Petroleiras estão entre as maiores alta das Bolsa nos últimos dois anos; veja por que e quanto subiram
Alta do preço do barril do petróleo no mercado internacional é apontado pelos especialistas como um dos principais fatores
Nos últimos dois anos, as petroleiras que marcam presença na Bolsa de Valores têm registrado valorizações astronômicas, e segundo dados da Economatica, plataforma de informações financeiras, duas delas, a PetroRio e a Petrobras, lideraram as maiores altas no período.
Para se ter ideia, desde setembro de 2020, enquanto o Ibovespa subiu 7,20%, os papeis das empresas do setor dispararam. Os da PetroRio (PRIO3) subiram 210,3%; os de Petrobras não ficaram muito atrás subiram 179,88% (PETR3) e 164,70% (PETR4); e os da 3R Petroleum (RRRP3), 78,90%.
Em um ano, os números também são expressivos. Ao contrário da Bolsa, que caiu 8,27%, as ações dessas empresas avançaram 115,21% (PETR3), 104,42% (PETR4), 46,59% (PRIO3) - a única que seguiu na contramão foi a RRRP3, com queda marginal de 0,19%
Mas o que está por trás dessa valorização acentuada desses papeis? Segundo os especialistas entrevistados pela Mais Retorno, o fator principal foi a alta agressiva do preço do barril do petróleo no mercado internacional, que, segundo Simone Pasianotto, economista chefe da Reag Investimentos, está ligada ao desbalanceamento das contas internacionais, influenciadas, em um primeiro momento, pela pandemia e depois pela guerra na Ucrânia.
"O petróleo Brent disparou em relação ao seu patamar dos últimos dois anos. Saiu da média de US$ 60,00 e chegou a bater US$ 120,00. Dada à perspectiva de aumento da demanda, com restrição de oferta, as petroleiras acabaram contabilizando resultados bastante robustos no período - o que justifica os bons resultados dessas companhias no ambiente da Bolsa".
Simone Pasianotto, da Reag Investimentos
Petrobras e PetroRio: teses diferentes
De acordo com um relatório da Warren sobre as petroleiras, assinado por Frederico Nobre, head da área de análise da Warren, a Petrobras e a PetroRio têm teses diferentes.
"Enquanto a estatal pode melhorar sua alocação de capital e pagar bons proventos, as independentes estão em franco crescimento, adquirindo novos campos exploratórios e focadas em aumentar a produção".
Frederico Nobre, da Warren
Em contrapartida, a Petrobras não vai dobrar de tamanho - não consegue elevar em duas vezes a sua produção de 2,8 milhões de barris por dia - mas pode pagar dividendos acima de 10% ao ano, segundo Nobre.
A empresa está fazendo uma distribuição expressiva de proventos - no dia 20 deste mês paga R$ 3,36 por ação e R$ 1,53 por ação no pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP). Neste ano, segundo especialistas, o dividend yield projetado para a companhia pode chegar a 50%.
"As produtoras independentes não vão remunerar o acionista, mas podem crescer consideravelmente", ressalta.
Enquanto a Petrobras é responsável por 80% do petróleo produzido no Brasil, a PetroRio, que é a maior empresa independente de exploração e produção da commodity no País, possui cerca de 1,3% do tamanho da concorrente.
Victor Bueno, analista da Nord Research, destaca que tanto a PetroRio quanto a 3R Petroleum focam seus esforços em comprar campos maduros e explorá-los, mantendo a produção elevada com projetos de baixo custo, "o que resulta em crescimento dos resultados, e acaba beneficiando as ações".
Em seu relatório, Nobre enfatiza que a Petrobras está se desfazendo de vários ativos para focar no pré-sal, "vendendo até mesmo alguns campos cujo volume não justifica os esforços exploratórios, mas que são prato cheio para as independentes".
Com a aquisição do campo petrolífero de Albacora Leste da Petrobras, com o projeto de revitalização do campo do Frade e o desenvolvimento do campo de Wahoo, a PetroRio deve mais do que triplicar sua produção, de acordo com Bueno, cujo movimento já teve início - de 32 mil barris por dia, hoje atingiu o patamar de 50.000.
Em relação à 3R Petroleum, a produção diária, que atualmente está na casa de 12 mil barris por dia, deve ser multiplicada por oito no longo prazo, "após serem consolidados todos os campos adquiridos".
Em termos de gestão de custos, a PetroRio sai na frente, segundo Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos. "Por ser totalmente independente, sua gestão de custos é melhor do que a da Petrobras"
Ao mesmo tempo, a Petrobras, por estar presente na cadeia completa - do poço até a bomba - depende também de outros fatores domésticos e pode sofrer interferência política do governo, seu maior acionista. Recentemente, o governo interveio para que a empresa reduzisse o preço dos combustíveis.
Para Nobre, esse risco de ingerência já está precificado atualmente, "considerando o nível de desconto atual entre a estatal e as produtoras independentes quando comparamos o valor destas empresas em relação aos lucros esperados".
No entanto, acredito que esse risco adicional já esteja precificado atualmente, considerando o nível de desconto atual entre a estatal e as produtoras independentes quando comparamos o valor destas empresas em relação aos lucros esperados.
Vale a pena investir nessas ações?
Apesar de o preço do petróleo Brent - que baliza o desempenho das petroleiras no País - estar caminhando para um patamar mais acomodado, de US$ 90,00/barril, as ações das petroleiras seguem subindo.
"As empresas do setor de óleo e gás têm trazido bons resultados e, com isso, comprimindo os seus múltiplos. Com isso, o mercado voltou a olhar para elas".
Victor Bueno, da Nord
O analista destaca ainda que as perspectivas de crescimento da PetroRio e da 3R Petroleum deve elevar sua visibilidade e, com isso, levar a um potencial ainda maior de valorização de suas ações. "A soma de fatores como a elevação do petróleo e o aumento da produção rendem uma combinação que vai resultar em maior crescimento para essas companhias".
Em seu relatório, Nobre, da Warren destacou que o setor como um todo deve performar acima da média de mercado nos próximos três a cinco anos.
"Dada a natureza da tese, a Petrobras precisa fazer parte da estratégia. No entanto, acredito também que existem duas empresas produtoras independentes de menor porte que notoriamente possuem capacidade para se destacar mais do que as outras: a PetroRio e a Petro Recôncavo".
No entanto, na visão da economista da Reag, a expectativa é de que essa forte onda de alta desses papeis perca a força a partir deste semestre e em 2023, com o reequilíbrio das cadeias internacionais, "apesar de ainda haver dúvidas sobre a guerra na Ucrânia".
Já Felipe Leão, da Valor, acredita que as ações das petroleiras devem continuar ainda sendo procuradas pelos investidores. "Ainda temos uma crise energética na Europa e, mesmo com a energia renovável em alta, o petróleo sempre vai se manter em destaque".
Posição do Brasil no mercado global de petróleo
Até o final desta década, o Brasil, que ainda é um país que tem uma produção insuficiente da commodity, deverá ampliar sua condição de exportador líquido do petróleo, "muito em função das reservas do pré-sal", aponta o analista da Warren.
"Projeta-se que, em 2030, as exportações brasileiras alcançarão 3,4 milhões de barris/dia, cerca de 65% da produção nacional do ano. Esse volume expressivo poderá colocar o Brasil como um dos cinco maiores exportadores do mundo, o que elevaria a importância e relevância do país no quadro geopolítico da indústria mundial do petróleo".
Frederico Nobre, da Warren
Além disso, Nobre aponta que o lifting cost (custo de extração de petróleo) reduzido e a qualidade do óleo brasileiro "nos colocam em uma posição estratégica no segmento para os próximos anos".
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