Que impactos instabilidade dos bancos estrangeiros pode trazer ao Brasil
Desde definição da trajetória da taxa básica de juros, a Selic, até os preços de ativos em bolsa e títulos prefixados podem ser atingidos
Esta última semana, o assunto que dominou os mercados foram a falência de dois bancos americanos, o Silicon Valley e o Signature, o socorro a um terceiro, o First Republic Bank, e a crise no Credit Suisse que pode se espalhar por outros bancos europeus. Muita turbulência para poucos dias.
As providências de bancos centrais foram firmes e imediatas dos dois lados do Atlântico, de modo a evitar a reverberação pelo sistema financeiro global. Por ora, a questão parece contornada, mas está longe de ser encerrada.
Ao contrário, na próxima semana haverá a ‘Super Quarta’, dia de decisão sobre o rumo dos juros nos Estados Unidos e também no Brasil. A crise dos bancos pode alterar a intenção do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em acelerar o ritmo de alta das taxas para conter a inflação americana, declarada por seu presidente, Jerome Powell, na última semana, ao menos, até a poeria baixar.
Isso retira, em parte, a pressão sobre ajuste na Selic na próxima reunião do Copom, e essa seria apenas uma das consequências no mercado brasileiro. Analistas, estrategistas e economistas da XP Investimentos se reuniram para alongar os horizontes, prevendo não só os desdobramentos dos problemas dos bancos estrangeiros, mas que outros impactos poderiam respingar no País.
Para eles, existe a possibilidade de que as dificuldades enfrentadas pelos bancos regionais americanos levem o Federal Reserve a adotar uma postura mais frouxa em relação a juros. Uma perspectiva que abre espaço para a hipótese de um início de ciclo de aforuxamento dos juros no Brasil, o que tende a beneficiar os ativos brasileiros como bolsa e títulos pré-fixados.
Ao mesmo tempo, os especialistas ressaltam que as incertezas em relação à política fiscal e monetária do País geram dúvidas sobre crescimento, taxas de juros, inflação, endividamento do governo e outros indicadores-chave para a economia.
O Brasil seria afetado também por estar no grupo dos emergentes, sujeito a uma volatilidade maior que os mercados desenvolvidos em episódios como esse dos bancos, o que leva os profissionais da XP a acreditar que os acontecimentos lá fora seguirão tendo impacto nos preços de ativos por aqui.
Eles recomendam ao investidor que, diante do atual cenário, adote uma posição mais defensiva, com ações de boas empresas, que geram caixa, pagam dividendos, e são de setores que consigam navegar em tempos mais turbulentos.
“Nossos três temas de investimento na bolsa seguem inalterados: commodities; empresas com crescimento secular; e empresas de qualidade que estão negociando a preços razoáveis”, traz o documento assinado pelos profissionais da XP.
Possíveis impactos para os bancos brasileiros
O ciclo de aperto monetário do Fed foi um dos grandes responsáveis pela crise e eventual falência do SVB e do Signature Bank, afirmam os analistas.
Algumas particularidades da operação do SVB pioraram o resultado desse aperto como a baixa taxa de empréstimos em relação aos depósitos; base de clientes concentrada; e regulação flexível (embora fosse o 16º maior banco dos EUA em ativos, o SVB nunca foi submetido ao requisito de liquidez de curto prazo do Federal Reserve).
Embora os últimos eventos nos Estados Unidos devam aumentar a percepção de risco dos bancos em todo o mundo, os especialistas da XP Investimentos consideram os bancos brasileiros bem posicionados para possíveis pressões negativas. E isso por manterem indicadores de balanço saudáveis; pela expectativa de manutenção da Selic em 13,75%, com grande parte dos efeitos do aperto no ciclo monetário já refletindo nos números de Margem Financeira com o Mercado; e considerando os valuations descontados, que devem amortecer futuras desvalorizações.
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