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Renda Variável

Qual o valor mínimo que uma ação pode chegar?

Precificação de ações é um tema complexo. Existem muitos fatores que podem fazer a ação de uma empresa valer R$ 150, enquanto a de outra é…

Data de publicação:18/08/2020 às 09:00 -
Atualizado 4 anos atrás
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Precificação de ações é um tema complexo. Existem muitos fatores que podem fazer a ação de uma empresa valer R$ 150, enquanto a de outra é negociada por apenas R$ 2. Uma das principais curiosidades dos investidores em relação a este tema é sobre o menor valor a que uma ação pode ser negociada na bolsa. Será que uma ação pode chegar a R$ 0?

Neste artigo, vamos trazer a resposta a essa pergunta e, claro, também explicar um pouco melhor a dinâmica da precificação de ações. Ficou interessado em aprender? Então, acompanhe a leitura até o fim!

Preço no IPO vs. Preço na Bolsa

Antes de falar sobre o valor mínimo que uma ação pode chegar, você tem que entender que existem dois momentos para a definição do preço do papel.

Primeiro, há a definição do preço inicial, aquele que será praticado na oferta pública inicial (em inglês, IPO), quando a empresa emite e vende as ações para os investidores. Ele é definido pela empresa emissora, embora levando em conta o mercado e a demanda dos investidores.

Nesse momento, é claro, a ação não pode chegar a R$ 0 – não faria nenhum sentido lançar ações no mercado de graça. Porém, depois que a oferta inicial acaba e as ações são vendidas aos primeiros investidores, esse preço definido pela empresa emissora já não significa mais nada.

Depois, há o preço de negociação no mercado secundário, aquele que é praticado na bolsa de valores, quando investidores compram e vendem ações entre si.

O preço na bolsa varia a cada dia (ou melhor, a cada instante) e pode apresentar fortes flutuações, tanto em curto quanto em longo prazo. Ele é influenciado por vários fatores; por exemplo, ele pode disparar quando há algum movimento de especulação dos investidores, ou despencar quando aparece a notícia do envolvimento da empresa emissora em um escândalo de corrupção.

Vamos explicar com mais detalhes a definição do preço em cada um desses momentos nos próximos tópicos.

Como é definido o preço no IPO?

A definição de preço no IPO passa por um processo com várias etapas e bastante rigoroso, para garantir o sucesso na captação de recursos da empresa emissora. Justamente por isso, nenhuma empresa faz seu IPO sozinha; elas sempre têm o apoio de várias instituições financeiras de grande porte, especialmente bancos de investimentos, para organizar tudo.

De maneira resumida, a empresa faz um estudo do mercado financeiro e estabelece uma faixa de preços para suas ações.

Então, ela dá início ao bookbuilding, uma espécie de registro de reservas, em que cada investidor interessado envia sua oferta, indicando o valor que está disposto a pagar dentro da faixa de preços e a quantidade de papeis que pretende comprar.

Com as reservas encerradas, a empresa então usa essas informações para realizar uma análise da demanda do mercado por suas ações e, assim, estabelece o preço definitivo do IPO.

Como é definido o preço de negociação no mercado secundário?

No mercado secundário, o processo de definição do preço das ações pode ser resumido em uma relação bastante simples: oferta e demanda. No entanto, oferta e demanda são influenciadas por uma série de fatores, diretos e indiretos.

Um bom exemplo recente disso é o caso da IRB Brasil (IRBR3), a maior empresa de resseguro do país.

No primeiro semestre do ano de 2020, ela apareceu em notícias de jornais inúmeras vezes, por boas e más razões: suspeita de fraudes, demissão de diretor, decisão judicial exigindo garantia de R$ 1 bilhão, decisão judicial liberando da garantia de R$ 1 bilhão, elevação da recomendação das ações, rebaixamento da recomendação das ações, e assim por diante.

Sempre que uma nova notícia surge, ela afeta a demanda. Se a notícia é positiva, a demanda sobe e o preço dos papeis IRBR3 aumenta. Se a notícia é negativa, a demanda cai e o preço dos papeis vai junto.

É claro que nem sempre são as notícias que fazem o preço variar. Em alguns casos, a própria variação de preço afeta a variação de preço.

Isso ocorre principalmente em relação ao preço de curto prazo, devido à atuação de traders, os investidores que compram e vendem para realizar lucros imediatos.

Imagine que os traders percebem uma tendência de queda no preço de uma certa ação, o que significa que a oferta está maior do que a demanda. A essência do trading é comprar na baixa e vender na alta – em outras palavras, comprar por pouco e vender por muito.

Acontece que, quando os traders começam a comprar, eles fazem a demanda aumentar, e podem inverter a relação, tornando a demanda maior do que a oferta. Assim, eles pressionam os preços para uma tendência de alta.

Uma ação pode chegar a R$ 0?

Agora, chegamos ao que realmente interessa. Qual é o valor mínimo que uma ação pode chegar? Existe alguma situação em que uma ação pode chegar a R$ 0?

Já sabemos que, no momento do IPO, isso é impossível. Porém, no mercado secundário, se uma empresa estiver passando por um momento muito ruim ou se o comportamento dos investidores na bolsa pressionar o preço com força para baixo, as ações podem "virar pó"?

Na teoria, sim. Não existe uma barreira que impeça o preço de uma ação de chegar a zero.

Suponha, por exemplo, que Pedro compre as ações da empresa fictícia ABC Metais por R$ 2, acreditando que elas podem valorizar. Porém, elas não valorizam, a demanda não aumenta, e ele decide vender os papeis, mas as ofertas de compra só chegam a R$ 1.

O investidor que compra por R$ 1 também esperava por uma valorização, que não acontece. Então, ele acaba vendendo pela melhor oferta de compra, que é de R$ 0,50.

Isso continua, até o ponto em que simplesmente não existe outra oferta de compra para as ações da ABC Metais. O que acontece, então, é que o investidor que fica com essas ações tem um ativo que vale R$ 0, simplesmente porque ninguém está disposto a pagar nada por ele.

Um cenário como esse pode acontecer com empresas que estão passando por grandes crises, atravessando processos de recuperação judicial ou realizando uma reestruturação maciça. Em alguns casos, elas viram o jogo. Em outros, a empresa pode entrar em falência e aí, realmente, as ações não valem mais nada para negociação na bolsa. Mesmo assim, o acionista ainda tem o direito a receber da empresa o reembolso do capital pelas ações que detém.

Um exemplo de caso similar foi o da OGX, empresa de petróleo e gás do grupo EBX. Em 2010, suas ações eram negociadas por mais de R$ 20; em 2013, depois que a empresa informou que não podia extrair petróleo, o preço caiu ao patamar de R$ 0,10.

No entanto, é importante notar que, se uma empresa está em uma situação tão grave, ela não cruza os braços e deixa o barco afundar. Em vez disso, ela toma medidas buscando reforçar a confiança do mercado e dos investidores. Isso reaquece a demanda por suas ações, o que faz o preço voltar a subir.

Assim, na prática, é muito raro que o preço da ação realmente atinja zero.

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Sobre o autor
Luis Felipe Vieira
Mestre em Ciências Contábeis e profissional do mercado financeiro há mais de 20 anos se especializando em investimentos. Tem como sonho levar de forma simples e dinâmica a informação sobre o mercado financeiro para todos os brasileiros. Autor do livro "Indicadores no mercado financeiro", apresentador do RetornoCast, metido a youtuber e sócio da Mais Retorno.
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