Belíndia
O que é Belíndia?
Belíndia é um termo popularizado pelo economista brasileiro, e ex-presidente do BNDES, Edmar Lisboa Bacha. Trata-se de um país fictício, uma conjunção entre Bélgica e Índia. Esse país teria as leis e impostos da Bélgica, um país pequeno e rico, mas a realidade social da Índia, que é gigante e pobre.
O termo, de origem desconhecida, ganhou popularidade em 1974, graças a uma fábula escrita por Bacha. O ponto central do texto, intitulado “O Rei da Belíndia”, era fazer uma crítica à política econômica do regime militar.
O que trata a fábula “O Rei da Belíndia”?
A fábula “O Rei da Belíndia” trata de um economista que visita o reino de Belíndia, um país de contradições em que, apesar de haver muita riqueza, também há uma grande parte da população na pobreza.
Após explicar ao monarca seu trabalho, o economista é contratado para estimar a taxa de crescimento da economia local. Então, ele recebe os dados com as rendas de cada pessoa economicamente ativa do reino.
Sem saber quais eram as inclinações políticas do monarca, o economista faz os cálculos de diferentes formas.
Primeiro, segundo um pensamento liberal, fez os cálculos considerando que a renda de todos tem o mesmo peso, independentemente de serem pobres ou ricos. Obteve uma taxa de crescimento de 4,15%.
Depois, segundo um pensamento mais social, fez os cálculos considerando que a renda dos ricos tem menor peso, para refletir a desigualdade na distribuição de renda. Obteve uma taxa de crescimento de 2,26%.
E, por fim, também fez os cálculos considerando que a renda dos ricos tivesse maior peso – embora não conseguisse ver em qual linha de pensamento esse número se enquadraria. O resultado foi uma taxa de crescimento de 10,65%.
O economista apresentou o relatório ao rei, que percebeu a importância de um posicionamento político antes de determinar qual seria a interpretação sobre os dados do crescimento da economia do reino.
Logo em seguida, porém, o rei também recebeu um relatório de seus conselheiros, apontando que a taxa de crescimento da economia tinha sido 10,65%. Ao perguntar como eles chegaram a esse resultado (idêntico ao cálculo do economista que dava peso maior à renda das pessoas mais ricas), os conselheiros explicaram ao rei o conceito do PIB, que foi usado no seu cálculo.
Pensando sobre o assunto, o rei entendeu que medir o crescimento da economia pelo PIB era como usar um sistema de pesos no qual aqueles que têm a maior renda valem mais do que aqueles com renda inferior.
Ele demitiu seu conselheiro de finanças, que sempre dissera que o PIB é uma medida técnica e sem implicações políticas. E passou a adotar o cálculo do crescimento usando os três modelos, como o economista fizera.
Qual é a crítica por trás da fábula de Belíndia?
Belíndia é uma metáfora do Brasil, e a história contada em “O Rei da Belíndia” é uma crítica à política econômica do período do regime militar. Nesse período, foi dito que o Brasil vivia um milagre econômico, pois a economia crescia a mais de 10% ao ano, especialmente entre o final da década de 1960 e começo da década de 1970.
No entanto, esse crescimento era medido pelo PIB e, assim como na fábula, mascarava o fato de que a desiguldade econômica e social aumentava no Brasil. Medidas adotadas pelos governos do período incluíram o “arrocho salarial”, com o fim do reajuste pela inflação, que levou a uma perda de 35% no salário mínimo entre 1964 e 1967.
Portanto, a crítica feita usando a história do país fictício de Belíndia é uma crítica ao uso de indicadores que apontam para o suposto crescimento econômico do Brasil, mas que não são transparentes ao mostrar como a riqueza está sendo distribuída na sociedade e os impactos sociais causados pela concentração de renda.