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Saída de Rial da Americanas piora ainda mais situação da companhia; entenda o caso

Após rombo de R$ 20 bilhões na empresa e renúncia de Sérgio Rial ao cargo de presidente, avaliação do mercado é que essa inconsistência pode se tornar uma bola de neve

Data de publicação:12/01/2023 às 03:12 - Atualizado um ano atrás
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O ex-presidente da Americanas, Sergio Rial, que ficou empossado por menos de 10 dias, renunciou ao cargo na véspera. Na manhã desta quinta-feira, 12, Rial afirmou que os problemas contábeis divulgados são questões antigas, que se arrastam há quase uma década (entre 7 a 9 anos). 

O executivo, que já foi presidente do Santander, resolveu sair da companhia ao identificar sinais de um rombo na casa dos R$ 20 bilhões não contabilizados no balanço desta que é uma das maiores varejistas do País. Segundo comunicado relevante enviado aos investidores, as inconsistências são referentes ao exercício de 2022 e anos anteriores. 

Renúncia de Sérgio Rial na Americanas traz análise ainda mais negativa sobre companhia | Foto: Reprodução

O diretor de relações com investidores, André Covre, que ingressou na companhia com Sergio Rial, também renunciou ao cargo.

De acordo com a Americanas, o rombo é referente a empréstimos para compras junto a fornecedores que não foram reportados de maneira adequada no balanço. Um comitê independente irá apurar o caso.

Heitor De Nicola, especialista de Renda Variável e sócio da Acqua Vero Investimentos, explica que a saída de Rial é extremamente negativa e pode respingar no mercado como um todo.

“O sinal que o Sérgio Rial deu ao pedir para sair da presidência é muito negativo para o mercado e essa inconsistência pode ser um erro de norma contábil ou uma fraude a ser descoberta agora. É um caso muito sensível e pode respingar no mercado como um todo, escalar para uma crise de confiabilidade”, afirma o especialista.

Pedro Menin, sócio-fundador da Quantzed, avalia que Rial e Covre “não renunciariam uma semana depois de assumir se a situação não fosse tão feia.”  Ele completa dizendo que a porta ficou pequena para o investidor que precisa sair do papel (AMER3).

O que será de AMER3 daqui para frente?

Os papéis da Americanas (AMER3), em leilão na B3, apontavam para queda de 75% nesta quinta-feira, 12. A Bolsa de Valores segurou a ação em leilão até às 12h.

O mercado definitivamente não reagiu bem a esse imbróglio e essa falha de confiabilidade pode virar uma bola de neve mais para frente, segundo o especialista de renda variável da Acqua Vero.

Já Pedro Menin, sócio-fundador da Quantzed, utiliza a IRB Brasil como exemplo para explicar o quão negativa é toda essa história no financeiro da empresa. 

“Sergio Rial é muito bem visto pelo mercado e bem conhecido pela ótima gestão que faz e grande aposta da Americanas. Saída dele falando de inconsistência de 20 bilhões mostra que podemos estar diante de uma possível fraude. E o mercado não gosta disso. É só vermos o que aconteceu com a IRB. Não dá para mensurar o quanto isso afetou o balanço. Fala-se também de uma dívida da empresa que não se sabe o tamanho.”
Pedro Menin, sócio-fundador da Quantzed

A avaliação de analistas é que o rombo é suficientemente grande para quebrar a empresa.

Crise de confiabilidade no mercado

A grande dúvida que paira sobre os investidores e especialistas neste momento é se existem outras empresas que podem estar passando por situações semelhantes à Americanas, sem que ninguém saiba, na avaliação de Ivan Barboza, sócio-gestor do Ártica Long Term FIA.

“O maior problema é que esse tipo de erro contábil é muito difícil de detectar. Se os demonstrativos financeiros não são preparados da maneira com que deveriam, só quem está vendo a empresa por dentro é que tem informações suficientes para identificar a má conduta”, diz Barboza.

Sergio Rial, agora ex-presidente da companhia, pontuou que essas incongruências na maneira de reportar a conta de fornecedores não é um problema da Americanas, mas sim do setor, que se arrasta desde os anos 90.

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Sobre o autor
Mari GalvãoRepórter de economia na Mais Retorno