Stuhlberger, da Verde Asset, diz que Lula não quer um plano fiscal' e vê uma piora na economia
Executivo está cético com a proposta de arcabouço fiscal preparada pelo governo
Luiz Stuhlberger, da Verde Asset Management, está cético em relação à proposta de arcabouço fiscal, preparada pelo governo e divulgada ao público nesta quinta-feria, 30. Em entrevista ao Bottom Line, do Brazil Journal, o gestor afirmou que o presidente Lula não tem interesse em apresentar um plano fiscal crível, porque precisa cumprir promessas de campanha e manter sua popularidade.
“O Lula não quer um plano fiscal, ele não quer”, disse Stulhberger, explicando que o presidente está extremamente frustrado por não poder colocar em prática o que prometeu quando candidato, como o aumento do salário mínimo, os investimentos em saúde e educação, por exemplo.
“O governo está caindo na realidade de uma certa forma de que promessas de campanha não são fáceis de cumprir, principalmente por falta de budget”. Ao mesmo tempo, para o gestor, as pretensões de Lula são as de repetir o que fez em seus governos anteriores, de 2003 a 2010: “Subir o gasto todo ano, em 6,5% ao ano reais, acima da inflação, e esperar que isso traga progresso ao País”.
Sua expectativa é a de que proposta fiscal tenha capacidade, ao menos, de zerar o deficit primário. Para estabilizar a dívida atual seria preciso alcançar um superávti primário de 3% do PIB, o que é algo impenssável hoje, segundo Stuhlberger.
E seus cálculos são os seguintes: quando essa estabilização foi alcançada nos anos 1990 e nos anos 2000, no governo Fernando Henrique Cardoso, havia um superávit entre 3% e 3,25% do PIB. Mas em 2023 a situação está mais complicada, com um déficit primário estrutural de 1% a de 1,5% do PIB. A diferença, portanto, chega a 5% do PIB, o que representa nada menos que R$ 500 milhões e com uma dívida maior.
Ainda que não defina um teto, mas sim linhas que acenem com um claro controle da expansão dos gastos, o plano fiscal pode ser bem-sucedido na opinião do gestor. “Os mercados vão ajudar, as expectativas de inflação vão diminuir, o dólar vai ceder, o investimento estrangeiro vai voltar e acelerar, e no final será melhor para o Brasil, talvez não tão bom agora, mas vai ser melhor no decorrer dos anos e será melhor em 2026”.
Essa perspectiva, no entanto, bate de frente com resultados mais imediatistas pretendidos por Lula. “Ele conhece política muito bem, e sabe que com o PIB crescendo pouco ou havendo uma pequena recessão, ele perde popularidade, perde capital político e, perante o Congresso, perde a capacidade de legislar. Esse é o dilema que ele está”.
Lula x Campos Neto
Nesse contexto, a queda da Selic aparece como ‘tábua de salvação' do PT no curto prazo, afirma o CEO da Verde Asset. Daí essa pressão toda sobre o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto. “São dois generais brigando, de um lado o Lula e do outro Roberto Campos, cada um com seus princípios e modos de pensar. Mas essa briga já foi longe demais".
A atuação de Campo Neto foi comparada, pelo gestor, a um ato patriótico, no sentido de induzir o presidente da República a ter um regras fiscais consistentes para então baixar os juros. E pode ser que essa queda dos juros não aconteça de forma imediata.
“Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda) tem feito um papel muito bom, construtivo, tentando mediar essa questão. Ele está convencido do benefício de ter um plano fiscal crível, o que será melhor para o Brasil no longo prazo. O problema, é que o Haddad quer uma coisa melhor no longo prazo, ele pensa em 2026, e o Lula quer no curto prazo".
Piora na economia
Stuhlberger destaca que os juros no País são elevados no longo e no curto prazo, tendo como principal explicação para isso, entre muitas teorias, a expectativa fiscal. Como consequência, em 10 anos, de 2014 a 2023, o crescimento médio do PIB foi de 0,3% ao ano, um dos mais baixos do mundo.
“Com o crescimento tão baixo, os problemas acontecem, não adianta querer fazer mágica. As despesas vão subindo, você pode tentar controlar os gastos, mas para crescer um pouco vai precisar gastar”, diz ele.
A crise na Americanas foi o caso mais emblemático, mas segundo o gestor, os resultados das empresas do 4° trimestre de 2022 já vinham estampando resultados fracos, ruins. Além de sofrer a pressão de custos, há os efeitos pós-pandemia, com migração de recursos que sustentaram a indústria e o comércio em 2020 e 2021 para o setor de serviços - viagens, passagens aéreas, festas, bares, restaurantes.
Como resultado prático, o crédito ficou bem mais caro para as empresas, mesmo para as que são bem administradas. Depois do episódio Americanas, elas estão tomando a CDI mais 3% a 4% ao ano, e considerando o IOF o custo sobe para algo perto de 20% ao ano, o que é inviável, segundo o executivo da Verde. “Vejo a economia caminhando para uma piora razoàvel, que ainda não apareceu”.
Ele destacou que empresas endividadas buscam hoje soluções para escapar dos custo elevado dos financiamentos bancários. Hapvida e Dasa são duas delas, que estão chamando aumento de capital para se financiarem. Saídas que costumam ser perversas, porque resultam em queda nos preços das ações, arrastando a bolsa ainda mais para baixo.
Paradeira no mercado
Os impactos dos juros elevados não se limitam ao crédito e à atividade econômica, mas tendem a provocar uma estagnação do mercado de capitais, afirma Stuhlberger.
Os ativos de renda fixa têm sido páreo duro para os demais segmentos do mercado. Além da remuneração para lá de atraente, investimentos que pagam o CDI, oferecem também liquidez até diária e segurança, seja em papeis do governo ou de bancos privados sólidos.
Além de reunir a trindade de um bom investimento, algumas aplicações são isentas de tributação, como as letras de financiamento do setor imobiliário (LCI) e do setor agrícola (LCA). Sem contar que carregam zero de volatilidade. São atributos que tornam esses ativos imbatíveis.
“Com juro nominal alto e a possibilidade de aplicar a 97% ou 98% do CDI, com liquidez após 3 meses, sem imposto, nesse tipo de ativo, você drena o dinheiro do Brasil”, constata o gestor. Segundo ele, não há interesse em outras aplicações. “Nunca houve uma paradeira tão grande entre os investidores”.
Posicionamento do Verde
Hoje, o Verde FIC FIM mantém de 17% de seu patrimônio na Bolsa brasileira, uma posição que chegou a ser maior, entre 25% e 30%, em empresas consideradas "excelentes" pelo gestor.
Há também uma posição comprada em inflação longa: “É um risco do desajuste fiscal, o conceito de que não crescemos durante 10 anos, temos um problema, porque a dívida vai continuar subindo, e chega uma hora que o governo do PT pode gerar uma crise ao optar por um caminho populista, e os mercados podem precificar uma piora”.
No horizonte há também a troca de quatro diretores do Banco Central e o fim do mandato de Roberto Campos Neto, dentro de um ano e oito meses.
No exterior, o fundo está posicionado em petróleo e ouro, e ainda em uma estutura que aposta em forte queda dos juros americanos até março ou abril de 2024.