Agente deficitário
O que é um agente deficitário?
Agente deficitário, apesar de parecer um daqueles termos técnicos esquisitos e vazio, é um nome que narra um tipo de sujeito bem comum e popular dentro do sistema financeiro. Você provavelmente conhece vários agentes deficitários - enquanto torcemos vigorosamente para que você não seja um deles!
Veja bem! De forma básica, podemos dizer que o dinheiro flui da seguinte maneira: ele sai das mãos de quem tem sobrando para as mãos daqueles que o têm em falta.
É o caso clássico do investidor e do tomador de empréstimo, concorda? Um, tem um excedente de capital não comprometido. O outro, precisa do recurso para quitar dívidas já assumidas ou viabilizar novos projetos (como construir uma casa ou abrir uma empresa, por exemplo).
Diante dessa diferença, o investidor aceita emprestar o seu dinheiro para o tomador, desde que ele o devolva no futuro com o acréscimo de juros.
Os juros tornam o risco de inadimplência mais aceitável e, claro, atuam como recompensa ao investidor pelo tempo que ele passou sem ter acesso àquela quantia.
Para investir, essa pessoa precisou de um superávit: a diferença positiva entre as suas receitas e as suas despesas. Em outras palavras, ele precisou gastar menos dinheiro do que ele ganhou. Por isso, ele é chamado de agente superavitário.
O tomador do empréstimo, por sua vez, precisou de um déficit: a diferença negativa entre as suas receitas e as suas despesas (presentes ou futuras).
Isto é, ele precisou gastar (ou planejar gastar) mais dinheiro que ele ganhou (ou poderia ganhar). Por isso, ele é chamado de agente deficitário.
Quais são as desvantagens de ser um agente deficitário?
Para começo de conversa, é impossível não citar a questão dos juros.
O agente deficitário o paga de diversas maneiras: fazendo um empréstimo com o banco ou ainda um financiamento, parcelando uma compra, entrando no cheque especial etc.
Imagine quanto se poderia fazer se, ao invés de pagar esses juros, o devedor se organizasse para fazer mais aquisições à vista? Sem falar em como esse dinheiro, mesmo que mínimo em algumas situações, poderia se transformar em mais dinheiro se fosse investido.
Em um país como o Brasil, em que só o número de famílias endividadas supera os 60%, é de se imaginar o quanto a condição de agente deficitário pesa na execução de planos de curto, médio e longo prazo.
Sem falar em que não é apenas a rentabilidade do investimento pago ao agente superavitário inicial que engloba o peso para os deficitários. Considerando que os bancos intermedeiam costumeiramente as operações, o tomador paga ainda pelo chamado spread bancário.
O spread, esse pesinho extra nas suas costas, nada mais é do que a diferença entre o custo para o banco de tomar dinheiro emprestado do superavitário e repassar ao deficitário com lucro na operação.
Pense assim: se ele pega 2 mil reais emprestados, se comprometendo a devolvê-los com um acréscimo de 10%, o valor que retorna ao investidor é de R$ 2.200,00. No entanto, ao repassar esses mesmo R$ 2.000,00 para o tomador de crédito, o banco cobra que sejam pagos ainda um acréscimo de 20% em juros, de modo que o tomador devolve R$ 2.400,00. Esses R$200,00 excedentes são o spread.
À primeira vista, não existe nada de errado nisso. Afinal de contas, se está remunerando o banco pelo trabalho de intermediação (não, ele não trabalha de graça para você!). Não haveria qualquer problema nisso, não figurasse o Brasil na lista dos países com maior spread bancário do mundo.
Assim, o agente deficitário não só perde dinheiro naturalmente por sua posição, como se encontra num dos piores locais da Terra para permanecer nela.