Por que a Gafisa está retornando ao radar do mercado
Resultados são positivos, e houve crescimento do volume de negócios com o papel
A equipe de analistas do BBI Bradesco voltou a acompanhar de perto o desempenho da Gafisa, uma das principais incorporadoras e construtoras do País. Em relatório, os especialistas apontam alguns números saudáveis que vêm sendo apresentado pela companhia, mas ressaltam que ainda há incertezas e riscos. A empresa, no entanto, parece ter superado o seu pior momento desde o final de 2018.
O BBI fixou o preço-alvo do papel em R$ 5,50, o que representa uma valorização de 34% em relação ao seu valor de fechamento no pregão da última sexta-feira, dia 23: “A relação risco-retorno é equilibrada, e o rating foi classificado como neutro, mas o BBI vê evolução positiva em relação às metas de turnaround da atual gestão da Gafisa” indica o relatório.
Em sua prévia operacional do 2º trimestre de 202, a Gafisa informa R$ 201 milhões em vendas, o que representa alta de 386% em relação a igual período do ano passado. Em relação ao primeiro trimestre do ano, que registrou um total de R$ 163 milhões, o crescimento foi de 23%.
Já nos primeiros seis meses de 2021, as vendas da Gafisa somaram R$ 364 milhões, alta de 355% em relação ao primeiro semestre de 2020.
O BBI retomou a cobertura da empresa em decorrência do maior volume de negócios com suas ações, em torno de R$ 21 milhões por dia. Além do BBI, mais duas casas acompanham a empresa, a Nord Research e a Planner, que detém participação na incorporadora.
Os analistas do BBI reconhecem que o processo de turnaround está sendo bem-sucedido, com conquistas notáveis, embora haja um longo caminho para alcance dos objetivos. Uma das conquistas refere-se à redução da relação entre o endividamento e o patrimônio líquido, de 162% em 2019 para 40% atualmente. O que facilita a sua administração, ressaltam eles.
“Notamos que a administração atual pegou uma empresa devastada em 2019 e saneou as suas finanças, com um plano ambicioso para se tornar uma plataforma imobiliária mais ampla”, ressalta o relatório. Para tanto, a estratégia escolhida foi a diversificação com operações de Fusões e Aquisições (M&A), colocando na direção da empresa profissionais com larga experiência em M&A.
Mas é também esse caminho escolhido que oferece riscos, apontados no relatório, como a integração e sinergias de novas empresas nos processos de M&A.
E para ser incluído na lista de recomendação de compra do BBI, a Gafisa teria de atingir algumas metas, como retomada efetiva dos lançamentos residenciais, a concretização de sua estratégia de M&A, e a diversificação para propriedades geradoras de renda.
Os analistas do BBI consideram que as ações da Gafisa em termos de preço e situação da empresa, em mesmo nível que a Helbor, Moura Dubeux e a Mitre Realty Empreendimentos, mas fazem a ressalva de que oferecem mais riscos.
A evolução da Gafisa
Ainda de acordo com o relatório, a Gafisa é uma incorporadora de imóveis voltados para as classes de média e alta renda. Desde a sua fundação em 1954, a empresa entregou mais 1.100 projetos, em 19 Estados e 40 cidades.
Em 2006, a companhia fez o seu IPO, levantando mais de R$ 800 milhões, e apresentando crescimento até 2013. A crise econômica do País atingiu fortemente o setor e a empresa, que entrou em processo de desinvestimento incluindo a venda de 70% de Ahphaville e a cisão da Tenda em 2017.
Em setembro de 2018, a Gafisa passou a ser controlada pelo investidor coreano Mu Hak You que no período de apenas cinco meses promoveu um verdadeiro desmonte do quadro funcional da companhia, suspendeu pagamentos de fornecedores e renegociou contratos.
A administração desastrosa, que permaneceu por apenas cinco meses, até o início de 2019, resultou na paralisação de atividades da empresa e aumento da percepção de risco em relação à companhia.
A partir de então, a empresa iniciou no processo de reorganização até o atual processo de turnaround. As atividades foram retomadas apenas no terceiro trimestre de 2020. Até o fim do ano passado a empresa conseguiu lançar 5 projetos, com 215 unidades, com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 898 milhões, o melhor resultado desde 2016.