência do pensamento lógico. Identificar um único detalhe e, a partir dele, ser capaz de desenrolar toda a situação analisada é a sua especialidade.
No entanto, embora não tenhamos todo o talento inegável do detetive, estamos o tempo todo induzindo, procurando pistas na realidade ao nosso redor para facilitar a nossa própria realidade e aprimorar as nossas experiências.
Nenhum problema, certo? Bom, isso até que a lógica empregada nos leve a generalizar de forma errada.
Já vimos o mesmo fenômeno na heurística, mas aqui, ao contrário de um atalho mental equivocado transformado em escolha, o resultado são observações que não condizem com a realidade e levam a afirmações falsas.
Nesse caso, a amostra é um evento ou atributo específico, presente em um elemento menor. Ao enxergar o elemento maior (o sistema), o evento ou atributo é generalizado pelo observador e atribuído ao todo.
Não se considera que o que acontece na escala menor não necessariamente se repete em escala maior.
Como a falácia da composição é aplicada?
Mas essa é apenas a explicação teórica da falácia da composição.
Na prática, é ainda mais fácil visualizar o fenômeno.
Por exemplo: é bem verdade que leões não são os animais mais amigáveis do mundo. Mas já pensou se você, ao sobreviver a um ataque de um desses bichos, começasse a acreditar que todos os felinos são perigosos e querem te atacar sempre que o vêm.
“O leão é perigoso, então, sendo o leão um felino, todos os felinos são perigosos”, você poderia argumentar. E, à primeira vista, faz sentido, né? Mas, a não ser que gatinhos te persigam pela rua e rujam exibindo as presas quando não encontram ração, supomos que eles são razoavelmente inofensivos. Mesmo sendo felinos.
E ainda assim você passaria a vida inteira com um medo arrebatador deles por conta da lógica errada. Em suma, por conta da falácia da composição.
Se a nível pessoal a falácia da composição já pode transformar uma visão de mundo de forma consistente, imagine o que ele não faz na ciência em geral.
Estudos e pesquisas são baseadas na argumentação, na capacidade de apresentar uma lógica coerente com os fenômenos… Se não seguem esse critério (e pior, são tomados como verdade por agentes decisivos da sociedade), podem embasar políticas e programas equivocados.
Um exemplo clássico que usamos na economia é o das finanças pessoais e a macroeconomia.
No contexto microeconômico, a recomendação que os economistas sempre dão é que as pessoas guardem dinheiro e não consumam em excesso, especialmente em bens supérfluos.
No entanto, no macroeconômico, se todo mundo seguisse essa recomendação, a economia entraria em colapso com a queda das vendas e essas pessoas acabariam desempregadas.
E é por isso que o estudo da lógica busca avançar na identificação desses erros. Precisamos estar atentos para evitá-los ao afirmarmos algo acerca da natureza, sociedade, finanças e, é claro, gatinhos.